(Zc 8,20-23; Sl 86[87]; Lc 9,51-56) 26ª Semana do Tempo Comum.
“Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o
céu.
Então ele tomou a firme decisão de partir para
Jerusalém” Lc 9,51.
“O que diferencia o evangelho lucano de seu modelo
em Marcos é o chamado ‘Relato da viagem’, que vai de Lucas 9,51 até Lucas
19,27. Nesse relato, Lucas pinta Jesus como aquele que está a caminho para
Jerusalém, a cidade na qual deverão se cumprir todas as promessas de Deus. O
caminho para Jerusalém, no entanto, é para Jesus também para o sofrimento, a
morte e a ressurreição. No seu ‘Relato da viagem’ Lucas descreve o caminho de
Jesus como exemplo para o nosso caminho. Jesus é o guia da vida. Ele nos
precede. A nossa tarefa consiste em segui-lo. Assim também o nosso caminho há
de levar à verdadeira vida. Não apenas no ‘Relato da viagem’, mas em todo o seu
evangelho Lucas descreve Jesus como viandante divino. Jesus desce do céu para
andar com os homens, e para sempre de novo ser recebido nas suas casas. É um
tema tipicamente grego. Os mitos gregos narram sobre deuses que aparecem em
forma humana, e visitam os homens a fim de sondar sua mentalidade, e para lhes
dar presentes. Lucas retoma esse tema, mas é para transformá-lo. Jesus não
examina os humanos; ensina-os e prova-lhes a amorosa atenção de Deus. Em Jesus,
é o próprio Deus quem visita os humanos. Já se ouve duas vezes o tema da visita
de Deus no hino de Zacarias: ‘Visitou seu povo, preparando-lhe a redenção’ (Lc
1,68); ‘A misericordiosa ternura de nosso Deus há de nos mandar do alto a
visita do sol nascente’ (Lc 1,78). Na ressurreição do jovem de Naim o povo
reconhece: ‘Um grande profeta se ergueu no meio de nós, e Deus visitou o seu
povo’ (Lc 7,16). O sentido literal da palavra ‘episkeptomai’, ‘visitar’, seria
‘ver’, ‘supervisionar’, ‘olhar para’, ‘observar’. Na imaginação dos gregos,
portanto, foi em Jesus que Deus veio para a terra, a fim de observar o ser
humano mais cuidadosamente, e para lhe proporcionar um horizonte mais amplo.
Jesus veio do céu para junto de nós a fim de nos lembrar do nosso núcleo
divino. Isso é um tema da filosofia grega. Cada ser humano é uma ideia de Deus.
Mas nós obscurecemos e desfiguramos essa ideia. Jesus veio até nós, da parte de
Deus, e ele olha para nós, para que nos tornemos novamente capazes de enxergar
direito, de descobri em nós o núcleo divino e de entrar assim em contato com
nossa verdadeira essência” (Anselm
Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).
Pe.
João Bosco Vieira Leite