(Is 35,4-7; Sl 145[146]; Tg 2,1-5; Mc 7,31-37)
1. Nesse domingo fica evidente na liturgia da
Palavra, essa preferência de Deus pelos pobres, uma constante bíblica,
anunciada hoje pelo profeta Isaias na 1ª leitura, atravessando a recomendação
de Tiago no trato para com os mesmos na 2ª leitura e plenificada no atuar de
Jesus no Evangelho.
2. A libertação dos pobres é sinal dos tempos
messiânicos, e nesta linha situam-se os milagres de Jesus. Ele toma partido
pelos pobres, marginalizados, enfermos e pecadores. Sempre no meio deles,
concretiza a atenção de Deus para o ‘que estava perdido’.
3. Essa atenção para com os pobres não vem de serem
melhores, mais justos e piedosos que os outros para merecerem o Reino de Deus,
mas deve-se à bondade e à justiça de Deus, que não pode reinar sobre os seres
humanos se não defendendo quem não tem outro defensor.
4. As leituras atuais do evangelho a partir do
pobre oscilam entre uma leitura espiritualista evasiva ou vão numa escala
socializante e revolucionária. Mas a atitude de Jesus sempre foi bastante
equilibrada. Não foi um mero pacifista ou um profeta resignado e fatalista;
soube também denunciar corajosamente o abuso de poder e as injustiças.
5. Para Jesus, a transformação mais irresistível e
a mudança mais revolucionária vêm do amor e das bem-aventuranças. O esforço pela
liberdade social e a promoção humana devem ser frutos da fé e do amor,
realidades integrantes da salvação humana que Deus realizou em Cristo.
6. Advertindo a Judas: ‘pobres, sempre tereis entre
vós’. Jesus adverte-nos que o joio continuará crescendo junto com o trigo até a
colheita de Deus. Há desigualdades sociais que são frutos da injustiça; e
outras são frutos dos diferentes talentos, aptidões, operosidades ou preguiça
dos seres humanos. Não existe a panaceia universal do sonhado paraíso
capitalista ou marxista.
7. É dentro desse quadro que compreendemos a opção
da Igreja pelos pobres, seguindo os passos de Jesus. Compreendendo o ‘pobre’ em
toda sua ampla perspectiva: socioeconômica, bíblica, cristológica, salvífica e
eclesial. Todos esses aspectos são parcelas que mutuamente se iluminam e levam
à compreensão religiosa integral do pobre.
8. É dentro desse quadro geral que permanece o
desafio da missão da Igreja e dos cristãos, como Cristo, deve se encarnar nos
pobres para realizar a salvação, a unidade e a fraternidade humanas em Deus.
9. Nossa fé e prática religiosa não pode ser uma
espiritualidade evasiva que se refugia na esfera das relações com Deus, numa
atitude ausente e insensível às realidades do mundo, do ser humano e dos
problemas diários. Não foi esse o modelo de missão de Jesus. O compromisso
temporal que brota da fé cristã é iniludível para todo cristão que é sincero
discípulo de Cristo.
Pe. João Bosco Vieira Leite