(Mq 5,1-4; Sl 79[80]; Hb 10,5-10; Lc 1,39-45).
1. No evangelho de Lucas, do episódio
da anunciação, que nos revela a vocação de Maria, saltamos imediatamente para o
da visitação, ou seja, da consciência de Maria de sua missão. Ela não se entretém
com a grandeza do que lhe acontece. Coloca-se logo a caminho. Depois de ter
sido encontrada por Deus, vai encontrar alguém.
2. É fascinante imaginar essa mulher
que caminha apressadamente. Seus passos exprimem consciência, decisão, coragem,
alegria de um anúncio. Leva dentro de si um mistério consumado na profundidade
do seu ser, que agora vem celebrado em espaço aberto, nas estradas da vida.
3. De fato, agora Ele é Deus conosco,
porque essa jovem não faltou ao encontro com Ele em sua disponibilidade de ser
com Ele. Resgatando assim tantas rejeições com o seu sim decisivo. Ela tem
pressa, faz a aurora de um tempo novo.
4. Em Maria, Jesus já se encontra a
caminho, mesmo antes de nascer, pelas estradas do mundo. Em Maria, onde há uma
necessidade, ele chega. O Cristo itinerante do Evangelho vai se delineando no
seio de sua mãe. Parece consciente que o Filho não lhe pertence. É destinado
aos outros. Um dom de Deus para todos.
5. A cena da visitação exprime um
dinamismo de participação, de alegria de compartilhar. Uma expressão clássica
compara Maria a um Ostensório. Mas um ostensório que caminha. Que não fica
distante, mas que ao contrário, anula distâncias.
6. Precisamos compreender que o
cristianismo não é um dom para ser ‘consumido’ por poucos; em sua mesa há lugar
para todos. O Cristo da visitação se adapta à poeira da estrada, às pedras do
caminho, às intempéries, às casas dos seres humanos.
7. Isabel saúda Maria com a
bem-aventurança que melhor se adapta à sua hóspede. Recolhe a verdadeira
grandeza de Maria: Ela é aquela que acreditou, se agarrou a um Outro, se confiou
a Ele, se deixou levar por Ele. Não a um elenco de proposições, de verdades e
doutrinas.
8. Se agarrou a uma Palavra que não lhe
garantiu segurança, nem lhe deu provas convincentes, mas que apenas a coloca a
caminho, onde tudo ainda está por descobrir, aberta ao imprevisível. Maria
acreditou em tudo que lhe disse o seu Senhor.
9. Crer, de certo modo, significa
acreditar que Deus mantem a sua palavra. Maria não é uma criatura que sabe, mas
alguém que acredita. Não se sente em segurança, equipada de garantias. Confia,
não pede informações detalhadas. Não possui por antecipação todas as respostas.
10. Maria joga sua confiança num Deus
que não a decepcionará quando ela desmantelar todas as suas defesas e se
entregar totalmente a Ele. Assim é a fé. É com essa fé que ela leva ao mundo o
próprio Deus. Nós cristãos, graças à fé, devemos imitar a Maria, levando Deus
conosco nesse mundo de ausências do sagrado.
Pe. João Bosco Vieira Leite