19º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Sb 18,6-9; Sl 32[33]; Hb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48) 

1. Desde o domingo anterior até o próximo, estamos acompanhando um discurso que Jesus dirige aos seus discípulos e à multidão com uma série de parábolas que nos coloca atentos aos falsos valores deste mundo e suas falsas seguranças, convidando-nos a um olhar para o Reino que vem, cuja escolha se dá aqui e agora.

2. É, ainda, uma reflexão sobre o ser e não sobre o ter, sobre o amor e não sobre a posse, sobre o dividir e não sobre o acumular para si, para garantir um tesouro no céu. Para isso Jesus estabelece um princípio geral: “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”

3. É como a história de uma família de gente modesta que deseja, há um bom tempo, ter uma geladeira. Ao preço de muito sacrifício conseguiram obtê-la. A chegada da mesma foi um grande acontecimento. Foi saudada como nascimento de uma criança. Cada membro da família pôs naquela geladeira o próprio coração. E seus corações se tornaram gélidos, indiferentes aos outros, ausente dos deveres sociais.

4. Por isso Jesus convida à vigilância, a estarmos prontos. Sublinha-se a incerteza da hora. Pode ser antes do que se espera, mas também mais tarde do que se crê. A espera deve ser vigilante. O pior que se pode acontecer é ser surpreendido, encontrado adormecido.

5. Mas é uma vigilância que exclui o medo, a obsessão. Se trata de estar atento, pronto, mas não angustiado. Ativo, mas também sereno, sem agitação. Vivo, mas não ansioso. Longe de estar esperando o patrão, estar ocupado com aquilo que lhe cabe, que lhe foi confiado.

6. O tempo da espera é o tempo da responsabilidade e da fidelidade. Jesus usa a imagem da lâmpada acesa e rins cingidos, numa referência às vestes longas que era preciso prender à cintura para dar liberdade aos movimentos.

7. Estar atentos quer dizer estar ‘voltados para’. O futuro, para um crente, não é uma coisa abstrata e imprecisa. Ele tem um nome e um rosto preciso: Jesus Cristo, o Senhor. É testemunhar a nossa esperança. Não é um estar sentado numa sala de espera aguardando a hora do embarque.

8. Não podemos conceder-nos uma fuga numa espiritualidade desencarnada. Nem mesmo um congelamento de nossos esforços e das nossas aspirações no tempo presente. Olhamos para futuro, ocupados com o presente.

9. O cristão é alguém para o além. Além das aparências, do visível, das falsas grandezas, do contingente, do material. Testemunha de um outro mundo, de outros valores, de outros ideais que não seja o ter e o poder.

10. Não é uma escolha entre o céu e a terra. Mas trata-se de permitir que o céu projete suas luzes sobre essa terra, para que tudo se torne mais claro, que nossas escolhas sejam mais iluminadas, e nossos itinerários menos precários.

11. A lâmpada acesa, expressão da fé, não serve só para esperar o Senhor. Ilumina também o lugar onde estamos. Em outas palavras: a lâmpada acesa não serve para iluminar a estrada para o céu, mas para não perder-nos ao longo dos caminhos emaranhados dessa terra.

Pe. João Bosco Vieira Leite