Assunção de Nossa Senhora – Missa do dia – 2018

(Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; Sl 44; 1Cor 15,20-26; Lc 1,39-56)

1. A festa da Assunção é também celebrada no sentido de festa da vitória. O amor venceu. Venceu a vida. Deus tem a última palavra sobre a nossa existência. Maria desfruta, em corpo e alma, dessa realidade plena. Afirmamos que ela vive com Deus. Aquele que um dia a deu como Mãe, ao pé da cruz, a tem consigo e nós a temos conosco porque Ele está em nosso meio.

2. O evangelho de nossa solenidade traz o canto entoado por Maria quando de sua visita a Isabel. Para muitos ele é um reflexo da alma de Maria, da sua personalidade. Não podendo nos reter em todo o seu conteúdo, poderíamos refletir brevemente sobre dois pontos destacados por Bento XVI.

3. O 1º está na frase inicial: “A minha alma engrandece o Senhor”. Deus é grande, diz Maria. Ela deseja que essa consciência da grandeza de Deus não seja só para ela, mas para o mundo, para todos nós. Deixar-nos envolver por sua grandeza sem o falso temor de que assim Ele venha nos tirar algo da nossa liberdade.

4. Ela sabe que se Deus é grande, nós também somos grandes. Nossa existência não é oprimida, mas alargada. Nossos primeiros pais caíram na tentação de pensar que colocando Deus de lado teriam mais espaço para eles mesmos. Passaram a ver Deus como um concorrente.

5. Nossa modernidade também trouxe de volta esse pensamento. Os tais mandamentos divinos tornam estreito o espaço da existência humana. Melhor sem Ele, para fazermos o que queremos. Jesus nos falava dessa mesma ilusão com a chamada ‘parábola do filho pródigo’. Certo tempo depois ele se dá conta que afastando-se do pai, em vez de ser livre, tornou-se escravo.

6. Essa pretensa autonomia que buscamos, tem nos levado a perceber que onde Deus desaparece, o homem não se torna grande; ao contrário, perde a dignidade divina e passa a ser produto de uma evolução cega, onde pode ser usado e abusado.

7. Maria nos convida a entender que somente quando Deus é grande, o homem também é grande. Que não devemos nos distanciar d’Ele, mas fazê-lo presente e grande em nossa vida, seja pública ou privada. Dar espaço todos os dias pela oração, pelo testemunho pessoal, pelo nosso encontro dominical com Ele. Não perdemos nosso tempo livre se o oferecemos a Ele, pois é a Sua presença que o enriquece e o torna mais amplo.

8. O segundo ponto, lembra-nos Bento XVI, é que esse canto de Maria, por mais original que possa parecer, foi ‘tecido’ com fios do Antigo Testamento, da Palavra de Deus. Assim Lucas nos apresenta Maria como alguém ‘em casa’, conhecedora da Palavra, orientada, em sua vida e em suas escolhas pela Palavra.

9. “Quem pensa com Deus pensa bem, e quem fala com Deus fala bem. Tem critérios de juízo válidos para todas as coisas do mundo. Torna-se sábio, prudente e, ao mesmo tempo, bom: torna-se também forte e corajoso, com a força de Deus que resiste ao mal e promove o bem no mundo” (Bento XVI).

10. Nós que também somos filhos de Maria, sigamos seu exemplo, acolhamos seu convite a conhecer, amar e viver com a Palavra, para que Deus seja grande e nos ajude a interpretar a realidade de nossa vida e também da realidade nova que experimenta a Virgem que veneramos.

11. Pois estando em Deus, ela está próxima de nós, participa dessa aproximação de Deus, que conhece o nosso interior e pode ajudar-nos com sua bondade materna, escutando-nos. A Ela podemos confiar sempre toda a nossa vida. Damos graças ao Senhor pelo dom da Mãe, afim de que ela nos ajude a encontrar o caminho justo todos os dias.

 Pe. João Bosco Vieira Leite