21º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Js 24,1-2.15-18; Sl 33[34]; Ef 5,21-32; Jo 6,60-69)*

1. É certo que o amor de Deus é gratuito e antecipa-se a qualquer gesto ou mérito do ser humano, mas o ser humano não pode ficar inerte diante de tudo isto; deve aceitar livremente e ratificar esta escolha, escolhendo por sua vez a Deus. O monólogo do amor de Deus deve se tornar diálogo, graças à resposta do ser humano.

2. Para ilustrar essa realidade, a liturgia escolheu duas passagens que descrevem o momento dramático em que Deus exige abertamente do ser humano esta escolha. A 1ª diz respeito a relação de Deus com o seu povo no Antigo Testamento.

3. Deus escolheu um povo e cumulou de benefícios; conduzi-os pelo deserto. Agora que devem tomar posse da terra prometida, exige dele uma decisão: A quem escolheis: ao Senhor ou aos deuses estrangeiros? Aqueles deuses que exigem menos, são mais cômodos, não proíbem isto ou aquilo, não se opõem ao roubo, ao adultério e ao homicídio.

4. A prova é real, não fictícia. E o povo naquele dia responde: “Escolhemos a Deus” e assim o povo pôde tomar posse da Terra Prometida.

5. No Evangelho encontramos uma experiência análoga. Jesus escolheu discípulos, tornou-se um pai para eles, alguns eram pecadores, um publicano, um zelote, isto é, gente à margem da Lei e da religião hebraica. Chegou também para eles o momento de dar sua resposta à dramática alternativa: escolher.

6. Estão livres; de fato alguns se retiram, outros ficam. Ficam os Doze que formarão a Igreja, mas ficam não mais como antes, sem compromisso; agora sabem que escolheram a Ele para a vida e para a morte. E isso também nos diz respeito.

7. Escolhemos a Deus desde o nosso batismo. Mas nossas escolhas são instáveis, modificam-se por ser mutável a natureza humana; nada há de definitivo e irreversível em nossa vida a não ser a morte; temos sempre a tentação de depois de ter posto a mão no arado voltar atrás (Lc 9,62).

8. Oscilamos continuamente entre dois polos de atração que são Deus e o mundo. E eis, então, que tomam posse em nosso coração os ídolos; há um bezerro de ouro em cada ser humano. Basta que nos escutemos enquanto falamos para descobrir qual é este ídolo, já que – como disse Jesus – a boca fala do que o coração está cheio (cf. Mt 12,34).

9. E Deus detesta essa ambiguidade de quem serve a dois senhores. Mesmo em meio a essa luta pessoal, é preciso renovar esta escolha fundamental, feita a partir do nosso batismo, nos momentos de crise, quando tal escolha é necessária para continuar a ficar com clareza ao lado de Cristo. A cada domingo queremos renovar essa aliança!

10. Porém, não somente nos momentos de crise pessoal, mas também nos momentos de crise de uma sociedade inteira e de uma cultura, como a que estamos vivendo. A pergunta de Jesus se faz muito presente em nosso tempo.

11. Vivemos uma época de decisão em que não é mais possível ser cristão por tradição ou porque o foram os pais. É preciso escolher. Muitos de nós parecem não ter se dado conta disto, porque continuam a dobrar o joelho a Deus e a outras divindades.

12. A quem decide reoptar por Deus, a mesma leitura bíblica sugere o primeiro passo: tirar os deuses estranhos que estão no meio de vós. Cada um procure identificar seu ídolo, aquele que em seu coração tenta ocupar o altar de Deus. Geralmente, este é o assunto mais discutido entre nós.

13. Neste momento nossa escolha deve tomar um caráter coral, como na comunidade do Antigo Testamento ou mesmo em Cafarnaum. Como comunidade cristã reunida para a assembleia eucarística, a fazer juntos essa escolha, a reafirmar que queremos seguir a Jesus. Que acreditamos em Deus Pai!

Com base em texto de Raniero Cantalamessa 

Pe. João Bosco Vieira Leite