(Is 45,1.4-6; Sl 95[96]; 1Ts 1,1-5; Mt 22,15-21)
1. O Evangelho de hoje termina
com uma daquelas frases lapidares de Jesus que deixaram um sinal profundo na
história: “Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”.
2. Estamos em mais uma dessas
situações em que dois grupos rivais se unem contra Jesus. Os fariseus eram
nacionalistas, contrários ao domínio romano, os herodianos, por sua vez,
colaboracionistas e apoiavam o poder romano. Assim, ou Jesus se posicionava a
favor do povo ou dos romanos.
3. Jesus manda tudo pelos ares
com uma resposta que põe o problema num nível infinitamente mais profundo e
universal. Não é mais ou Cesar ou Deus, mas um e outro, cada um em seu plano.
Se seus adversários trazem consigo uma moeda romana, admitem implicitamente que
algo lhes é favorável do poder imperial.
4. Os hebreus concebiam o futuro
Reino de Deus instaurado pelo Messias como uma teocracia, isto é, um governo
diretamente de Deus sobre toda terra e todos os povos. Mas Jesus deixa
transparecer que o Reino de Deus não é deste ou daquele modo, mas que em sua
amplitude pode coexistir com qualquer outro regime, seja do tipo sacro ou
laico.
5. Porém, Cesar e Deus não são
colocados sobre um mesmo plano, porque Cesar depende de Deus e deve prestar
conta a Ele. As Escrituras deixam isso bem claro. Não estamos divididos entre
duas pertenças; não somos constritos a servir a ‘dois patrões’. O cristão é
livre para obedecer ao estado, mas também de resistir a esse quando se coloca
contra Deus e sua lei.
6. Paulo deixa claro em sua
carta aos Romanos (13,1ss) o dever de obediência ao governo em voga, mesmo este
não sendo favorável aos cristãos. Pagar impostos para um cristão, e mesmo para
qualquer pessoa honesta, é um dever de justiça. Em contrapartida, o estado deve
prover os serviços necessários aos cidadãos.
7. Durante os três primeiros
séculos da era cristã, não houve participação ativa dos cristãos na política.
Estes viviam dispersos e mais ocupados com a expansão do cristianismo. Será em
313, com o edito de Constantino que os cristãos vieram não somente a ser
tolerados e com o tempo também detentores de poder.
8. A liberdade para a vivência
do cristianismo é alcançada em todos os setores, mas traz consigo vários riscos
graves: intolerância, abuso de poder, abandono da simplicidade e radicalidade
evangélica, etc. É nessa época que muitos cristãos começam a deixar as cidades
e se refugiarem em lugares desertos, dando origem ao monaquismo.
9. Sabemos, ao longo do tempo,
dos inconvenientes desse abraço estreito entre Cesar e Deus, entre religião e
política, e o descrédito que acaba repercutindo na missão da Igreja, os
ressentimentos e os obstáculos para a evangelização.
10. Hoje, os cristãos vivem
espalhados em todas as realidades e componentes políticos da sociedade, com a
possibilidade de serem, de maneira bastante discreta, mas eficaz, ‘sal da
terra’ e ‘fermento na massa’. Nesta situação, a colaboração dos cristãos se faz
necessária na construção de uma sociedade justa e pacífica e sobretudo em torno
de valores comuns, como a família, a defesa da vida, a solidariedade com os
mais pobres, a paz.
11. A grandeza de um político se
mede sobretudo pela sua capacidade de saber deixar em segundo plano os
interesses pessoais. ‘Político’, vem de pólis, aquele que está a serviço da
cidade, do estado, não da sua família e dos seus próprios interesses. Sabemos
onde reside a raiz de vários problemas em nossa sociedade.
12. Contribuímos com a
restauração de nossa sociedade política não somente com o voto, mas também com
a oração. Na 1ª Carta a Timóteo (2,1ss), Paulo recomendava a oração por todos
que estão no poder, para que tenhamos uma vida calma e tranquila com toda
piedade e dignidade. Será que nós lembramos de incluir essa classe em nossas
orações?