(Ne 2,1-8; Sl 136[137]; Lc 9,57-62) 26ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Quem põe a mão no
arado e olha para trás
não está apto para o Reino de Deus” Lc 9,62.
“Seminários já usaram esse versículo como incentivo
(ou chantagem?) para alunos de cursos preparatórios para o ministério
sacerdotal, constituindo-se desse modo na filosofia do arado, no dizer de
Donald Schuler. O texto, porém, não fala de preparo de pregadores. Fala
de seguir a Cristo, e aí a imagem é 100% condizente. Nos tempos antigos, o arado
era feito de madeira e, consequentemente, muito frágil. Qualquer toco ou pedra
no meio dos sulcos poderia danificá-lo caso a pessoa que o manejasse fosse
descuidada. Olhar para trás significava expor o instrumento e danos talvez
irreparáveis. O arado, é claro, não é o Reino de Deus, que ficaria destruído
com o mau uso. A displicência e o desprezo, patentes no mau arador, que o
desabilitariam para a função, é o que também torna a pessoa incapacitada para o
Reino de Deus. Mas o que é esse tal Reino de Deus, tão falado e, na maioria das
vezes, mal explicado? Ele não é visível, mas está em nosso meio. Ele chega
junto com Jesus. Por isso, não se impõe de modo violento, pois Jesus significa
a misericórdia de Deus, que se manifesta pela remissão dos pecados e pela realização
radical do amor (Dicionário Enciclopédico das Religiões. Ed. Vozes, p. 2.186).
Esse Reino é anunciado por sinais, mas, especialmente, pela pregação do
Evangelho da graça, o favor imerecido que os seres humanos recebem de Deus. E
aí entra novamente o arado. Se esse favor é graça imerecida, por que tratá-lo
com desdém, por que espezinhá-lo ou deixa-lo quebrar-se como um frágil arado
olhando para trás como se ele fosse um brinquedo inútil? – Senhor
Jesus, somos continuamente chamados para teu Reino, que é um reino de paz,
amor, vida e salvação. Ele é tão gratuito-gracioso que nos sentimos tentados a
acha-lo de nenhum valor. Lembra-nos do arado. Amém” (Marcos Daniel de Moraes Ramalho –
Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).
Pe.
João Bosco Vieira Leite