(Is 50,5-9; Sl 114[115]; Tg 2,14-18; Mc 8,27-35).
1. A 1ª leitura de hoje nos traz um dos
cantos do servo sofredor, aplicados a essa atitude de entrega e obediência de
Jesus ao plano salvador que passa pela paixão e morte. Tema da 2ª parte do
evangelho. Tiago nos recorda a prática da fé por ações concretas em favor dos
mais necessitados.
2. Mas é em torno do Evangelho que a
nossa reflexão se concentra, ainda que numa ou noutra circunstância, as outras
leituras acabem se encontrado com o mesmo. Outra vez é Pedro que nos ajuda a
tomar consciência das exigências de nossa vocação cristã, do crer e do viver.
3. A nossa fé não é um simples
sentimento de confiança em Deus. Esse sentimento baseia-se também numa certeza
da inteligência. Crer é, antes de mais, aderir sem reservas à verdade que
Cristo nos ensina. E o nosso Evangelho está cheio de algumas dessas verdades.
4. Essa confissão de Pedro que
acompanhamos em Marcos confirma a divindade de Jesus através do título de
Messias, mas deixa de fora outras verdades colocadas por Mateus: a origem
divina da Igreja, fé nessa liderança exercida pelo papa. E esta confissão de
Pedro se dá, num momento de forte oposição a Jesus.
5. Enquanto esperavam um Messias que
restabelecesse o prestígio de Israel e submetesse o mundo inteiro pela força
das armas, Jesus lhes propõe a conquista de si próprios. A praticar a justiça,
a caridade, o arrependimento, a renúncia.... Suas palavras soam difíceis...
6. Por isso Ele se afasta da Galileia,
meio desiludido com as reações. Aproveita esse breve exílio em território de
maioria pagã para complementar a formação dos discípulos que não o abandonaram
e dos doze em particular. Assim começa perguntando-lhes sobre o que pensam dele
as pessoas.
7. Os discípulos contam com
simplicidade o que ouviam dizer. Entre as figuras dos profetas mencionados, não
aparece o título de Messias. Em seguida Jesus lhes coloca de maneira direta o
problema: e vocês, que dizem de mim? Sem hesitação, Pedro vai além das crenças
judaicas.
8. Os discursos anteriores de Jesus lhe
tinham rasgado horizontes muitos vastos. E os séculos seguintes continuarão a
falar de Jesus e a produzir literatura sempre abundante sobre Ele. A pergunta
de Cesareia de Filipe continua na pauta do dia, ainda que as opiniões possam
ser contraditórias.
9. Nesse mês em que celebramos a
Palavra, somos lembrados desse exercício necessário do conhecimento de Cristo a
partir de suas fontes, não tanto do que dizem a respeito dele. São Jerônimo
dizia que ignorar as escrituras é ignorar a Cristo.
10. Continuará sempre um desafio a
união das duas naturezas, divina e humana em Jesus, mas é a única explicação
que respeita a sua perfeita unidade, toda a sua grandeza e toda a sua beleza
humana. Jesus é tão verdadeiramente homem como Deus. Seremos felizes se o
podermos compreender por completo, como Simão Pedro o foi.
Pe. João Bosco Vieira Leite