(Ez 34,1-11; Sl 22[23]; Mt 20,1-16)
20ª Semana do Tempo Comum.
“O Reino dos céus é
como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores
para sua vinha” Mt 20,1.
“Jesus descreve uma
situação usual no mundo do trabalho da Palestina. Um proprietário procura
mão-de-obra temporária para sua vinha. Naquela época, muitas fazendas
contratavam trabalhadores diaristas para o manejo do campo. Eram mais baratos
que os escravos. O dia de trabalho começa cedo, e o proprietário sabe onde
encontrar os operários de que precisa. Ele chama aqueles que estão na praça do
mercado para trabalhar na sua vinha. Combina com eles a diária de uma moeda de
prata. Era o salário usual por um dia de trabalho. É normal que, pela terceira
hora, ou seja, às nove, o proprietário vá novamente à praça para contratar
operários. No entanto, é totalmente fora do comum que o dono da vinha saia
outra vez na undécima hora à procura de operários. Falta, então, exatamente uma
hora para o encerramento dos trabalhos. O valor econômico de tal contratação é
nulo. E, além de tudo, Mateus descreve detalhes do procedimento de contratação
dessa undécima hora. Ele mostra assim que é nesse ponto que se situa o
verdadeiro enfoque da parábola. Só com esses operários o proprietário entabula
uma conversa: ‘Por que ficastes aí o dia inteiro sem trabalho?’. E eles
respondem: ‘Porque ninguém nos contratou’ (20,7). Jesus sabe criar um ar de
suspense. Ele aumenta a expectativa dos ouvintes, começando com o pagamento
daqueles que foram contratados por último. O proprietário lhes paga uma moeda
de prata. É um bom salário, ainda mais considerando que não tinha combinado
nenhum valor com eles. Mas esse salário desperta a ganância dos operários da
primeira hora. Apesar de terem concordado em trabalhar o dia todo por uma moeda
de prata, passam a esperar mais. Ficam resmungando, porque eles também recebem
só uma moeda. Em vez de ficarem satisfeitos, comparam o seu salário com o dos
operários que trabalham menos. A sua reação está cheia de simbolismo, e o
leitor percebe que Mateus coloca essas palavras na boca dos cristãos esforçados
que se queixam porque Jesus chama também os pecadores, aceitando na comunidade
cristã pessoas que nada têm a apresentar. ‘Estes chegaram por último, só
trabalharam uma hora, e tu os tratas como a nós, que suportamos o peso do dia e
do calor intenso’ (20,12). Essas palavras exprimem aquilo que sensibiliza os
cristãos e a sua maneira de entender a vida. Eles não se mostram gratos por
terem conseguido trabalho e a vida estar bem encaminhada; não, eles se comparam
aos outros. Em vez de olhar com gratidão para aquilo que receberam, ficam
olhando para os presentes que Deus distribui também para os outros. A
comparação torna as pessoas invejosas e cegas para aquilo que lhes é devido e
que é bom para elas. E os cristãos entendem a sua vida como um peso e uma luta
no calor do dia. Não têm olhos para o prazer do trabalho, o sucesso, a safra
que podem colher e desfrutar. Só veem o fardo, a faina, as dificuldades que a
vida lhes reserva” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação –
Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite