(Rm 4,20-25; Sl Lc 1; Lc 12,13-21) 29ª Semana do Tempo Comum.
“Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer?’ Não tenho onde guardar a
colheita’” Lc 12, 17.
“Um outro modo de aconselhar um
novo comportamento é praticado por Lucas ao contar parábolas. Nas parábolas,
trata-se muitas vezes da questão: ‘O que devo fazer?’ É a pergunta que tanto o
fazendeiro rico (Lc 12,17) como o gerente astuto se colocam (16,3). Nessas
parábolas trata-se da questão de qual é maneira certa de lidar com a
propriedade. Para Lucas, o grego, isso é assunto importante. Lucas é o
evangelista dos pobres. Como nenhum outro evangelista, ele gira em torno de
temas como pobreza e riqueza, propriedade e renúncia, comunhão de bens e
obrigação social. O próprio Lucas nasceu provavelmente numa família de classe média
abastada. Mas ele tem evidentemente uma forte consciência social. Para ele é
importante a mensagem de que os cristãos não devem se apegar às suas posses,
mas repartir com os pobres o que possuem. Quem ajunta riqueza só para si mesmo
não entendeu a intenção de Jesus, nem sabe do mistério da vida humana, cujo
limite é a morte. Quem toma a sério sua existência humana sabe que não poderá
ajuntar aqui nenhum tesouro permanente. A riqueza material se desfaz com a
morte. Por isso, trata-se de ficar rico diante de Deus. Isso, porém, acontece
pelo amor, que se expressa concretamente na partilha das posses. De Sêneca a
Hofmannsthal, do livro de Sirácida a Luciano de Samosata foram contadas
histórias semelhantes à do fazendeiro rico (Lc 12,13-21). Em Luciano, o agiota
Gnifão, já no subterrâneo da morte, fica sabendo como ‘seu dinheiro,
penosamente ganho, em pouco tempo é esbanjado pelo libertino Rodócoris’
(Heininger, p.116). O tema da distribuição da renda é hoje tão moderno como
naquele tempo. Os cristãos não deveriam entregar-se a cobiça, como os
especuladores das bolsas; deveriam tornar-se ricos diante de Deus (Lc 12,21). A
verdadeira riqueza está dentro de nós. O tesouro está na nossa alma. É o amor;
e o amor é a substância fluida. Porém, somente fluirá quando também o dinheiro
fluir; isto é, quando repartirmos os nossos bens” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser
humano – Loyola).