(Ex 16,2-4.12-15; Sl 77[78]; Ef 4,17.20-24; Jo 6,24-35)
1. Nossa liturgia da Palavra se abre
com essa recordação de um dos momentos da travessia, aquele que se definiria o
tipo de alimento que sustentaria o caminho no deserto. Na realidade o pão que
alimentaria o povo seria uma profunda fé em Deus, por isso o maná é uma
realidade entre sua realidade material e seu valor simbólico.
2. O caminho da liberdade tem seus
momentos de fragilidade, pois sempre choraremos a nossa condição anterior,
particularmente quando as dificuldades aparecerem. Esse que alimenta o seu povo
com o ‘pão que vem do céu’, se propõe todos os dias em seus Mandamentos para
que se construa um caminho de liberdade.
3. Tudo isso implica uma mudança de
mentalidade, que começa a partir da mudança de hábitos e comportamentos. Paulo
escreve a uma comunidade que tem em seu seio pagãos convertidos. Ele acredita
que o encontro decisivo com Cristo, que questiona a maneira de ser e dos
valores de referência, pode fazer toda a diferença. É Cristo esse homem novo
que se propõe como modelo aos que fazem um caminho de liberdade.
4. Os que testemunharam a multiplicação
dos pães estão atrás de Jesus, não tanto por sua proposta de vida, mas pelo pão
fácil, sem esforço pessoal. Mais do que buscar o alimento material, eles
deveriam buscar um outro alimento, que provoca profunda mudança no modo de ver
a vida e as relações.
5. Jesus os está indicando o caminho da
fé, que não consiste tanto em fazer algo por Deus, mas confiar em Deus e
deixar-se conduzir por Aquele que Ele mesmo nos enviou.
6. Jesus não se encaixa nessa figura
que deve fazer coisas extraordinárias para suscitar a fé, fruto, muitas vezes,
de desejos egoístas. Ele veio manifestar a misericórdia de Deus, enxergar um
pouco além da materialidade de nossas necessidades e visão da vida. Eis que o
pão é o próprio Jesus, assim se apresenta para aqueles que O buscam de coração
sincero.
7. Jesus propõe um justo equilíbrio
entre a nossa disposição em servir a Deus porque Ele nos oferece algo em troca
e o reconhecimento da capacidade humana de produzir sua sobrevivência a ponto
de dispensar a Deus do seu horizonte existencial.
8. Ele não veio alterar a natureza das
coisas, mas mostrar que a fé também é capaz de realizar ‘milagres’, diante
daquilo que eles mesmos testemunharam, mas essa mesma fé precisa ser alimentada
continuamente. Assim Ele se propõe como alimento para um caminho de liberdade
que queremos fazer, e ‘o preço da liberdade é a vigilância contínua’.
9. “Senhor Deus, livrai-nos de
uma religião utilitarista, que nos leva a esperar de Deus a solução dos nossos
problemas, em grande parte materiais. Ajudai-nos a descobrir o verdadeiro
sentido da fé que nos revelastes na vida e na morte do vosso Filho. Fazei que,
alimentando-nos d’Ele, verdadeiro pão descido do Céu, saibamos adotar o Vosso
projeto de salvação, que consiste na procura corajosa da justiça e da liberdade
de todos” (Giuseppe Casarim – Lecionário Comentado –
Paulus).
Pe. Joao Bosco Vieira Leite