21º Domingo do Tempo Comum – Ano B


(Js 24,1-2a.15-17.18b; 33[34]; Ef 5,21-32; Jo 6,60-69).

1. Esse domingo encerra a reflexão em torno do discurso do Pão da Vida, a partir do capítulo 6 de São João, interrompido no domingo anterior. A fé em Deus e em sua Palavra estão no centro da nossa reflexão.

2. A assembleia convocada por Josué na 1ª leitura é um desses momentos em que a caminhada do povo de Deus, para avançar, necessitava de uma profunda renovação da fé Naquele que fez e fará.  Mas essa aliança renovada continuamente fica sempre na dependência da observância dos mandamentos do Senhor, de sua Palavra.

3. A relação matrimonial entre um homem e uma mulher tem também por base uma aliança estabelecida entre ambos. Mas Paulo propõe algo ainda mais alto: tomar como modelo dessa relação aquela que se estabeleceu entre Cristo e a Igreja.

4. Daí podemos compreender essa submissão da mulher ao marido, tomando a Cristo como cabeça desse corpo que é a Igreja, pois Cristo, o esposo, deu por ela a própria vida. Paulo está trabalhando sobre imagens já usadas no Antigo Testamento, quando Israel era visto como a esposa de Deus.

5. Paulo não pensa tanto numa atitude servil, mas nos padrões culturais da época, o homem aparece como guia da família, e convidado a amar a sua esposa como a si mesmo, não poderá abusar de tal ‘submissão’. As famílias que formam a comunidade cristã são chamadas a viver uma relação mais significativa, tendo a Cristo como referência de entrega, amor e doação. Mesmo em novos tempos, os desafios permanecem.

6. A palavra dura escutada pelos que ouviam Jesus, foi o convite a comer de Sua carne e a beber o Seu sangue. Mas tal compreensão das palavras de Jesus só é possível se ultrapassarem as aparências para entenderem a realidade espiritual ali oculta, pois outros fatos virão a desafiá-los na compreensão do mistério da Sua pessoa.

7. Jesus está novamente exigindo aquilo que se tornou difícil aos seus contemporâneos: uma fé capaz de fazer uma releitura dos fatos passados em suas relações com Deus e perceber em Jesus a novidade e a potencialização de uma comunhão entre Deus e o Seu povo, desejada e projetada desde sempre.

8. Mas Ele recorda que tudo isso está envolto em um certo mistério, pois é o Pai quem conduz à fé no Filho. Por isso não faz concessões para que permaneçam. Ali já começa o drama da Paixão, da solidão experimentada na Cruz, mesmo dos doze, que perplexos, ainda permanecem.

9. Vivemos um tempo de muitas Palavras, onde precisamos discernir o que de fato contribui para o nosso crescimento humano e espiritual. A indagação de Josué no passado sobre a fé em Deus, tinha a ver com uma nova realidade de outros povos ao entorno, que não comungavam da mesma fé.

10. Mas sabemos que esse mesmo povo mergulhou num ritualismo profundo como busca de uma identidade social, cultural e política, sem atingir de modo profundo a própria vida. Daí a proposta de Jesus ser algo impossível. O cristianismo correu e corre sempre o mesmo risco, se a nossa fé não estiver assentada na pessoa de Jesus, não tanto em normas e ritos.

11. Somos desafiados a comungar dessa mesma fé de Pedro, que mesmo não entendendo tudo, sabe que a palavra de Jesus traz em si algo diferente. Isso serve para as decisões da vida pessoal ou da vida em comum, como casal, no cuidado de um pelo outro, pelos filhos, e dessa relação, o cuidado pela vida no seu todo, como ensinou e viveu Cristo Jesus.

 Pe. João Bosco Vieira Leite