Sábado, 20 de agosto de 2022

(Ez 43,1-7; Sl 84[85]; Mt 23,1-12) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam” Mt 23,3.

“Interpretando, nos dias de hoje, o capítulo 23 e as invectivas contra os fariseus, devemos ter em conta a intenção de Mateus, que visava ao bem da comunidade cristã. Mateus introduz o discurso de Jesus com as palavras: ‘Então Jesus dirigiu-se às multidões e a seus discípulos’ (23,1). Isso significa que as palavras de Jesus são dirigidas à comunidade cristã e não aos escribas e fariseus. Mateus não escreveu o capítulo 23 ‘porque tivesse a intenção de terminar com um julgamento especialmente negativo sobre os fariseus, o que ele queria mesmo era levar os seus leitores cristãos a um determinado comportamento’ (Limbeck, 256). A intenção dele não era falar mal dos fariseus de seu tempo, e sim chamar a atenção para um perigo que ronda a comunidade religiosa: o risco de esconder-se atrás de normas e regras, o risco do abuso espiritual, de exercer o poder sobre outros sob um pretexto religioso, o risco de usar a moralização para desviar a atenção das fraquezas humanas, de colocar nas costas dos outros fardos que nem mesmo nós conseguimos carregar. Vemos que essas tendências ‘farisaicas’ acabaram prevalecendo em várias épocas da história da Igreja. É o fosso desagradável entre a pretensão e a realidade. Surgiram muitos moralistas que pregavam suplícios infernais aos outros, mas eles próprios não viviam segundo as regras que impunham aos demais. Acho o capítulo 23 extremamente moderno porque mostra o perigo do abuso espiritual que é hoje tão frequente, sobretudo em grupos espirituais, em círculos fundamentalistas e em comunidades facciosas” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite