(Ez 43,1-7; Sl 84[85]; Mt 23,1-12)
20ª Semana do Tempo Comum.
“Por isso, deveis
fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles
falam e não praticam” Mt 23,3.
“Interpretando, nos dias
de hoje, o capítulo 23 e as invectivas contra os fariseus, devemos ter em conta
a intenção de Mateus, que visava ao bem da comunidade cristã. Mateus introduz o
discurso de Jesus com as palavras: ‘Então Jesus dirigiu-se às multidões e a
seus discípulos’ (23,1). Isso significa que as palavras de Jesus são dirigidas
à comunidade cristã e não aos escribas e fariseus. Mateus não escreveu o
capítulo 23 ‘porque tivesse a intenção de terminar com um julgamento
especialmente negativo sobre os fariseus, o que ele queria mesmo era levar os
seus leitores cristãos a um determinado comportamento’ (Limbeck, 256). A
intenção dele não era falar mal dos fariseus de seu tempo, e sim chamar a
atenção para um perigo que ronda a comunidade religiosa: o risco de esconder-se
atrás de normas e regras, o risco do abuso espiritual, de exercer o poder sobre
outros sob um pretexto religioso, o risco de usar a moralização para desviar a
atenção das fraquezas humanas, de colocar nas costas dos outros fardos que nem
mesmo nós conseguimos carregar. Vemos que essas tendências ‘farisaicas’
acabaram prevalecendo em várias épocas da história da Igreja. É o fosso
desagradável entre a pretensão e a realidade. Surgiram muitos moralistas que
pregavam suplícios infernais aos outros, mas eles próprios não viviam segundo
as regras que impunham aos demais. Acho o capítulo 23 extremamente moderno
porque mostra o perigo do abuso espiritual que é hoje tão frequente, sobretudo
em grupos espirituais, em círculos fundamentalistas e em comunidades facciosas” (Anselm Grün
– Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite