(1Jo 2,3-11; Sl 95[96]; Lc 2,22-35)
Oitava do Natal.
“Quando se
completaram os dias para purificação da mãe do filho, conforme a Lei de Moisés,
Maria e José levaram
Jesus a Jerusalém a fim de apresenta-lo ao Senhor” Lc 2,22.
“O conhecido biblista
Carlos Mesters adverte que todo texto tem um contexto e um pré-texto. Qualquer
texto fora desse seu ‘habitat’ pode perder o sentido ou mesmo tornar-se absurdo.
É o caso, por exemplo, do texto de Lucas que estamos meditando: fala da
‘purificação deles’, de Maria e do menino Jesus. Purificar de que a Imaculada?
Purificar de que o Unigênito do Pai? Ao encarnar-se, Jesus assumiu toda a
realidade religiosa e sócio-cultural do seu povo, exceto o pecado. Fez-se servo
obediente, não aceitando privilégios e exceções. Curvou-se diante de preceitos
e normas que para Ele não tinham a menor valia, como o batismo de penitência de
João (Mt 3,14-15) ou o tributo para o Templo (Mt 17,24-27). É por isso que Ele
e a sua mãe se submetem humildemente a uma lei esdrúxula como esta: ‘Se uma
mulher conhecer conceber e der à luz um menino, ficara impura durante sete
dias... e, durante 33 dias, ela ficará ainda purificando-se do seu sangue’ (Lv
12,2-4). De igual modo, submetem-se à lei do resgate do primogênito (Ex 13,13).
De acordo com esta, todo primogênito pertencia a Deus; para poderem ficar com o
filho, os pais deveriam pagar um resgate simbólico: um cordeiro e um pombo.
Mas, se fossem tão pobres que não pudessem comprar um carneiro, levariam dois
pombinhos, ou até mesmo duas rolinhas (Lv 12,8). E foi o que aconteceu. Que
penúria, meu Deus: o vosso Filho não pôde ser resgatado por um cordeiro,
enquanto no Brasil de hoje qualquer industrial sequestrado é resgato por
milhões de dólares! – Senhor, diante de tanta humildade do vosso Filho,
ensinai-nos a assimilar bem esta velha sentença: ‘Os bens da fortuna... é
melhor merecê-los sem os ter do que tê-los sem os merecer’ (Camões). Razão por
que Cristo, ‘sendo rico, se fez pobre por nós, a fim de nos enriquecer com sua
pobreza’ (2Cor 8,9). Amém” (Geraldo de Araújo Lima – Graças
a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João
Bosco Vieira Leite