17º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(2Rs 4,42-44; Sl 144[145]; Ef 4,1-6; Jo 6,1-15)

1. A partir deste domingo, até o 21º, interrompemos a leitura de Marcos para iniciarmos a leitura de quase todo o capítulo 6 de João, que começa onde interrompemos Marcos, na multiplicação dos pães realizada por Jesus, onde se acrescenta o sermão sobre o pão da vida, aprofundando o tema da fé em Jesus também como pão eucarístico.

2. Lembremos que João tem um estilo próprio. Seu evangelho, além de uma reflexão mais profunda, tem um estilo de movimento em espiral, voltando sobre o tema e acrescentando um elemento novo, daí as frequentes repetições de ideias e vocabulários nos escritos joaninos, gerando certa dificuldade de sistematizar seu pensamento.

3. A multiplicação dos pães é o único milagre do ministério público de Jesus que é narrado pelos quatro evangelistas, e com notáveis coincidências. O que já nos dá a importância desse sinal aos olhos da comunidade primitiva. Mas além do plano histórico, temos que levar em conta o plano teológico do nosso autor.

4. João faz notar que a Páscoa estava próxima, numa clara referência de que sua carne será a comida da nova Páscoa que Ele inaugura. Notamos a relação entre a 1ª e a 2ª a leitura, mas também a desproporção entre a quantidade de pães e o número de pessoas alimentadas, nesta solidária partilha de dons.

5. A fome segue, ao longo dos séculos, não só de pão material; temos fome de palavras e de espírito, de dignidade e de direitos humanos, de cultura e de desenvolvimento, de paz e de justiça, de solidariedade e realização pessoal. Cristo se apresenta a nós como o pão da vida total, como veremos em suas palavras nos próximos domingos.

6. João qualifica os milagres de Jesus com o termo ‘sinal’, como um fato extraordinário da fé, que leva o discípulo a fundamentar a sua fé em Jesus Cristo, como Filho de Deus, que a finalidade global do evangelho de São João.

7. O povo interpreta esse sinal de Jesus como uma manifestação messiânica, e têm presente a ação profética de Eliseu, na 1ª leitura e a ação de Moisés no deserto, mas com esta vem uma interpretação política e triunfalista, tentação na qual Jesus não cai nem cairá.

8. A narrativa de João tem uma intenção eucarística e sacramental, como podemos perceber nos gestos que precedem a multiplicação e a hora da tarde, em que Jesus celebrou a ceia com seus discípulos. Nesse quadro ‘litúrgico’, ao final percebemos a preocupação em recolher o que sobrou.

9. Essa condição itinerante do novo povo de Deus que é a Igreja, peregrina pelo deserto da vida, como o antigo Israel, tem em Jesus, o pão da vida, aquele que saciará a fome e a sede do novo Povo ao longo dos séculos.

10. Repartir o pão eucarístico é e continuará a ser a obra da Igreja, do mesmo modo que a solidariedade com os que padecem fome de ‘pão’ em suas múltiplas formas: físicas, afetivas e espirituais. Por isso a fé e o amor cristão devem partir da eucaristia para a arena da vida, pois amor e fé devem socializar-se, encarnar e operar nas realidades da vida. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite