22º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Eclo 3,19-21.30-31; Sl 67[68]; Hb 12,18-19.22-24; Lc 14,1.7-14)

1. Convidar Jesus para uma refeição em casa de um fariseu é sempre um risco, como percebemos nas narrativas do Evangelho e hoje não é diferente. Jesus acaba por intervir e provocar algumas reflexões.

2. Nosso texto omite os vv. de 2-6 onde, logo ao chegar, sem pedir permissão, Jesus cura um hidrópico. O que poderia ser tomado como um presente, vira um gesto escandaloso, pois é sábado, dia de repouso absoluto. Jesus reivindica para si a liberdade de intervir a favor do ser humano. Testemunha que Deus é o Deus da graça.

3. Num segundo momento, ainda mais observado pelos que o cercam, é Ele quem observa o comportamento dos próprios judeus. Vê uma corrida pelos primeiros lugares à mesa e lhes mostra a inconveniência de tal comportamento. Tenhamos presente que as autoridades religiosas de sua época reivindicavam abertamente honras, privilégios e precedências.

4. Jesus contesta tal comportamento vaidoso e litigioso. E inverte toda essa lógica baseada na hierarquia humana para lembrar que quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado.

5. Mas Jesus não pensa em fixar uma regra de comportamento para certas ocasiões, ainda que a comunidade cristã deva refletir sobre certos comportamentos. Ele está pensando em nossa atitude diante de Deus, para criticar uma prática religiosa que leva a uma espécie de auto justificação ou segurança que admite direitos diante de Deus.

6. O ser humano deve colocar-se diante de Deus numa atitude de humildade, ou seja, de verdade. Não deve construir para si um pedestal com as próprias virtudes. Se um homem se torna ridículo quando tenta colocar-se acima dos demais, imagine diante de Deus.

7. Maria nos ensinava a dinâmica da humildade e da pobreza no domingo anterior. Nada lhe é devido. Tudo é graça, é dom e vai acolhido no reconhecimento da bondade de Deus, cantava a Virgem. Pobre de quem se arrisca a brincar de grande diante de Deus; arrisca-se a voltar de mãos vazias...

8. Num terceiro momento Jesus volta a rir dessa escolha dos convidados. Tudo gente que conta. Faltam os pobres, os doentes, os desgraçados, os últimos, os excluídos. Um esquecimento imperdoável. No ambiente judaico a exclusão social encontrava quase que automaticamente uma exclusão religiosa.

9. Jesus revoluciona com sua visão de quem deveríamos privilegiar. Parece sentir falta de seus amigos habituais naquele ambiente, talvez se sinta estranho e só.

10. Não se trata de organizar, vez em quando, uma festa beneficente, um jantar para os pobres, que de repente pode ganhar a atenção da mídia. É uma questão de mentalidade, de orientação radical em nossas relações com o próximo.

11. A opção pelos pobres, por aqueles que não contam, não pode ser feita por astúcia ou hábil demagogia, e isto está tão presente nesse período eleitoral. Mas significa abraçar verdadeiramente sua causa sem correr o risco de instrumentalizá-lo. Numa perspectiva clara do como queremos ser acolhidos no banquete dos bem-aventurados.

Pe. João Bosco Vieira Leite