(2Ts
1,1-5.11-12; Sl 95[96]; Mt 23,13-22)
21ª Semana do tempo Comum.
No evangelho de hoje vemos Jesus
desferir várias repreensões aos mestres da lei e fariseus. Trago aqui a
interpretação de Anselm Grun para esse texto: “Não pretendo interpretar
cada uma das invectivas individualmente. Elas devem ser vistas como uma
advertência contra o abuso espiritual que acontece hoje, sobretudo no
aconselhamento espiritual personalizado, mas também no caso de alguns gurus
espirituais dentro e fora da Igreja que são hábeis quando se trata de
entusiasmar as pessoas para Cristo, mas se aproveitam inconscientemente desse
entusiasmo para prender as pessoas a si próprios. Mateus calcula que nas
comunidades cristãs também devem existir escribas que interpretam a mensagem de
Jesus na perspectiva do Antigo Testamento. As invectivas se aplicam também a
esses escribas cristãos: mesmo falando do Reino dos céus, não entram nele. Eles
não se envolvem verdadeiramente com Deus e com seu senhorio. Com as suas
explicações, eles gostariam de mandar em Deus sobre o qual eles sabem tudo.
Como eles próprios não entram, impedem até mesmo os seus ouvintes de entrar no
Reino dos céus (23,13). A segunda invectiva (23,15) tem em mira os mestres
espirituais que transformam os outros em dependentes e os seduzem a um
fanatismo cego. Essa experiência não deve ficar restrita naquele tempo aos
próprios cristãos que se viram acossados com paixão especial pelos
recém-convertidos por missionários judeus. É uma experiência que vale até hoje.
Os adeptos fanáticos de mestres espirituais são intolerantes. Eles podem ser
usados para toda e qualquer maldade, cometem atentados suicidas, insultam os
fiéis de outras crenças e se mostram intransigentes. A terceira invectiva
destoa das outras. Mateus dispensa a introdução rotineira quando se dirige
apenas aos ‘guias cegos’, explicando-lhes como distorcem o sentido da prática
religiosa porque insistem em normas mesquinhas, como, por exemplo, nas
circunstâncias precisas em que o juramento ganha validade absoluta (23,16-22).
Parece uma controvérsia estranha para nós. Mas hoje vemos distorções
semelhantes no mundo da religião. Regras externas são tidas como mais
importantes do que o sentido da religiosidade. Muitas vezes, o pensamento obsessivo
é alimentado por diretrizes mesquinhas desse jaez. As pessoas são levadas a
atos compulsivos, dos quais dificilmente conseguirão livrar-se mais tarde” (Anselm
Grun – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite