Quarta, 04 de outubro de 2023

(Ne 2,1-8; Sl 136[137]; Lc 9,57-62) 26ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás

não está apto para o Reino de Deus” Lc 9,62.

“Seminários já usaram esse versículo como incentivo (ou chantagem?) para alunos de cursos preparatórios para o ministério sacerdotal, constituindo-se desse modo na filosofia do arado, no dizer de Donald Schuler.  O texto, porém, não fala de preparo de pregadores. Fala de seguir a Cristo, e aí a imagem é 100% condizente. Nos tempos antigos, o arado era feito de madeira e, consequentemente, muito frágil. Qualquer toco ou pedra no meio dos sulcos poderia danificá-lo caso a pessoa que o manejasse fosse descuidada. Olhar para trás significava expor o instrumento e danos talvez irreparáveis. O arado, é claro, não é o Reino de Deus, que ficaria destruído com o mau uso. A displicência e o desprezo, patentes no mau arador, que o desabilitariam para a função, é o que também torna a pessoa incapacitada para o Reino de Deus. Mas o que é esse tal Reino de Deus, tão falado e, na maioria das vezes, mal explicado? Ele não é visível, mas está em nosso meio. Ele chega junto com Jesus. Por isso, não se impõe de modo violento, pois Jesus significa a misericórdia de Deus, que se manifesta pela remissão dos pecados e pela realização radical do amor (Dicionário Enciclopédico das Religiões. Ed. Vozes, p. 2.186). Esse Reino é anunciado por sinais, mas, especialmente, pela pregação do Evangelho da graça, o favor imerecido que os seres humanos recebem de Deus. E aí entra novamente o arado. Se esse favor é graça imerecida, por que tratá-lo com desdém, por que espezinhá-lo ou deixa-lo quebrar-se como um frágil arado olhando para trás como se ele fosse um brinquedo inútil? – Senhor Jesus, somos continuamente chamados para teu Reino, que é um reino de paz, amor, vida e salvação. Ele é tão gratuito-gracioso que nos sentimos tentados a acha-lo de nenhum valor. Lembra-nos do arado. Amém” (Marcos Daniel de Moraes Ramalho – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite