Domingo de Ramos – Ano C

(Lc 19,28-40; Is 50,4-7; Dl 21[22]; Lc 23,1-49).

1. Sabemos que Cristo é a imagem perfeita, visível do Deus invisível. Eis que através desse Messias condenado, abandonado, rejeitado sobrevive a imagem de Deus. A cruz nos revela o verdadeiro rosto de Deus.

2. Um Deus entregue à maldade humana, inerme, indefeso, tratado como malfeitor, e que não impõe resistência. A onipotência se aniquila livremente, renunciando usar de sua força. Um Deus que é possível matar.

3. Mas a cruz também revela o cristão. É inútil buscar fora dela a nossa identidade. Não existe o seguimento de Jesus sem cruz. Um cristianismo sem sacrifício é como uma conversa sem conclusão. Um cristão se reconhece como alguém que leva a sua cruz junto com Cristo.

4. A cruz é a outra face do amor. Ela é feita de sofrimento, solidão, de incompreensão, humilhação, rejeição, mas é feita de amor. Não basta sofrer para poder afirmar que se leva a cruz de Cristo. É preciso leva-la na mesma direção que Ele levou, sofrer na mesma linha de doação e de plenitude.

5. A cruz do discípulo, como a do Mestre, não revela somente sua identidade, explica o significado da sua vida. Não é a cruz por si mesma, a dor pela dor. Mas a cruz como um sinal revelador de uma vida que se dá, que se oferta, que se reparte pelos outros.

6. Não basta carregar a cruz. Ela precisa exprimir solidariedade, capacidade de doar-se pelo outro. Não nos iludamos achando que a ressurreição representa a superação da cruz. É superação, mas somente para quem passou e passa continuamente através do calvário.

7. Foi Aquele que foi crucificado que ressuscitou, nos lembra a mensagem pascal. A glória através da paixão. Nos lembra a 2ª leitura. Passagem obrigatória. Em Paulo, a cruz está no centro da sua doutrina da ressurreição.

8. A cruz de Jesus não desapareceu de nossa terra. Somos nós que a carregamos sobre esse chão. O evento salvífico não é um ato isolado que aconteceu uma só vez: ‘Brilhando sobre o mundo que vive sem sua luz, tu és um sol fecundo, de amor e de paz ó cruz...’

9. A teologia da cruz e da glória vivem juntas. A ressurreição não obscurece ou reduz a importância da cruz. Ela não é uma sobra da ressurreição. É, antes, a cruz luminosa. Na prática, o cristão é um crucificado ressuscitado. O seu caminho é feito de cruz e ressurreição ao mesmo tempo.

10. Falar de Jesus glorificado, deixando de lado sua cruz, deve estar falando de um outro Jesus. Não o de Nazaré. Não nos iludamos de fazermos algo significativo nesse mundo que não comporte certo sofrimento. Eliminar a cruz do nosso vocabulário para tornar o cristianismo mais compreensivo, nunca será o mesmo de Jesus Cristo. A cruz faz a diversidade do cristão.

Pe. João Bosco Vieira Leite