22º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Dt 4,1-2.6-8; Sl 14[15]; Tg 1,17-18.21-22.27; Mc 7,1-8.14-15.21-23)*

1. Estamos retomando o evangelho de Marcos com essa informação sobre as tradições judaicas que parecem normas de higiene, mas estão relacionadas a pureza ritual, ou exterior, como expressão ou busca de santidade diante de Deus.

2. Os fariseus e mestres da Lei observaram que os discípulos de Jesus não seguiam tais ritos, chamando a atenção de Jesus para tal situação, é quando Jesus aproveita a ocasião para trazer algum ensinamento, provocando a maneira de viver o externo, esquecendo do interno.

3. Brota aqui um ensinamento para todos os tempos que quer chamar a atenção daqueles que dão mais importância aos gestos e aos ritos exteriores do que a disposição do coração, particularmente no campo religioso. Mais preocupados em aparecer que ser. Em síntese: a hipocrisia, o ‘farisaísmo’, o formalismo.       

4. Estamos demasiadamente preocupados com a poluição exterior e física da atmosfera, da água, e de tantos outros fenômenos em nosso planeta, enquanto assistimos a um silêncio quase absoluto da poluição interior e moral.

5. Hoje se faz um escarcéu porque alguém agrediu um animal, e muito pouco ou quase nada por um ser humano agredido injustamente ou fazemos de conta de não perceber o quanto muitas crianças são precocemente viciadas ou despertadas por uma camada de malícia que se estende em toda a sociedade.

6. Se hoje nos preocupamos tanto com a questão da qualidade do que comemos, do que ‘entra’, não temos a mesma preocupação do que sai da nossa boca: palavras afiadas, violentas ou mesmo falsas. Não mereceríamos de Cristo o título de ‘hipócritas’?

7. Não se trata aqui de opor uma coisa a outra. Tudo tem sua devida importância. Jesus não disse que eles estavam errados quanto ao que observavam. Disse apenas que isto só não basta; não se chega à raiz do mal. Para reconstruir a causa de um incêndio, se busca individualizar o lugar onde começou a chama...

8. A busca, neste caso, nos leva invariavelmente a um ponto preciso: o coração humano, seu egoísmo, sua cobiça, inveja, ou ao menos a sua desatenção e negligência. Jesus propõe curar o coração, que é a fonte de tudo.

9. Na criação não há nada, em si, de ‘mau’, de ‘pecaminoso’. Os animais ferozes, os fenômenos naturais podem ser nocivos, mas nunca maus. A maldade é só do ser humano que possui a liberdade. Diz o autor do Gênesis que antes de Adão pecar, ‘tudo era bom’.

10. Assim nos resta uma atenção para conosco mesmo, nossa família. Jesus aponta aquelas coisas que não nos ajudam e que deveríamos remover de nosso coração. Isso se conquista pelo exercício das virtudes. Numa luta pessoal que exige também um constante exame de consciência.

11. Na relação com os outros, no âmbito familiar, onde fragilidades e defeitos se revelam facilmente, é preciso saber desculpar e saber esperar, trazer à luz mais o positivo que o negativo, na espera que a pessoa descubra o que não está bem em suas atitudes.

12. Isso não exclui o diálogo e a correção fraterna feita com amor. O desculpar-se deve ser recíproco para infundir confiança e coragem. Ajuda a recomeçar. Existem casais que não aprenderam a pedir desculpa a partir do coração. Pensemos no que nos diz Jesus: “O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior”. Puro ou impuro, cabe a nós o que queremos ser...

* Com base em texto de Raniero Cantalamessa.        

Pe. João Bosco Vieira Leite