Quarta, 29 de dezembro de 2021

(1Jo 2,3-11; Sl 95[96]; Lc 2,22-35) 

Oitava do Natal.

“Quando se completaram os dias para purificação da mãe do filho, conforme a Lei de Moisés,

Maria e José levaram Jesus a Jerusalém a fim de apresenta-lo ao Senhor” Lc 2,22.

“O conhecido biblista Carlos Mesters adverte que todo texto tem um contexto e um pré-texto. Qualquer texto fora desse seu ‘habitat’ pode perder o sentido ou mesmo tornar-se absurdo. É o caso, por exemplo, do texto de Lucas que estamos meditando: fala da ‘purificação deles’, de Maria e do menino Jesus. Purificar de que a Imaculada? Purificar de que o Unigênito do Pai? Ao encarnar-se, Jesus assumiu toda a realidade religiosa e sócio-cultural do seu povo, exceto o pecado. Fez-se servo obediente, não aceitando privilégios e exceções. Curvou-se diante de preceitos e normas que para Ele não tinham a menor valia, como o batismo de penitência de João (Mt 3,14-15) ou o tributo para o Templo (Mt 17,24-27). É por isso que Ele e a sua mãe se submetem humildemente a uma lei esdrúxula como esta: ‘Se uma mulher conhecer conceber e der à luz um menino, ficara impura durante sete dias... e, durante 33 dias, ela ficará ainda purificando-se do seu sangue’ (Lv 12,2-4). De igual modo, submetem-se à lei do resgate do primogênito (Ex 13,13). De acordo com esta, todo primogênito pertencia a Deus; para poderem ficar com o filho, os pais deveriam pagar um resgate simbólico: um cordeiro e um pombo. Mas, se fossem tão pobres que não pudessem comprar um carneiro, levariam dois pombinhos, ou até mesmo duas rolinhas (Lv 12,8). E foi o que aconteceu. Que penúria, meu Deus: o vosso Filho não pôde ser resgatado por um cordeiro, enquanto no Brasil de hoje qualquer industrial sequestrado é resgato por milhões de dólares! – Senhor, diante de tanta humildade do vosso Filho, ensinai-nos a assimilar bem esta velha sentença: ‘Os bens da fortuna... é melhor merecê-los sem os ter do que tê-los sem os merecer’ (Camões). Razão por que Cristo, ‘sendo rico, se fez pobre por nós, a fim de nos enriquecer com sua pobreza’ (2Cor 8,9). Amém (Geraldo de Araújo Lima – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite