20º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Jr 38,4-6.8-10; Sl 39[40]; Hb 12,1-4; Lc 12,49-53)

1. As leituras de hoje giram em torno da temática daquele que é incompreendido, mau acolhido e até perseguido por causa de sua fidelidade a Deus. Vemos isso claramente na 1ª leitura, onde o profeta Jeremias vem atirado numa cisterna para afundar na lama, por expressar o que pensa e o que Deus lhe inspira.

2. Também está na 2ª leitura, lembrando que Jesus sofreu uma forte oposição por parte dos pecadores. E o próprio evangelho, nos versículos seguintes, Jesus faz alusão a incompreensão dos seus contemporâneos, que sabem julgar os aspectos meteorológicos e atmosféricos, mas não veem nele, em suas palavras e obras, o Messias prometido.

3. O coroamento dessa realidade vem complementada pelo salmo para nos dizer que o justo não é abandonado à própria sorte: luta, sofre, é tentado a desesperar-se, até mesmo morre, mas ao fim é salvo pela mão de Deus e triunfa sobre seus inimigos.

4. Mas no evangelho, duas frases nos chamam a atenção e merecem um comentário. Primeiramente essa afirmação de Jesus sobre o fogo e o batismo que deve receber. Se as tomamos separadamente podem ter vários significados, mas Jesus está falando de sua paixão, o batismo de sangue, e da experiência do Espírito Santo, também uma forma de batismo purificador.

5. A segunda afirmação que nos chama a atenção é essa afirmação de que não veio trazer a paz, mas a divisão. Algo que nos surpreende pois parece entrar em contraste com todo o espírito do evangelho e com aquela promessa de paz que Jesus fará aos próprios apóstolos: ‘Deixo-vos minha paz, minha paz vos dou’ (Jo 14,27).

6. Jesus não está em contradição consigo mesmo. A paz que Ele nos doa está no íntimo da consciência que nos liberta dessa desordem provocada pelo pecado; na relação com o próprio Deus, pois nos restitui a sua amizade e nos guia a viver a sua vontade; também em relação ao próximo, quando aprendemos a amá-lo.

7. Mas também é verdade que Jesus nos traz a divisão em tríplice sentido: primeiramente dentro de nós, porque a verdade que nos anuncia não nos deixa em paz, provoca uma laceração: uma parte de mim quer aderir à sua Palavra, mas a outra resiste e se rebela.

8. Jesus provoca divisão também no sentido em que propõe aos seres humanos escolhas fundamentais de vida; há quem aceita e compartilha, e quem simplesmente rejeita. Isso ocorre dentro do ambiente familiar, do trabalho e até da amizade. Não podemos fazer de conta que esta não existe, nem estamos dispensados de tomar posição quando as circunstâncias o pedem.

9. Por fim, essa divisão pode ser entendida como aquela do fogo sobre o metal para retirar-lhe as impurezas. Jesus veio realizar uma clara separação entre luz e treva, verdade e erro, entre o que é justo e o que não é, entre o bem e o mal.

10. Diante d’Ele não se pode ficar indiferente; é necessária uma escolha: ou com Ele ou contra Ele. E quem o escolhe não pode aceitar a ambiguidade e viver de maneira hipócrita.

11. Peçamos ao Senhor a graça dessa luta contra o pecado, que nos lembra a 2ª leitura; de não nos cansar nessa luta contra as forças do mal que permeiam nossa história, mesmo em meio as incompreensões, para sermos fiéis a Cristo, conscientes de que Deus não abandona aqueles que a Ele se confiam e buscam viver na Sua presença.  

Pe. João Bosco Vieira Leite