30º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Ex 22,20-26; Sl 17[18]; 1Ts 1,5-10; Mt 22,34-40)

1. Novamente os fariseus estão cerceando Jesus com suas perguntas. Desta vez sobre o maior dos mandamentos da Lei. A primeira parte da resposta de Jesus seria suficiente, mas ele acrescenta um outro, semelhante ao primeiro que reúne ao amor a Deus o amor ao próximo, resumindo, assim, toda Lei e os profetas.

2. Sobre o amor a Deus, temos uma certa noção. Perseguimos, por assim dizer, estar à altura desse amor. Com relação ao próximo, Jesus nos coloca como diante de um espelho ao qual não podemos mentir; facilmente podemos perceber se amamos ou não ao próximo.

3. Mateus traduz de maneira clara: ‘Aquilo que você gostaria que fizessem a você, é aquilo que você deve fazer ao outro’ (cf. Mt 7,12). E não aquilo que o outro te fizer, faça você a ele. Isso seria a lei do ‘olho por olho, dente por dente’.

4. Quanta coisa mudaria, na família e na sociedade, se buscássemos praticar esta que vem chamada ‘regra de ouro’ da moral! Para isso, bastaria perguntar-nos em cada situação: como gostaria que ele agisse comigo, se fosse eu em seu lugar e ele no meu? 

5. Jesus considerava o amor ao próximo como o ‘seu mandamento’. Muitos identificam o inteiro cristianismo com o preceito do amor ao próximo, e não estão completamente errados. Mas precisamos ir um pouco além da superfície das coisas.

6. Quando se fala do amor ao próximo, o pensamento que nos vem são as obras de caridade, marcadas pelas necessidades humanas que se resumem em ajudar ao outro. Isto é um efeito do amor, mas não é ainda amor. Antes da beneficência vem a benevolência, antes de fazer o bem, vem o querer bem. 

7. Paulo diz que a caridade deve ser sem fingimento. De fato, se pode fazer a caridade por vários motivos, que nada tem a ver com o amor: para ‘parecer bem na fita’, para se passar por benfeitor, para ganhar o paraíso, por peso de consciência. Paulo dirá: “O amor tem paciência, o amor é serviçal, não é ciumento, não se pavoneia, não se incha de orgulho, nada faz de inconveniente, não procura o próprio interesse...” (cf. 1Cor 13,4-7).

8. Paulo nos fala de uma disposição interior que é necessário nutrir em relação ao outro. Não se trata de contrapor o amor de coração e a caridade de fato, achando que basta ter boa disposição interior para justificar a falta de uma caridade efetiva e concreta.

9. Essa caridade do coração ou interior é a caridade que todos podem exercitar. Não é uma caridade que alguns – os ricos e sãos – podem dar aos outros – e os pobres e doentes – só recebem. Todos podem fazê-la e recebê-la. Se trata de começar a olhar com olhos novos as situações e as pessoas com quem nos encontramos e vivemos.

10. Que olhar é esse? Aquele com que gostaríamos que Deus olhasse a nós! Olhar de benevolência, de compressão, de perdão... Não deveria ser assim tão difícil tal olhar. Diante do sofrimento, da doença, da morte, deveríamos naturalmente manifestar piedade uns aos outros, enternecer-nos e solidarizar-nos entre nós nesta breve existência.

11. Quando isto nos ocorre, as relações mudam: caem por terra todas as prevenções e hostilidades que nos impedem de amar certas pessoas. Começamos a enxergar a realidade, para além das máscaras, de uma pobre criatura humana que sofre por suas fraquezas e limites, igual a você, igual a todos. 

12. Se diz que João, o evangelista, o mais longevo dos apóstolos, em todas as reuniões que fazia repetia: ‘Filhinhos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus!’. Quando questionado por tanta repetição, ele respondia: ‘Porque este é o preceito do Senhor e se o colocamos em prática, colocamos em prática todo o evangelho’.

13. Todos nós sonhamos com um mundo reconciliado e em paz, onde cada pessoa vem reconhecida em sua dignidade e o seu lugar na vida. Mas este mundo nunca se realizará em escala universal, se antes não se realizar no coração das pessoas. É inútil que busque fora de mim, se antes não busca instaurar dentro de mim e de minha família. 

 

Pe. João Bosco Vieira Leite