(At 13,14.43-52; Sl 99[100]; Ap 7,9.14b-17; Jo 27-30)
1. As dificuldades enfrentadas pelo
cristianismo em seu começo, são as mesmas que o nosso tempo tem conhecido em
alguns países pela intolerância religiosa e até piores. Encontramo-nos com
Paulo e Barnabé, em nossa 1ª leitura, enviados em missão, aceitos pelo povo,
repudiados pelas autoridades religiosas locais que se servem de suas
influências para livrarem-se dos mesmos.
2. O texto nos leva a refletir também
com relação a uma certa posição de defesa que assumimos cada vez que nosso modo
de viver a fé é questionado. Algo natural. Mas quem não se deixa questionar
perde também a chance de crescer. A experiência dos apóstolos é a mesma de
Cristo na sinagoga de Nazaré. Eles seguiram adiante, apesar de tudo.
3. Essa página do livro Apocalipse é
lida na festa de Todos os Santos. Um dos mistérios revelados por Aquele
que está sentado no trono de Deus e que se apresenta como o Cordeiro diz
respeito aos sofrimentos do mundo. Estes sempre nos desafiaram na
busca de significado, aqui eles aparecem como vitoriosos em suas lutas, pois
suportaram perseguições e tribulações pela busca da justiça e de vida para
todos, como fez o Cordeiro.
4. Se com o Cordeiro eles se
identificam de algum modo, este aparece também como Pastor. Um guia, uma
referência do que significa dar a própria vida. Aos perseguidos que escutam
essa palavra, João quer levar conforto e ao mesmo tempo luz, para que se deixem
guiar por aquele que é ao mesmo tempo Cordeiro e Pastor.
5. Esse 4º domingo da Páscoa é dedicado
a temática do Bom Pastor a cada ano. A atividade pastoril é muito explorada
como tema de reflexão em toda a bíblia, por essa proximidade social e cultural.
Do Deus Pastor do seu povo, passamos a Jesus como bom e verdadeiro pastor. A
realização das promessas feitas ao povo não podia ter melhor expressão.
6. Por detrás dessa imagem se esconde
uma figura meiga e suave em sua relação pessoal com o rebanho; ao mesmo tempo
enérgica e decidida quando se trata de defender as ovelhas. Esse segundo
aspecto transparece mais no trecho que escutamos. Casa melhor com tempo pascal
pela iniciativa e pela coragem com que Jesus entregou a sua vida por todos.
7. A identificação de cada individuo
com esse Pastor nasce de sua escuta e do seu seguimento, para não confundir com
nenhuma instituição ou práticas religiosas, mas com os anseios do Reino que Ele
nos revelou. Ele nos atrai a si e pela Sua palavra constantemente dirigida nos
oferece a chance de discernir quem é o verdadeiro Pastor. É preciso sempre
apurar a escuta.
8. Muitas vozes chegam a nós, querem
nossa atenção, prometem ‘mundos e fundos’. O discernimento é sempre necessário.
Ser cristãos não é fácil; é algo mais que uma simples doutrina religiosa. O
processo de escuta passa pelos nossos líderes, atravessa as realidades comuns
da vida, seja de alegrias, dores, derrotas e lutas e sentir o que Deus deseja
de cada um de nós.
9. Colocar-se nas mãos de Deus é uma
atitude; saber-se em suas mãos é uma questão de fé. A unidade de vida que
buscamos com Deus, cultivada por Jesus é o nosso modelo. O nosso Pastor orante,
acolhedor, compassivo e misericordioso nos convida a ouvir sua voz e a seguir
os seus passos, pois às vezes somos também pastor, noutras tantas, ovelha
necessitada de cuidados. Saibamos colocar-nos em suas mãos para sermos guiados
e cuidados.
Pe. João Bosco Vieira Leite