23º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Is 35,4-7; Sl 145[146]; Tg 2,1-5; Mc 7,31-37)

1. Nesse domingo fica evidente na liturgia da Palavra, essa preferência de Deus pelos pobres, uma constante bíblica, anunciada hoje pelo profeta Isaias na 1ª leitura, atravessando a recomendação de Tiago no trato para com os mesmos na 2ª leitura e plenificada no atuar de Jesus no Evangelho.

2. A libertação dos pobres é sinal dos tempos messiânicos, e nesta linha situam-se os milagres de Jesus. Ele toma partido pelos pobres, marginalizados, enfermos e pecadores. Sempre no meio deles, concretiza a atenção de Deus para o ‘que estava perdido’.

3. Essa atenção para com os pobres não vem de serem melhores, mais justos e piedosos que os outros para merecerem o Reino de Deus, mas deve-se à bondade e à justiça de Deus, que não pode reinar sobre os seres humanos se não defendendo quem não tem outro defensor.

4. As leituras atuais do evangelho a partir do pobre oscilam entre uma leitura espiritualista evasiva ou vão numa escala socializante e revolucionária. Mas a atitude de Jesus sempre foi bastante equilibrada. Não foi um mero pacifista ou um profeta resignado e fatalista; soube também denunciar corajosamente o abuso de poder e as injustiças.

5. Para Jesus, a transformação mais irresistível e a mudança mais revolucionária vêm do amor e das bem-aventuranças. O esforço pela liberdade social e a promoção humana devem ser frutos da fé e do amor, realidades integrantes da salvação humana que Deus realizou em Cristo.

6. Advertindo a Judas: ‘pobres, sempre tereis entre vós’. Jesus adverte-nos que o joio continuará crescendo junto com o trigo até a colheita de Deus. Há desigualdades sociais que são frutos da injustiça; e outras são frutos dos diferentes talentos, aptidões, operosidades ou preguiça dos seres humanos. Não existe a panaceia universal do sonhado paraíso capitalista ou marxista.

7. É dentro desse quadro que compreendemos a opção da Igreja pelos pobres, seguindo os passos de Jesus. Compreendendo o ‘pobre’ em toda sua ampla perspectiva: socioeconômica, bíblica, cristológica, salvífica e eclesial. Todos esses aspectos são parcelas que mutuamente se iluminam e levam à compreensão religiosa integral do pobre.

8. É dentro desse quadro geral que permanece o desafio da missão da Igreja e dos cristãos, como Cristo, deve se encarnar nos pobres para realizar a salvação, a unidade e a fraternidade humanas em Deus.

9. Nossa fé e prática religiosa não pode ser uma espiritualidade evasiva que se refugia na esfera das relações com Deus, numa atitude ausente e insensível às realidades do mundo, do ser humano e dos problemas diários. Não foi esse o modelo de missão de Jesus. O compromisso temporal que brota da fé cristã é iniludível para todo cristão que é sincero discípulo de Cristo.

Pe. João Bosco Vieira Leite