3º Domingo do Advento – Ano C

(Sf 3,14-18; Sl Is 12; Fl 4,4-7; Lc 3,10-18).

1. As multidões que buscam o Batista não são motivadas pela curiosidade. Aceitam deixar-se questionar por sua pregação. Se deixam batizar não por uma simples ritualidade, mas como sinal de uma mudança profunda de conduta. E com isso vem a pergunta fundamental: ‘Que devemos fazer?’.

2. João responde, resgatando os temas clássicos da mensagem profética: praticar a justiça e a misericórdia. Sua orientação se faz diferenciada nas diferentes categorias que o buscam.

3. Ali estão publicanos. Como fará Jesus, João não os exclui, mesmo sendo considerados ‘pecadores públicos’, odiados por sua função e por colaborarem com a ocupação romana. João pede que sejam honestos e que não enriqueçam explorando os mais pobres.

4. Temos soldados, provavelmente pagos por Herodes Antipas, pois os judeus residentes na Palestina eram isentos do serviço militar desde o tempo de Cesar. A estes recomenda o respeito pelos mais fracos e abster-se de saquear os pobres e contentar-se do seu salário, de modo a não empobrecer ainda mais a região.

5. João tenta precisar quais são os caminhos que devem ser ‘aplainados’ para encontra o Senhor que vem. São estradas de justiça, de caridade, de respeito pelos outros. Nada de novo. Nenhuma estrada excepcional. Mas retorna a uma verdade fundamental: o caminho para Deus obrigatoriamente atravessa o próximo.

6. João não quer que eles se retirem do mundo e o imitem no seu itinerário particular. Não os convida a deixar tudo e se instalarem no deserto. Quando cada um permaneça no seu lugar, e continue a fazer o que veem fazendo, mas de outro modo. Retome seu trabalho, mas o exercite de modo diferente.

7. João quer nos lembra que o Senhor vem acolhido na vida normal, não através de coisas excepcionais. Mais que gestos extraordinários, espetaculares, o que conta é a fidelidade no cotidiano. Pode parecer contraditório, mas se deve ir ao encontro de Cristo permanecendo no mesmo lugar. A mudança, o movimento, não é exterior, mas interior.

8. Há um modo diferente de ser e de fazer as coisas que se concilia com as coisas de sempre. Assim como tem uma busca do extraordinário que pode ser uma forma de evasão, um modo de subtrair-se das duras responsabilidades da vida.

9. O ‘fazer’ tem sua importância na nossa busca de Deus. Nem todas as condutas são compatíveis nesse encontro com Cristo. Não é indiferente comportar-se de uma maneira ou de outra. Em nosso tempo muitos pensavam a felicidade deixando de lado o imperativo da ética, fabricando sua própria conduta, suas próprias regras.

10. Assim como não é possível construir um Deus a própria imagem e semelhança, não é legítimo inventar uma moral para próprio uso e consumo, ao próprio gosto.

11. Talvez seja urgente redescobrir a moral. Não o moralismo que oprime e infantiliza e que opera através do medo, mas a moral que liberta. A moral, de fato, não é outra coisa senão uma conduta marcada pelo amor, uma resposta a inciativa divina.

12. João coloca determinadas exigências morais que são condições indispensáveis para ‘reconhecer’ o Cristo que vem. Se faz necessária uma purificação para chegar a uma limpeza do olhar e da mente. Muitas vezes não chegamos a ver nem a entender porque não estamos dispostos a ‘fazer’.

13. Cristo não desdenha de encontrar-se com os pecadores. Até senta na mesa com eles. Nenhum deles lhes pediu aprovação para o que fazia. Os pecadores que o encontram são aqueles que têm a humildade e a coragem de perguntar-lhe: ‘que devo fazer?’. Certamente não a título de informação...

14. O ‘Deus que vem’ não nos permite voltar para casa, pensarmos, fazer as contas e ver se nos é conveniente. Aceitar a Deus na própria vida não é uma questão de conveniência. É uma questão de mudança, permanecendo no próprio lugar.  

Pe. João Bosco Vieira Leite