(Is 42,1-7; Sl 26[27]; Jo 12,1-11)
Semana Santa
“Seis dias antes da
Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde morava Lázaro, que ele havia ressuscitado dos
mortos” Jo 12,1.
“Depois do último
sinal, João relata uma ação simbólica que prenuncia a morte de Jesus. Faltam
seis dias para a festa da Páscoa. Seis é o número da imperfeição e do
diletantismo. Aquilo que é imperfeito torna-se perfeito e completo pela morte e
ressurreição de Jesus. O número seis remete ao número sete que é o número da
transformação e da consumação. Na ressurreição, o homem é criado de novo. Essa
é a verdadeira Páscoa: passagem para o mundo de Deus, transformação e
divinização do ser humano. Esse é o verdadeiro sábado: nova criação por Deus.
Seis dias antes da Páscoa, ou seja, na noite de domingo, Maria, Marta e Lázaro
oferecem uma ceia em honra de Jesus. A ceia talvez seja um símbolo da
eucaristia que os cristãos costumam celebrar na noite de domingo. Maria toma
uma libra de puro óleo de nardo, um perfume precioso, e unge com ele os pés de
Jesus. É uma quantidade generosa de um óleo que era um dos mais preciosos da
Antiguidade. Judas calcula que o valor deve corresponder a 300 denários, mais
que o salário anual de um diarista. ‘A casa ficou cheia do perfume’ (12,3). A
quantidade desmensurada do óleo lembra a abundância de vinho que Jesus mandou
servir nas bodas de Caná. Nesse casamento se fez menção do novo sabor da vida.
Aqui se trata de uma fragrância preciosa que entra pelas narinas. O amor de
Deus que se completa na morte de Jesus exala um odor agradável. A casa toda, a
Igreja toda, o mundo todo, ficam cheios desse aroma e se transformam. Os padres
da Igreja interpretam essa cena assim: desde a morte e ressurreição de Jesus, o
odor do conhecimento (da gnose) passou a encher o mundo todo. Em contraste com
o cheiro desagradável espalhado pelo Lázaro defunto, a ressurreição emite um
cheiro agradável. João mostra nessas imagens que a realidade de Deus pode ser
percebida por todos os sentidos. Ela pode ser vista e ouvida, saboreada,
cheirada e tocada. Em sua teologia da ‘doçura’ de Deus, a tradição mística deu
continuidade a essa visão de João. Deus pode ser experimentado e percebido. Os
rastros de Deus na alma humana são a fragrância, o novo sabor, a doçura e a
alegria” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida –
Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite