(Is 5,1-7; Sl 79[80]; Fl 4,6-9; Mt 21,33-43)
1. Essa parábola que acabamos de
escutar resume a trágica decisão de Israel, simbolizado pela vinha, em rejeitar
a Jesus como Filho de Deus. Brevemente Ele virá capturado, levado para fora da
cidade e crucificado. A alusão é bastante clara. Como em outras ocasiões, Jesus
deixa que a conclusão seja tirada pelos que o escutam.
2. Comentaristas e pregadores
interpretam frequentemente a parábola de Jesus como a reafirmação da Igreja
cristã como o ‘novo Israel’ depois do povo judeu, que, com a destruição de Jerusalém
no ano 70, se dispersou pelo mundo. E assim temos a separação definitiva entre judaísmo e cristianismo.
3. São João Paulo II, em 1986,
havia criado um encontro dedicado ao diálogo entre as várias religiões na
cidade de Assis. Esse fato nos lembra que é preciso tomar certo cuidado com uma
interpretação simplista e triunfalista desta e de outras páginas do Evangelho
que contribuíram para uma certa rejeição dos judeus.
4. Sem perdemos de vista as
certezas da fé que brotam do Evangelho no que diz respeito ao cristianismo, por
outro lado, o espírito que brota desse mesmo Evangelho nos lembra esse amor que
sempre envolveu a Cristo e ao povo eleito como continuação desse amor de Deus
Pai.
5. Essa história do Antigo
Testamento marcada por altos e baixos, não impediu a Deus de continuar amando a
Israel e velar sobre ele. E dentro de todo o discurso paulino há uma
compreensão que mesmo essa aparente rejeição anunciada por Cristo não será algo
definitivo. Ele era plenamente consciente dessa raiz de onde brotava o
cristianismo.
6. Se todos os cristãos, no
passado, tivessem esse mesmo sentimento em seus corações ao falarem dos
hebreus, talvez a história tivesse tido um rumo bem diferente.
7. Atualizando o nosso texto,
José Pagola, um teólogo biblista espanhol nos lembra que a parábola está
falando também de nós. Uma leitura honesta do texto nos obriga a fazer-nos
graves perguntas: estamos produzindo em nosso tempo ‘os frutos’ que Deus espera
de seu povo: justiça, solidariedade, compaixão com os que sofrem, perdão...?
8. Deus não tem por que bendizer
um cristianismo estéril, do qual não recebe os frutos que espera. Não tem por
que identificar-se com nossa mediocridade, com nossas incoerências, desvios e
pouca fidelidade.
9. Se não correspondermos às
suas expectativas, Deus continuará abrindo caminhos novos para seu projeto de
salvação com outras pessoas que produzam frutos de justiça.
10. Nosso tempo traz falas em
termos de ‘crise religiosa’, ‘descristianização’, ‘abandono da prática
religiosa’... E isso não diz respeito somente a Europa.
11. Não estará Deus preparando o
caminho que torne possível o nascimento de uma Igreja menos poderosa, mas mais
evangélica; menos numerosa, mas mais dedicada a construir um mundo mais humano?
Não virão novas gerações mais fiéis a Deus do que nós?
Pe. João Bosco Vieira Leite