15º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Am 7,12-15; Sl 84[85]; Ef 1,3-14; Mc 6,7-13)

1. A nossa liturgia da Palavra desse domingo está construída sobre a escolha e o envio, por parte de Deus, seja do profeta Amós, na 1ª leitura, dos Doze no Evangelho, ou mesmo dos cristãos, conforme Paulo na 2ª leitura. O envio é feito ao povo, não à elite religiosa, revelando-nos esse viés da religiosidade popular.

2. Assim faz Jesus, enviando dois a dois aqueles que ainda estavam buscando compreender melhor o próprio Jesus. O envio é caracterizado mais pela ação do que pelas palavras, pela disponibilidade e pela confiança na providência divina, daí entendermos esse não ‘levar’ de coisas.

3. O texto deixa claro a possibilidade da recusa, assim como foi para os profetas no passado. Amós foi enviado em meio à corrupção social e religiosa no tempo de Jeroboão II, anunciando o castigo divino para seu povo, por isso é mandado a pregar em outra ‘praça’.

4. Acompanharemos nos sete domingos seguintes a leitura semi-contínua da carta de Paulo aos Efésios, escrita durante sua prisão em Roma. O que ouvimos hoje é uma espécie de hino que expressa a gratidão amorosa do plano salvador de Deus, as bênçãos espirituais do plano divino da salvação.

5. Como havíamos dito, o povo é o alvo da ação e pregação dos enviados. Para além das estruturas religiosas de cada tempo, a religiosidade do povo apresenta características próprias, a estima e o estudo dessa religiosidade tem oscilado conforme as épocas e correntes, passando pelo abandono, desprestígio e mesmo interesse como em nossos dias.

6. A religiosidade popular é, pois, um fato complexo que está constituído pela vivência e expressão populares da fé e das crenças (festas populares, dos padroeiros, santuários, romarias, peregrinações, confrarias, procissões, imagens, etc.). Entre os múltiplos elementos uns nascem de uma autêntica vivência religiosa e são, ao mesmo tempo, expressão válida da fé, por isso às vezes se integram no culto oficial.

7. É verdade também que existem algumas deformações, resíduos do paganismo, magia ou superstição. Nem tudo na religiosidade popular é grão limpo ou puro. Daí a preocupação contínua nesses últimos tempos de uma evangelização e catequese adequadas que aproveite, proporcione e potencie tudo que é autêntico e válido.

8. Seu amplo leque social e sua capacidade de congregar multidões em determinadas ocasiões facilita a missão universal da Igreja e a promoção de uma pedagogia evangelizadora do catecismo popular. A mensagem do evangelho não está reservada aos iniciados ou privilegiados.

9. Evangelizar sempre de novo, é a dinâmica da nossa caminhada eclesial, pois cada tempo sofre suas influências negativas com fortes desafios para a fé do nosso povo. A palavra chave é ‘inculturação’. O anúncio do Evangelho não pode deixar de tomar elementos da cultura e das culturas humanas, para comunicar a boa nova da salvação.

10. E aqui estamos nós, em meio a esse processo, deixando-nos re-envagelizar por essa Palavra que nos é comunicada de novo, para purificar e fortalecer a nossa fé, se nos deixamos envolver pela mesma.  

Pe. João Bosco Vieira Leite