(At 5,17-26; Sl 33[34]; Jo 3,16-21)
2ª Semana da Páscoa.
“Deus amou tanto o
mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo que nele crer,
mas tenha a vida
eterna” Jo 3,16.
“Este texto sintetiza
o Evangelho de Jesus Cristo. Na verdade, fundamenta toda a Palavra de Deus. É,
portanto, a mais radical de todas as afirmações bíblicas, pois contempla o amor
de Deus na sua mais abrangente e profunda compreensão – entrega graciosa e
doação sacrificial de quem não tinha nada a ver com a desgraça humana, e
beneficiário quem não tinha nada a merecer. As traduções corriqueiras deste
texto preferem a opção que Deus amou ‘tanto’, talvez porque o termo original,
que significa ‘dessa forma’, não diria do amor de Deus ao mundo com a força
como a expressão ‘tanto’. Mas se esta é a intenção, há uma grande perda, pois a
expressão original, ‘dessa forma’, inclui não só a grandeza extraordinária do
amor, por se tratar do amor salvador de Deus aos seres humanos, como indica
justamente a verdadeira dimensão da prática do amor cristão – doação e entrega
irrestritas em favor da humanidade. E o amor ‘dessa forma’ é tão fora de
qualquer padrão humano, que só ele é capaz de evitar a ‘morte’, e mais, ainda
conduzir à ‘vida eterna’. Ensinavam os primeiros filósofos que a condição
básica para se ter uma ideia clara da dimensão da vida era se sentir
embasbacado diante de tudo, não entender nada como natural ou espontâneo.
Grande descoberta, como se na Bíblia, desde os primórdios na criação, tudo não
provocasse espanto, impensabilidade e até incompreensão da grandeza das coisas
de Deus em favor dos seres humanos. Tudo que na fé não cabe na razão humana, o
Evangelista João resume: é ‘dessa forma’ que Deus nos ama, e é ‘dessa forma’
que o cristão ama o próximo. – Ó Deus, amaste-me dessa forma, por graça
e doação, para me dar a vida eterna. Ensina-me a amar o próximo dessa forma,
para que ele também tenha a vida eterna. Amém” (Augusto Jacob
Grün – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).