(At 5,27-32.40-41; Sl 29[30]; Ap 5,11-14; Jo 21,1-19)
1. Os estudiosos insistem em afirmar
que o evangelho de João se conclui no capítulo 20. Que este capítulo 21, de
onde vem a nossa narrativa, teria sido acrescentado depois. De fato, os dois
capítulos trazem uma conclusão semelhante. Mas qual o objetivo desse acréscimo?
2. As comunidades estão atravessando um
momento difícil de perseguição, desânimo e até negação da fé. O narrador quer
reavivar a fé dos seus leitores através dessa narrativa carregada de elementos
simbólicos, sobre a presença do Ressuscitado no caminho que estão fazendo. Mas
tem a ver também conosco, pessoalmente.
3. A cada dia nos dispomos a retomar o
nosso trabalho, aquilo que aprendemos. Como fazem todos os demais, que têm um
trabalho ou atividade regular. Sabemos sempre o que devemos fazer. Mas nem
sempre sabemos o que devemos ‘ser’. E para não ficarmos empacados nesse
‘saber’, procuramos sempre o que fazer.
3. E assim preenchemos o nosso dia. Mas
às vezes temos a sensação, como os apóstolos, de ‘não pegarmos nada’. Ainda que
o nosso dia tenha sido cheios de atividades. Muitas vezes, ao fim, nos
encontramos com uma sensação de vazio. E, talvez, percebamos que certas coisas,
há que as faças melhor que nós.
4. Quando Jesus falou a Pedro que ele
seria pescador de homens, ele poderia se reconhecer incompetente para tal
missão, tanto que ele não entendia exatamente o que Jesus queria dizer aquilo.
E Jesus deve ensinar a esses experientes pescadores: ‘lancem a rede do outro
lado...’.
5. Eles se deixam instruir, mesmo
dentro de sua experiência. Talvez Jesus queira nos orientar no modo como
devemos também nós, levar o nosso dia, o nosso trabalho, com toda a experiência
que já temos. Ele o Ressuscitado, o Vivente, ao início de nossa jornada, quer
ir conosco, acompanhar-nos em nosso trabalho.
6. Quer ser um cúmplice de nossas
ações. Não quer ficar esperando o nosso retorno em nossas casas ou em nossas
igrejas. Ele quer ser presença, em meio ao cansaço de nossas atividades. Que
nos ocupemos das coisas de sempre. Que façamos tudo o que fazem os outros, mas
que aceitemos a Sua presença.
7. O nosso viver cristão se assemelha
ao de todo mundo, mas ao mesmo tempo é diferente, quando trazemos uma presença
a mais. Uma presença que muda tudo. Nesses trabalhos ‘comuns’ a milhões de
seres humanos, devemos ter presente o que é próprio da nossa vocação, aquilo
que é próprio do cristão.
8. A cada domingo, se nos deixamos
instruir, ele nos fala de lançar a rede de um outro modo, de testemunhar algo
que não é nosso, mas dele. Nossa vida, nossas decisões, deve ser algo que faça
referência à Sua presença. Ele não quer ficar em casa ou na igreja aguardando o
nosso retorno.
9. Precisamos oferecer, naquilo que fazemos, algo a
mais, um suplemento de valor, de significado, de alma, de ‘ser’. A maioria das
coisas comuns todos sabem como devem fazer. Estejamos atentos: ou a nossa vida
deixa entrever essa presença do Ressuscitado, ou estamos mortos, dificultando,
impedindo a Cristo, de alguma forma, de ser presença.
Pe. João Bosco Vieira Leite