26º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Nm 11,25-29; Sl 18[19]; Tg 5,1-6; Mc 9,38-43.45.47-48).

1. Na abertura do nosso evangelho, acolhemos esse olhar positivo e universalista de Jesus para todo homem e mulher capaz de praticar o bem em seu nome, mesmo não pertencendo à sua Igreja. Mas o texto muda rapidamente de assunto e Jesus emprega a palavra ‘escândalo’ em seu discurso.

2. Segundo a linguagem bíblica, ‘escândalo’ indica um perigo para a salvação. Aquilo que abala a fé. Literalmente ela significa armadilha, obstáculo colocado no caminho de alguém. Por isso quem escandaliza, é alguém que quer fazer cair o outro, desviá-lo da fé, tornar difícil sua estrada de adesão a Cristo. É nesse sentido que a lemos no Evangelho.

3. Os pequenos aqui não são as crianças que vimos no domingo anterior. São os membros mais frágeis ou simples da comunidade, que alguém, maliciosamente coloca a perder ou leva a perder-se. E assim o ensinamento de Jesus se desenvolve em duas partes.

4. Depois de colocar-nos atentos ao fato de destruirmos a fé no coração dos pequenos, Jesus considera um outro escândalo: não mais aquele provocado pelos outros, mas aquele que nasce dentro de nós. Assim, acena à mão, ao pé e aos olhos como ocasião de escândalo, que nosso texto traduz como ‘pecado’. (Leituras alegóricas ou simbólicas desenvolvem circunstâncias em que tais membros nos levam a pecar....).

5. Jesus já havia sublinhado que o mal nasce no coração humano. Ele entende simplesmente de dizer que a possibilidade de queda do ser humano, sua atração para o mal, depende da sua natureza corpórea. Em outras palavras, é preciso evitar toda conivência com o mal.

6. Jesus está dizendo que a salvação, o seguimento tem suas exigências radicais, é necessário estar disposto a algum sacrifício ou distanciamento. Por isso ele usa essa imagem da mutilação dos membros mais preciosos. Uma escolha entre o Reino de Deus e o inferno (originalmente seria Geena... um vale ao sul de Jerusalém). 

7. Naturalmente entendemos que Jesus não recomenda a mutilação para evitar o pecado. Ele é a favor da vida. Sua linguagem é metafórica. Se trata de libertar-se de tudo aquilo que pode constituir um obstáculo à comunhão com Deus. Podemos aplica-lo às situações mais diversas e nos mais variados esforços.

8. Mas há ‘pequenos’ que nos escandalizam em seu seguimento pouco decidido, quem se mantêm à uma distância segura, que vivem a debater assuntos teológicos e não se comprometem de fato com o evangelho. Há aqueles que nos escandalizam por sua mentalidade fechada e querem impor aos outros o seu modo de pensar.

9. Há quem se apresente como modelo para os outros, por achar-se irrepreensível. Tais pessoas só me convenceriam se ao menos, vez em quando eu as ouvisse dizer: ‘não sei’, ‘não tenho certeza’. Se não tivessem sempre uma resposta para tudo. Pessoas assim me assustam em sua ‘impecabilidade’.

10. Por outro lado, há quantas pessoas já não escandalizei e continuo a escandalizar? Não irei atrás de uma pedra de moinho para colocar ao pescoço. Continuarei a me colocar de joelhos, como tantos outros, a bater no peito e reconhecer minhas culpas. Sentir-me um pecador, mas não afastar-me do Senhor, e deixar-me reeducar por sua Palavra de vida e salvação.

Pe. João Bosco Vieira Leite