Quarta, 17 de agosto de 2022

(Ez 34,1-11; Sl 22[23]; Mt 20,1-16) 

20ª Semana do Tempo Comum.

“O Reino dos céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para sua vinha” Mt 20,1.

“Jesus descreve uma situação usual no mundo do trabalho da Palestina. Um proprietário procura mão-de-obra temporária para sua vinha. Naquela época, muitas fazendas contratavam trabalhadores diaristas para o manejo do campo. Eram mais baratos que os escravos. O dia de trabalho começa cedo, e o proprietário sabe onde encontrar os operários de que precisa. Ele chama aqueles que estão na praça do mercado para trabalhar na sua vinha. Combina com eles a diária de uma moeda de prata. Era o salário usual por um dia de trabalho. É normal que, pela terceira hora, ou seja, às nove, o proprietário vá novamente à praça para contratar operários. No entanto, é totalmente fora do comum que o dono da vinha saia outra vez na undécima hora à procura de operários. Falta, então, exatamente uma hora para o encerramento dos trabalhos. O valor econômico de tal contratação é nulo. E, além de tudo, Mateus descreve detalhes do procedimento de contratação dessa undécima hora. Ele mostra assim que é nesse ponto que se situa o verdadeiro enfoque da parábola. Só com esses operários o proprietário entabula uma conversa: ‘Por que ficastes aí o dia inteiro sem trabalho?’. E eles respondem: ‘Porque ninguém nos contratou’ (20,7). Jesus sabe criar um ar de suspense. Ele aumenta a expectativa dos ouvintes, começando com o pagamento daqueles que foram contratados por último. O proprietário lhes paga uma moeda de prata. É um bom salário, ainda mais considerando que não tinha combinado nenhum valor com eles. Mas esse salário desperta a ganância dos operários da primeira hora. Apesar de terem concordado em trabalhar o dia todo por uma moeda de prata, passam a esperar mais. Ficam resmungando, porque eles também recebem só uma moeda. Em vez de ficarem satisfeitos, comparam o seu salário com o dos operários que trabalham menos. A sua reação está cheia de simbolismo, e o leitor percebe que Mateus coloca essas palavras na boca dos cristãos esforçados que se queixam porque Jesus chama também os pecadores, aceitando na comunidade cristã pessoas que nada têm a apresentar. ‘Estes chegaram por último, só trabalharam uma hora, e tu os tratas como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor intenso’ (20,12). Essas palavras exprimem aquilo que sensibiliza os cristãos e a sua maneira de entender a vida. Eles não se mostram gratos por terem conseguido trabalho e a vida estar bem encaminhada; não, eles se comparam aos outros. Em vez de olhar com gratidão para aquilo que receberam, ficam olhando para os presentes que Deus distribui também para os outros. A comparação torna as pessoas invejosas e cegas para aquilo que lhes é devido e que é bom para elas. E os cristãos entendem a sua vida como um peso e uma luta no calor do dia. Não têm olhos para o prazer do trabalho, o sucesso, a safra que podem colher e desfrutar. Só veem o fardo, a faina, as dificuldades que a vida lhes reserva” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).      

 Pe. João Bosco Vieira Leite