(Ez 36,23-28; Sl 50[51]; Mt 22,1-14)
20ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus voltou a falar
em parábolas aos sumos sacerdotes e anciãos do povo, dizendo:
‘O Reino dos céus é
como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho” Mt 22,1-2.
“Martinho Lutero não
gostava de pregar sobre a festa nupcial do rei. Dizia tratar-se de um
‘evangelho terrível’ (Luz III, 249). Como é que o Deus enfurecido, que manda
lançar um dos convivas nas trevas pode ser o Pai de Jesus Cristo? E realmente,
essa parábola não nos deixa em paz. Ela põe em andamento um processo de
reflexão, de reconsideração, de transformação interior. Os linguistas afirmam
que uma parábola é um ato de linguagem. Na medida em que nos envolvemos com a
parábola, essa desencadeia um processo dentro de nós que muda a nossa visão da
vida e transforma a imagem que temos de Deus e do ser humano. Podemos interpretar
essa parábola de diversas maneiras. A mais comum é a interpretação teleológica.
O rei que convida para o banquete de casamento de seu filho é Deus que envia
seu filho Jesus para a terra, para celebrar as núpcias com a humanidade. Os
servos que chamam os convidados são os profetas, mas também os mensageiros da
fé cristã. Para os ouvintes judeus, era um acinte não atender a um convite
dessa natureza, porque era uma grande honra ser convidado para festa de
casamento do filho do rei. O convite é feito com muita antecedência. Os servos
lembram a convocação feita há tempo e avisam que está tudo pronto para a festa:
o tempo chegou. Deus tem paciência. Novamente envia os seus servos, procurando
convencer os convidados com a descrição do banquete e dos prazeres culinários
que os aguardam. Mas estes não se importam. Aqui não se trata dos judeus em
geral nem dos fariseus. A recusa vem dos homens que não seguem o chamado dos
profetas e dos mensageiros da fé cristã, porque estão mais interessados em
outros assuntos: propriedades (o próprio campo), negócios, sucesso. Parece um
exagero que alguns dos convidados até matem os servos. Mas aqui se trata de uma
alusão ao assassínio de profetas, um fato recorrente na história de Israel.
Quantos profetas foram mortos porque, exigindo em nome de Deus que as pessoas
se convertessem, incomodavam-nas em sua autossatisfação. O fato de o rei enviar
seu exército para matar os assassinos parece destoar do contexto dos
preparativos para um casamento, mas provavelmente, trata-se de uma referência à
destruição de Jerusalém que, para Mateus, é um castigo pela rejeição de Jesus.
O rei envia os seus servos mais uma vez. Agora ele os manda às saídas das
estradas e até aos confins do reino para convidar a todos, bons e maus. Isso
significa que na igreja pode haver bons e maus. Não existe nenhuma condição
social ou moral para entrar no Reino dos céus. Estão todos convidados, sem
exceção” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação –
Loyola).