(Is 25,6-10; Sl 22[23]; Fl 4,12-14.19-20; Mt 22,1-14)
1. Esta
parábola, como outras que escutamos, tem, antes de tudo, uma aplicação
histórica precisa. Os convidados de direito eram os hebreus que haviam
esperados séculos pelo advento no Reino messiânico, aqui representado pela
festa de casamento, enquanto os convidados ao improviso são os excluídos de um
tempo (publicanos, pecadores) e sobretudo os convertidos do paganismo. São os
chamados operários da última hora.
2. Mas
dessa vez vamos deixar de lado o sentido histórico imediato da parábola e
busquemos recolher o seu núcleo perenemente atual. Concentremos a nossa atenção
nos motivos de recusa que os primeiros convidados apresentam para não irem à
festa.
3. Mateus
nos diz que os convidados não deram a menor atenção: se ocuparam e até agiram
com violência. Lucas nos traz mais detalhes dessa mesma narrativa: um havia
comprado um campo e precisa vê-lo; o outro havia comprado cinco juntas de boi e
precisava testá-los; outro havia acabado de se casar e assim vão se
justificando.
4. O que é
comum a esses personagens? Os três têm alguma coisa urgente para fazer, algo
que não pode esperar, que reclama sua presença. O que representa a festa de
casamento: os bens messiânicos, a salvação trazida por Cristo, a possibilidade
da vida eterna. A festa de casamento representa a única coisa importante: “que
adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?”
5. O erro
dos convidados consiste em trocar o importante pelo urgente, o essencial pelo
contingente. Esse é um risco muito presente em nossa vida, não só sob o plano
religioso, mas também humano. É bom refletir um pouco sobre o mesmo.
Particularmente no plano religioso.
6. Trocar o
importante pelo urgente no plano espiritual significa remandar continuamente o
cumprimento dos deveres religiosos, cada vez que se apresenta qualquer coisa de
urgente a ser feita. Quantas vezes não já remandamos a nossa missa dominical
por algumas dessas urgências... A missa pode esperar... Não está no topo da
lista...
7. Para
outros vem a vida de oração. Mesmo sabendo que precisam de um tempo de
qualidade para essa, mas tem sempre algo que toma esse tempo. O problema é que
de coisas urgentes, ou supostamente urgente, temos um monte e assim terminamos
por remandar nossos deveres espirituais por preocupações materiais.
8. O
próprio Lucas nos oferece um bom exemplo: Jesus chega na casa de Marta e Maria.
Marta se vê às voltas com os cuidados da casa e Maria não deixa escapar a
preciosa presença de Jesus. Quando Marta lamenta a falta de ajuda da irmã a
resposta de Jesus vem como um bisturi mostrando a diferença entre o importante
e o urgente.
9. Uma só
coisa é absolutamente importante e necessária na vida: ganhar Deus e com ele a
vida eterna; negligenciar isto por pequenos afazeres, mesmo que urgentes, é uma
insensatez, é perder o todo. Na vida podemos fracassar de muitos modos: como
esposo ou esposa, como pai ou mãe, como trabalhador, como artista..., mas são
todos fracassos relativos.
10. Alguém
pode falhar em todos esses campos e mesmo assim ser alguém digno de estima.
Alguns santos foram um fracasso na vida. Mas quando se trata de Deus, o
fracasso aqui é radical, sem retorno.
11. No
campo humano propriamente dito, na vida de cada dia, é importante dedicar tempo
à família, estar com os filhos, dialogar com esses e com o cônjuge. Visitar os
pais idosos, estejam em casa ou numa casa de repouso. Visitar um conhecido
enfermo, expressando nossa solidariedade... Cuidar da própria saúde... não são
coisas que devam ser adiadas.
12. Assim
podemos ver como o Evangelho, indiretamente, é também escola de vida; nos
ensina a estabelecer prioridades a buscar o essencial. Não deixe o importante
pelo urgente, nos lembra a parábola. Essa festa de casamento que nos fala o
texto se renova a cada domingo em nossa celebração... oxalá estejamos atentos
às desculpas que vamos arranjar...
Pe. João
Bosco Vieira Leite