(Jr 31,31-34; Sl 50[51]; Mt 16,13-23)
18ª Semana do Tempo Comum.
“Então Pedro tomou
Jesus à parte e começou a repreendê-lo, dizendo: ‘deus não permita tal coisa,
Senhor! Que isso nunca te aconteça!” Mt 16,22.
“Depois da clara
profissão de fé em Jesus por parte de Pedro, e depois dos elogios de Jesus,
segue uma cena diametralmente oposta, uma história contrastante. Mateus gosta
de contrastes. Trata-se de um recurso estilístico que podemos observar
repetidamente em seu evangelho. Jesus declara aos discípulos que deverá
enfrentar a Paixão. Pedro, então o toma à parte e o censura: ‘Deus te livre
disso, Senhor. Não, isso não te sucederá’ (Mt 16,22). Mas Jesus repreende com
veemência: ‘Afasta-te! Para trás de mim, Satanás! Tu és para mim ocasião de
queda, pois teus intentos não são os de Deus, mas os dos homens’ (16,23). É uma
palavra muito dura de Jesus. Se tivermos Pedro em conta de modelo do homem que
crê, essas palavras deverão aplicar-se também a nós. É bom acreditar em Jesus
que nos conduz à liberdade e à vida. Mas tudo indica que, seguindo-o, não
escaparemos da questão da Paixão. Não se trata apenas da imagem correta de
Jesus que decepciona as expectativas que Pedro nutre a seu respeito, está em
jogo também a visão correta do que seja ser cristãos. Quer queiramos ou não, o
sofrimento nos alcançará, mesmo que seja só na hora da morte. Uma interpretação
do caminho cristão que excluísse o sofrimento deixará Jesus de lado. Na Igreja,
temos colocado com frequência a Paixão no centro da prática religiosa,
provocando com isso em muitos fiéis uma obsessão masoquista pelo sofrimento.
Mas nem por isso podemos cair no extremo oposto, procurando evitar a Paixão, do
contrário estaremos erguendo castelos no ar. Jesus gostaria de acompanhar-nos
justamente nas situações em que sofremos pelas mãos dos homens, em que estamos
entregues à mercê deles, em que precisamos encarar a morte” (Anselm Grum
– Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira
Leite