(Sb 2,12.17-20; 53[54]; Tg 3,16—4,3; Mc 9,30-37)
1. Desde o domingo anterior Jesus está
fazendo um longo caminho com seus discípulos, que, segundo Ele culminará na
cruz, que os discípulos resistem em compreender. Mas seu ensinamento não se
retém nessa realidade, Ele expande a visão dos discípulos para o modo de ser e
viver enquanto caminhamos.
2. Podemos perceber como as leituras se
ligam ao evangelho. A primeira parte, sobre a morte e a ressurreição, que Jesus
trata pela segunda vez, se liga a 1ª leitura; a segunda parte do evangelho, tem
relação com a 2ª leitura e a dimensão do serviço.
3. Na realidade, os discípulos têm
dificuldade de entender o anúncio da cruz, porque estão preocupados com a
primazia e precedência no reino político que aguardam. Que paciência a de Jesus
procurando instruir os Apóstolos com tão nulo resultado.
4. Mas Jesus não se deixa vencer, sabe
esperar melhores tempos de compreensão pascal do seu mistério pessoal. É normal
que ajam assim, seus discípulos não são anjos, nem santos ainda. Ninguém está
ao abrigo da ambição e da rivalidade. Quando questionados sentem vergonha.
Humanos demais para estarem tão perto de Deus.
5. “Quem quiser ser o primeiro, que
seja o último e o servidor de todos”. Esta é a segunda instrução básica que
Jesus pretende inculcar em seus amigos. Uma dimensão assim da importância
pessoal é tão desconcertante como predizer os sofrimentos do Messias.
6. Jesus afirma categoricamente que
seus discípulos devem mudar a ambição do poder pela atitude de serviço. A
coexistência de ambos os extremos é impossível, pois a ambição é o câncer do
serviço. Vemos que todo homem e mulher, seja criança, jovem ou adulto, luta
pelo poder e pelo domínio; e não somente os políticos.
7. Desde o ambiente familiar ao
contexto das superpotências mundiais, passando pelo lugar de trabalho e
qualquer espaço social, a questão onipresente é fazer ver quem é que manda.
Sofremos a tentação quase irresistível de poder e domínio.
8. A questão não é a exclusão de chefes
ou líderes, mas a consciência que sua primazia ou autoridade consiste em servir
aos outros, ao grupo, à comunidade. Isto requer muita abnegação, renúncia aos
próprios interesses, e grande ascese de espírito.
9. O verbo ‘servir’ está na moda e é
rentável. ‘Servir melhor é nosso prazer’, são lemas cotidianos das firmas
comerciais e dos profissionais. ‘Servir ao povo’ é lema dos políticos e pessoas
públicas, sobretudo nas campanhas eleitorais. Mas por estes serviços, exige-se
a fatura do cliente, em dinheiro ou em poder.
10. Não é esta a prestação de serviço
que Jesus propõe a seus discípulos, mas um serviço sem fatura. Não o formalismo
do ‘seguro servidor’ de quem espera compensar-se de outra forma, mas a entrega
incondicional e desinteressada. Temos de libertar o verbo ‘servir’ do sequestro
que ele sofre em nosso ambiente.
11. A comunidade de Marcos está
traduzindo certa experiência dos problemas diários que surgem nas relações
comunitárias. O grupo faz também revisão de vida, dentro de um sentido de
conversão e de amor fraterno. Translademos para o momento presente a situação
passada e acentuemos as necessidades de conversão ao ritmo da história
atual.