(Jr 23,1-6; Sl 22[23]; Ef 2,13-18; Mc 6,30-34)
1. Esse domingo do Tempo Comum nos traz
uma preciosa sequência de textos bíblicos. Começando pelo Evangelho, seguimos a
sequência dos fatos da vida e da missão de Jesus, que envolve os seus
discípulos, conforme o evangelho do domingo anterior, os doze, enviados dois a
dois, como testemunhas daquele que os enviou.
2. Envia-os leves, sem nada a que se
agarrar ou distrair. A sua única bagagem é o Evangelho. E se estivermos lembrados
das palavras de Jesus: ‘Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, ali estou
eu no meio deles’ (Mt 18,20), estavam bem acompanhados.
3. Nossa leitura do evangelho de Mc
pula a narrativa popular do martírio de João Batista, para nos colocar nesse retorno
dos apóstolos de sua missão, onde narram tudo o que tinham feito e ensinado.
Dele partem e a Ele regressam. Tudo que fizeram e ensinaram tinha Jesus como
única referência.
4. O leitor atento vai se dar conta que
a rejeição de Jesus ao início do capítulo 6 e a morte de João Batista, tendo a
missão dos apóstolos no meio quer indicar alguma coisa... Provavelmente uma
comunhão na rejeição e no martírio...
5. Marcos não se refere mais a eles
como os doze, mas os chama de apóstolos. Jesus os chama à comunhão com Ele
separando-os da multidão que os apertava, para um lugar deserto. No evangelho
de Marcos, a ‘barca’ demarca um espaço privilegiado que Jesus convive
unicamente com seus discípulos.
6. Nada nos é dito sobre a conversa na
travessia. Ao sair da barca, eis de novo a multidão. E novamente Marcos põe em
vidência esse olhar de Jesus: ‘viu’ uma numerosa multidão e teve compaixão.
Este ‘ver’ de Jesus desencadeia um agir novo e decisivo.
7. O olhar de Jesus abre para uma
página de sublime misericórdia, que o leva a reunir a abraçar aquela multidão
de ovelhas sem pastor, e ensina-las demoradamente. Depois Jesus repartirá com
eles o pão, mas ao pão do espírito, precede o pão da palavra, como fazemos
ainda hoje em nossas celebrações.
8. Jeremias vê bem a ruina dos
poderosos, mas vê e sente na própria pele também a desgraça que se abate sobre
os pobres, porque não há pastores bons e justos que lhes indiquem o caminho a
seguir. O conceito de pastor no Antigo Testamento é bastante amplo e se refere
a reis, sacerdotes e profetas.
9. Mas seus olhos não ficam enterrados
na lama, mas já vê vir ao longe um novo pastor, bom e justo que trará a
salvação, que vem da descendência de Davi. Tudo aponta para Jesus, o Bom e Belo
Pastor, que sente compaixão de suas ovelhas, como nos indica o Evangelho.
10. Na lição da carta aos Efésio, Paulo
põe diante de nós todos, judeus e pagãos, a ação salvadora e unificadora de
Jesus Cristo. Aproximando-se de todos, aproximou-nos a todos, os de longe e os
de perto. O Evangelho, que é Cristo, une, reúne, enlaça, entrelaça, gera
fraternidade. Bem à vista do Evangelho de hoje.
11. Por fim, o nosso salmista nos
lembra que todo tempo é tempo para nos deixarmos conduzir pela mão carinhosa e
pela voz maternal e melodiosa do Bom e Belo Pastor, cantado no salmo 22.
Estamos aqui para o banquete que Ele mesmo nos preparou em torno de Sua Palavra
e da Eucaristia. É sempre uma alegria a família reunida.
12. Desse evangelho que ouvimos se
segue o milagre do pão, mas para aprendermos a ver a Jesus no pão, nos próximos
cinco domingos, não leremos Marcos, mas João 6, que contém o grande discurso do
pão da vida. Peçamos a Jesus, o bom Pastor, que nos guie por Sua palavra e nos
sustente pela Eucaristia, pois o vale ainda segue tenebroso.
Pe. João Bosco Vieira Leite