(At 3,1-10; Sl 104[105]; Lc 24,13-35)
Oitava de Páscoa.
“Naquele mesmo dia, o
primeiro da semana, dois discípulos de Jesus iam para um povoado, chamado
Emaús”
Lc 24,13.
“Lucas narra aquela que sem dúvida é a
mais bela história pascal que existe: o encontro de Jesus com os discípulos de
Emaús. O tema do caminhar é retomado. Jesus é o desconhecido viandante,
caminhando com os dois discípulos que, decepcionados, deixam a cidade de
Jerusalém. Pois a esperança em que tinham apostado não se cumpriu. Jesus, que
eles julgavam ser um grande profeta, foi crucificado. Mas, enquanto ainda
conversavam sobre a sua decepção, o ressuscitado consegue entrar na conversa, e
interpreta de outra maneira as suas experiências. Ressurreição significa
também, aqui, uma nova interpretação da vida de Jesus, mas também uma nova
interpretação para o caminho da nossa própria vida. No nosso caminho temos
frequentemente experiências semelhantes às dos discípulos de Emaús. Ficamos
decepcionados. As ilusões que tínhamos sobre a nossa vida caem em pedaços. Nós
também pensamos às vezes que somos ‘poderosos em palavras e atos diante de Deus
e diante de todo o povo’ (Lc 24,19). E de repente alguma coisa perturba a nossa
autoimagem. Tudo nos é tirado da mão. Estamos diante do que sobrou da nossa
vida: um monte de cacos. Gostaríamos então de fugir de nós mesmos. Mas não
andamos sozinhos, no nosso caminho. Enquanto conversamos uns com os outros,
Jesus, o ressuscitado, nos acompanha e nos abrirá o sentido da nossa vida. A
palavra ‘Não devia o Messias sofrer tudo isso, para entrar assim na sua glória’
(Lc 24,26) é a chave para a compreensão do destino de Jesus, mas também de
nossa própria sorte. Foi a vontade de Deus, para nós impossível de elucidar: o
Messias precisava sofrer para chegar à sua glória. E este é o nosso caminho
também: é só através da aflição que chegaremos à verdadeira vida, à glória que
Deus já preparou para nós. Foi bom ficarmos decepcionados, e que tenham se
quebrado as imagens que tínhamos feito de nós mesmos. É só assim que chegaremos
à glória que Deus imaginou para nós” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do
ser humano – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite