Segunda, 23 de outubro de 2023

 (Rm 4,20-25; Sl Lc 1; Lc 12,13-21) 29ª Semana do Tempo Comum.

“Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer?’ Não tenho onde guardar a colheita’” Lc 12, 17.

“Um outro modo de aconselhar um novo comportamento é praticado por Lucas ao contar parábolas. Nas parábolas, trata-se muitas vezes da questão: ‘O que devo fazer?’ É a pergunta que tanto o fazendeiro rico (Lc 12,17) como o gerente astuto se colocam (16,3). Nessas parábolas trata-se da questão de qual é maneira certa de lidar com a propriedade. Para Lucas, o grego, isso é assunto importante. Lucas é o evangelista dos pobres. Como nenhum outro evangelista, ele gira em torno de temas como pobreza e riqueza, propriedade e renúncia, comunhão de bens e obrigação social. O próprio Lucas nasceu provavelmente numa família de classe média abastada. Mas ele tem evidentemente uma forte consciência social. Para ele é importante a mensagem de que os cristãos não devem se apegar às suas posses, mas repartir com os pobres o que possuem. Quem ajunta riqueza só para si mesmo não entendeu a intenção de Jesus, nem sabe do mistério da vida humana, cujo limite é a morte. Quem toma a sério sua existência humana sabe que não poderá ajuntar aqui nenhum tesouro permanente. A riqueza material se desfaz com a morte. Por isso, trata-se de ficar rico diante de Deus. Isso, porém, acontece pelo amor, que se expressa concretamente na partilha das posses. De Sêneca a Hofmannsthal, do livro de Sirácida a Luciano de Samosata foram contadas histórias semelhantes à do fazendeiro rico (Lc 12,13-21). Em Luciano, o agiota Gnifão, já no subterrâneo da morte, fica sabendo como ‘seu dinheiro, penosamente ganho, em pouco tempo é esbanjado pelo libertino Rodócoris’ (Heininger, p.116). O tema da distribuição da renda é hoje tão moderno como naquele tempo. Os cristãos não deveriam entregar-se a cobiça, como os especuladores das bolsas; deveriam tornar-se ricos diante de Deus (Lc 12,21). A verdadeira riqueza está dentro de nós. O tesouro está na nossa alma. É o amor; e o amor é a substância fluida. Porém, somente fluirá quando também o dinheiro fluir; isto é, quando repartirmos os nossos bens” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

 
Pe. João Bosco Vieira Leite