Quinta, 14 de abril de 2022

(Ex 12,1-8.11-14; Sl 115[116B]; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15) 

Missa da Ceia do Senhor.

“Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai;

tendo amado os seus que estavam no mundo amou-o até o fim” Jo 13,1.

“Com o capítulo 13 mudam a situação e a atmosfera no evangelho de João. Agora, Jesus está sozinho com os seus. Os seus, ‘idioi’, somos nós. Os discursos de despedida respiram um clima de confiança e de intimidade. Já não se trata da luta contra as trevas do mundo, mas do amor. Tudo o que Jesus faz é chamado do amor. Jesus veio para mostrar-nos o seu amor. Na primeira parte, João descreveu como o amor luta, como corteja o mundo e acaba se transformando em seu juiz porque o mundo não o acolhe. Jesus tinha se dirigido ao mundo, mas o mundo o rejeitou. Assim, a sua atuação levou à crise, ao julgamento, à cisão e à decisão. Agora, Jesus revela aos seus o seu amor até à consumação, primeiro no ato do lava-pés, depois nas palavras de despedidas e, finalmente, na paixão e ressurreição. O lava-pés é uma espécie de portão de entrada para a história da paixão. É a abertura da história do amor perfeito. Aqui se diz pela terceira vez: ‘Era antes da festa da Páscoa’ (13,1). Na paixão se completa aquilo que os judeus celebravam na Páscoa. Deus liberta o seu povo do cativeiro e o conduz à terra que lhe foi prometida. João menciona a festa da Páscoa pela primeira vez antes de cotar a expulsão dos vendedores do templo. Na paixão e na ressurreição, Jesus purifica o povo e cria em seu corpo o novo templo em que Deus é adorado. A festa da Páscoa é mencionada pela segunda vez antes da multiplicação dos pães. A eucaristia é a verdadeira ceia pascal, a ceia em que comemoramos a libertação e a salvação por Jesus Cristo. Agora, João interpreta o mistério da festa da Páscoa com a observação: ‘Sabendo Jesus que a sua hora tinha chegado, a hora de passar deste mundo para o Pai’ (13,1).  Páscoa significa passagem. A verdadeira passagem é a morte de Jesus. Na cruz, Jesus passa para a glória de Deus. Trata-se de uma imagem da nossa existência cristã. Em Jesus nos bandeamos desde já para o âmbito divino. Continuamos no mundo, mas ao mesmo tempo já participamos do mundo do além, do esplendor divino, no qual Jesus entrou pela cruz. Crer significa para João que já estamos passando para o mundo de Deus. Só assim podemos viver verdadeiramente como homens livres, despertos e acordados, que contemplam e amam” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite