(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29)
Martírio de São João Batista.
“Com efeito, eu te
transformarei hoje numa cidade fortificada, numa coluna de ferro, num muro de
bronze,
contra todo o mundo,
gente aos reis de Judá e seus príncipes, aos sacerdotes e ao povo da terra” Jr 1,18.
“Nós vemos esta
grande figura, esta força na paixão, na resistência contra os poderosos.
Interroguemo-nos: de onde nasce esta vida, esta interioridade tão forte, tão
reta e tão coerente, empregue totalmente por Deus e para preparar o caminho
para Jesus? A resposta é simples: da relação com Deus, da oração, que é o fio
condutor de toda a sua existência. João é o dom divino longamente invocado
pelos seus pais, Zacarias e Isabel (cf. Lc 1,13|); uma dádiva grande,
humanamente inesperada, porque ambos eram de idade avançada e Isabel era
estéril (cf. Lc 1,7); mas a Deus nada é impossível (cf. Lc 1,36). O anúncio
deste nascimento verifica-se precisamente no contexto da oração, no templo de
Jerusalém; aliás, acontece quando Zacarias recebe o grande privilégio de entrar
no lugar mais sagrado do templo para fazer a oferta do incenso ao Senhor (cf.
Lc 1,8-20). Também o nascimento de João Batista é marcado pela oração: o
cântico de alegria, de louvor e de ação de graças que Zacarias eleva ao Senhor
e que nós recitamos todas as manhãs nas Laudes, o ‘Benedictus’, exalta a obra
de Deus na História e indica profeticamente a missão do filho João: preceder o
Filho de Deus que se fez carne, para lhe preparar as estradas (cf. Lc 1,67-79).
Toda a existência do precursor de Jesus é alimentada pela relação com Deus, de
modo particular o período transcorrido em regiões desertas que são lugares de
tentação, mas também lugares onde o homem sente a própria pobreza, porque
desprovido de apoio e certezas materiais, e compreende que o único ponto de
referência sólido permanece o próprio Deus. Mas João Batista não é apenas um
homem de oração, do contato permanente com Deus, mas também um guia para esta
relação. Citando a oração que Jesus nos ensina aos discípulos, o ‘Pai-Nosso’, o
evangelista Lucas anota que o pedido é formulado pelos discípulos com estas
palavras: ‘Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou seus
discípulos’ (cf. Lc 11,1)” (Bento XVI – “Um Caminho de Fé Antigo e
Sempre Novo” - Editora Molokai).
Pe. João Bosco Vieira Leite