Quarta, 20 de abril de 2022

(At 3,1-10; Sl 104[105]; Lc 24,13-35) 

Oitava de Páscoa.

“Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois discípulos de Jesus iam para um povoado, chamado Emaús”

Lc 24,13.

“Lucas narra aquela que sem dúvida é a mais bela história pascal que existe: o encontro de Jesus com os discípulos de Emaús. O tema do caminhar é retomado. Jesus é o desconhecido viandante, caminhando com os dois discípulos que, decepcionados, deixam a cidade de Jerusalém. Pois a esperança em que tinham apostado não se cumpriu. Jesus, que eles julgavam ser um grande profeta, foi crucificado. Mas, enquanto ainda conversavam sobre a sua decepção, o ressuscitado consegue entrar na conversa, e interpreta de outra maneira as suas experiências. Ressurreição significa também, aqui, uma nova interpretação da vida de Jesus, mas também uma nova interpretação para o caminho da nossa própria vida. No nosso caminho temos frequentemente experiências semelhantes às dos discípulos de Emaús. Ficamos decepcionados. As ilusões que tínhamos sobre a nossa vida caem em pedaços. Nós também pensamos às vezes que somos ‘poderosos em palavras e atos diante de Deus e diante de todo o povo’ (Lc 24,19). E de repente alguma coisa perturba a nossa autoimagem. Tudo nos é tirado da mão. Estamos diante do que sobrou da nossa vida: um monte de cacos. Gostaríamos então de fugir de nós mesmos. Mas não andamos sozinhos, no nosso caminho. Enquanto conversamos uns com os outros, Jesus, o ressuscitado, nos acompanha e nos abrirá o sentido da nossa vida. A palavra ‘Não devia o Messias sofrer tudo isso, para entrar assim na sua glória’ (Lc 24,26) é a chave para a compreensão do destino de Jesus, mas também de nossa própria sorte. Foi a vontade de Deus, para nós impossível de elucidar: o Messias precisava sofrer para chegar à sua glória. E este é o nosso caminho também: é só através da aflição que chegaremos à verdadeira vida, à glória que Deus já preparou para nós. Foi bom ficarmos decepcionados, e que tenham se quebrado as imagens que tínhamos feito de nós mesmos. É só assim que chegaremos à glória que Deus imaginou para nós” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite