Terça, 01 de abril de 2025

(Ez 47,1-9.12; Sl 45[46]; Jo 5,1-16) 4ª Semana da Quaresma.

“Jesus disse: ‘Levanta-te, pega a tua cama e anda’” Jo 5,8.

 “O doente pega a sua maca e anda. A maca é símbolo de sua doença. Gostaríamos de nos livrar dos sintomas de nossa doença. Gostaríamos de lagar nosso medo, a nossa insegurança e as nossas inibições. Gostaríamos de nos levantar quando nos sentimos seguros. Mas o doente deve levantar-se a partir de sua fraqueza. Deve pegar os sinais de sua enfermidade e fraqueza e carrega-los consigo. Não deve ficar amarrado à cama, mas andar com as suas inibições. Estas já não o paralisam. Podem continuar existindo. Esta é a verdadeira cura: lidar de outra forma com os sintomas que costumam emperrar a nossa vida. Mais dois aspectos são importantes nessa história de cura. Jesus cura na piscina de Betzatá, da qual os homens esperam a sua cura. Jesus cura pela sua palavra. Esta palavra põe o doente em contato com a fonte interna que brota dentro dele. Trata-se, em última análise, da fonte divina, da fonte do Espírito Santo, que já foi mencionada na conversa com a samaritana. O ser humano não se cura pelos bons conselhos que lhe damos, ele se cura pelo contato com a fonte interior, com os recursos próprios que existem dentro de cada um de nós. João está convencido de que a origem propriamente dita da doença está na interrupção da corrente da vida divina. Por isso, a verdadeira cura só pode vir da religação à vida divina. A verdadeira cura não pode limitar-se à cura dos sintomas. O ser humano só volta a ficar sadio e completo quando a vida divina recomeça a fluir dentro dele” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 31 de março de 2025

(Is 65,17-21; Sl 29[30]; Jo 4,43-54) 4ª Semana da Quaresma.

“Assim, Jesus voltou para Caná da Galileia, onde havia transformado a água em vinho.

Havia em Cafarnaum um funcionário do rei que tinha um filho doente” Jo 4,46.

“O ministério de Jesus não foi contaminado por preconceito de espécie alguma, dentre aqueles comuns na sua época. A cura do filho do funcionário do rei ilustra esta atitude característica do Mestre. Quem se dirigiu a Jesus, pedindo-lhe a cura do seu filho, foi um funcionário do rei Herodes Antipas. Sem dúvida, tratava-se de um pagão, a serviço dos romanos, sob cuja dominação estava o povo judeu. Era bem conhecida a ojeriza dos judeus aos romanos. Estes representavam o que havia de pior, e deviam ser evitados. Portanto, esperava-se de Jesus um gesto firme de recusa à solicitação daquele funcionário: para os pagãos, a morte. Este gesto, porém, não era o parâmetro das ações do Mestre. Seu olhar desvia-se dos elementos exteriores, para se fixar no coração daquele pai suplicante. Quando encontra fé e sinceridade, Jesus jamais se recusa a atender a um pedido, de quem quer que o faça. Sem fé, nada feito. Foi o que aconteceu em Nazaré, sua cidade natal, onde não realizou nenhum milagre por causa da incredulidade de seus habitantes. Toda a vida de Jesus, culminando na morte e ressurreição, foi um serviço prestado à humanidade, sem distinções, nem privilégios. É suficiente acercar-se dele, com a mesma predisposição do funcionário pagão, cuja súplica foi prontamente atendida. – Espírito de fé, concede-me a confiança necessária que me permita ser atendido por Jesus, quando a ele eu suplicar (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo da Quaresma – Ano C

(Js 5,9-12; Sl 33[34]; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32) *

1. Este Evangelho que escutamos é uma janela sublime e sempre aberta com vista direta para o coração de Deus, exposto, narrado, contado por Jesus. O narrador prepara cuidadosamente o cenário, dizendo que os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para O escutar.

2. É um claro contraponto com os escribas e fariseus que estavam lá não para O escutar, mas para criticar o fato de Jesus acolher os pecadores e comer com eles. Eles achavam que os pecadores eram merecedores de castigo severo e não da misericórdia, pois eram amplamente devedores a Deus, e não credores como se achavam os fariseus.

3. Sabemos que neste capítulo 15 são contadas 3 parábolas, mas o narrador a introduz como uma única parábola. Contada para nós, se nos contarmos entre os escribas e fariseus. Mas se nos colocarmos ao lado dos pecadores, sendo a ovelha, a moeda ou filho mais novo, a parábola não nos dirá muito.

4. É o terceiro quadro dessa narrativa que está sendo exposto esse domingo. Mostra-nos um Pai maravilhoso com dois filhos que parecem diferentes. Quando na Bíblia dois retratos parecem diferentes, a chave de compreensão reside naquilo que são iguais.

5. É estranho que o Filho mais novo peça sua parte da herança, pois ao pedir a herança ele mata o Pai e morre como filho! Em boa verdade, ele não quer mais ter Pai e não quer mais ser filho. Segue-se sua aventura e desventura. O cair em si e a decisão de voltar. Ele não quer voltar como filho, mas como assalariado. Quer um patrão e não a graça do amor do seu Pai.

6. A cena do retorno torna-se uma surpresa de encher os olhos. Quando regressamos a Deus, nunca encontramos um Pai distraído ou ausente, ou que responde de forma brusca e fria. O discurso do filho é dito duas vezes e não uma terceira, pois o Pai o interrompe.

7. Lhe é devolvida a roupa de antes, de filho. E como nas parábolas anteriores, é preciso fazer festa. E tudo indica que era dia de semana, pois o filho mais velho estava no campo e acabava de chegar. Esse Pai não escolhe dia para fazer festa. E assim sai também ao encontro do mais velho, para que venha festejar.

8. A reação do mais velho é parecida com a dos escribas e fariseus sobre a relação de Jesus com os pecadores, revelando seu coração. Ele é um puro fariseu, que sempre cumpriu as ordens do Pai, achando-se credor e não devedor face ao seu Pai, face a Deus!

9. O que assemelha estes dois filhos, que parecem diferentes, é que ambos se sentem assalariados (e não filhos) e ambos olham para o Pai como um patrão. É também interessante notar que os dois filhos deste quadro falam ao Pai, ao seu Pai comum, como fazemos nós. Mas em nenhum momento da história se falam um ao outro.

10. Será que se parecem conosco? Sim, às vezes, nós também só sabemos falar por trás, entre raivas acumuladas e insultos! Mas entramos sem problemas de consciência na Igreja, e dizemos que rezamos!

11. Todavia, o filho mais novo deixou-se mover pela compaixão do Pai. Estava morto e voltou a viver, estava perdido e foi encontrado. Como a ovelha, como a moeda. Sim, tanto podemos nos perder lá longe, no deserto, como podemos nos perder em casa!

12. Podemos, na verdade, andar perdidos em uma casa fria, sem Pai e sem irmãos, sem mesa, sem aconchego, sem alegria, como o filho mais velho da parábola.

13. Esta parábola foi contada por Jesus aos escribas e fariseus, ao filho mais velho, a nós. E ficamos sem saber o final. O narrador não o diz, porque essa decisão de entrar ou não, somos nós que a temos que tomar.

14. Na estratégia narrativa, somos colocados ao lado dos escribas e fariseus e do filho mais velho. A única posição correta que nos permite ser interpelados. Então a decisão é nossa, é minha e tua: entramos ou recusarmos entrar na casa do Pai, na misericórdia, na festa, na dança e na alegria.

* Com base em reflexão de D. Antônio Couto (“Quando Ele nos abre as Escrituras”).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 29 de março de 2025

(Os 6,1-6; Sl 50[51]; Lc 18,9-14) 3ª Semana da Quaresma.

“Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos” Lc 18,9.

“Jesus não suportava a soberba de quem se gabava de ser justo, olhando os outros com desdém. Este comportamento o irritava por revelar uma falsa imagem de Deus, completamente contrária àquela ensinada por ele. O deus dos soberbos e orgulhosos é preconceituoso, deixa-se impressionar por exterioridades, é injusto para com os fracos, é facilmente enganável. A um deus assim, dirige-se o fariseu da parábola contada por Jesus. Assumindo uma postura de evidente arrogância, dirige-se a seu deus, prestando-lhe contas de suas práticas religiosas, como que a exigir uma recompensa generosa. O Deus anunciado por Jesus é, radicalmente, diferente: é o Pai atento a seus filhos, de modo especial, aos fracos e pequeninos. Valoriza qualquer esforço humano de superar o pecado, para colocar-se, com humildade, no caminho da conversão. Vê o mais íntimo do ser humano, onde percebe seus sentimentos e intenções. Portanto, não é um Deus a quem se possa enganar. Diante da atitude dos soberbos, Jesus não tinha dúvidas quanto ao fim que os esperava. Eles serão humilhados ao se encontrarem na presença do Pai. Recomenda-lhes, então, a humildade, porque só ela é capaz de sensibilizar a Deus, para a pessoa obter dele a justificação. Portanto, quem se vangloria de ser justo, está preparando sua própria condenação. – Espírito de humildade, liberta-me da soberba, porque ela me afasta do Pai. E faze-me reconhecer, com humildade, minhas próprias limitações (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 28 de março de 2025

(Os 14,2-10; Sl 80[81]; Mc 12,28-34) 3ª Semana da Quaresma.

“O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo!

Não existe outro mandamento maior que estes” Mc 12,31.

“Tendo Jesus respondido à pergunta que lhe fora feita sobre o primeiro mandamento, acrescenta, embora não lhe tenham perguntado, que o segundo andamento é amar o próximo como a si mesmo, dando a entender que o segundo é tão importante quanto o primeiro, que não será cumprido na sua totalidade enquanto se cumprir também o segundo. Não podem ser separados estes dois mandamentos, porque propriamente não são dois, mas um só mandamento. É o mandamento do amor, com dois termos: Deus e o próximo. Mas isso dá-nos a entender que não podemos amar a Deus, se esse amor não nos leva a amar nosso próximo; e que não se pode amar o próximo, se não o amamos em Deus e por Deus. Portanto, o cristão não pode contentar-se com amar o próximo com um amor filantrópico, mas deve amá-lo com amor teologal. Não basta ver no homem a dignidade da pessoa humana, mas é preciso chegar a descobrir nele um verdadeiro filho de Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 27 de março de 2025

 (Jr 7,23-28; Sl 94[95]; Lc 11,14-23) 3ª Semana da Quaresma.

“Quem não está comigo está contra mim. E quem não recolhe comigo dispersa” Lc 11,23.

“O homem tem duas alternativas: ou está com Jesus, ou está contra ele. Não existe meio termo. Quem não se entrega voluntariamente a Jesus já é também uma traição. A resposta rápida, porém parcial e não de entrega total à vontade e ao preceito de Jesus, é também uma traição. Nos cristãos Jesus não admite nem parcialidade, nem demoras; ele entregou-se totalmente por nós; devemos entregar-nos inteiramente a ele. ‘A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim’ (Gálatas 2,20). ‘Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor’ (Efésios 5,2)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 26 de março de 2025

(Dt 4,1.5-9; Sl 147[147B]; Mt 5,17-19) 3ª Semana da Quaresma.

“Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém quem os praticar e ensinar

será considerado grande no Reino dos céus” Mt 5,19.

“A liberdade de Jesus, frente à Lei de Moisés, dava a falsa impressão de que os discípulos estivessem liberados para agir a seu bel-prazer. Os adversários do Mestre, que esperavam dele submissão absoluta à tradição legal, ficavam decepcionados quando o viam agir de uma forma inusitada, em pleno desacordo com o costume da época. No parecer deles, o agir de Jesus beirava a impiedade. O Mestre tenta corrigir esta distorção, afirmando não ter vindo abolir a Lei e os Profetas, e sim, para dar-lhes pleno cumprimento. Pelo contrário, ele exorta os discípulos a não transgredirem os mandamentos, por menores que sejam, para não serem considerados menores no Reino dos Céus. Estaria Jesus confessando-se legalista, e levando seus discípulos a competirem com o legalismo dos escribas e dos fariseus? A exortação do Mestre deve ser entendida no contexto global de sua pregação. Quando se refere ao respeito à Lei e aos Profetas, está pensando na Lei como ele a entende: o desígnio original do Pai para nortear a vida humana, e não o amontoado de prescrições às quais os legalistas se submetiam. Jesus supera a letra da Lei, para atingir-lhe o espírito. Nesse sentido, é grande quem se atém ao espírito da Lei e a cumpre com radicalidade; é pequeno quem a despreza, pois estará desprezando o próprio Deus. Jesus foi grande, porque toda a sua vida consistiu em cumprir a vontade de seu Pai, mesmo tendo de padecer a morte de cruz. – Espírito de obediência, guia-me a uma submissão sempre maior ao querer do Pai, de modo que eu possa ser considerado grande no Reino dos Céus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 25 de março de 2025

(Is 7,10-14; 8,10; Sl 39[40]; Hb 10,4-10; Lc 1,26-38) Anunciação do Senhor.

“Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho

e lhe porá o nome de Emanuel” Is 7,14.

“Davi queria construir um templo a Deus. Deus não aceita, e ao mesmo tempo promete a estabilidade no trono à descendência davídica. Os acontecimentos do ano 732 a.C., anteriores ao trecho que estamos para a meditar, descrevem uma situação que arriscava fazer falir a promessa de Deus, de assegurar a Israel um reino duradouro: o rei da Síria e o rei de Israel estavam a marchar contra Judá para substituir o rei davídico, Acaz, por um rei arameu, e, portanto, não davídico (cf. Is 7,1-2). Isaías encontra-se uma vez com Acaz e exorta-o a confiar no Senhor (cf. Is 7,39), mas o rei recusa-se. O texto litúrgico relata o segundo encontro de Isaías com Acaz. [Compreender a Palavra:] Somos chamados a contemplar a Deus que atua na História segundo a Sua vontade. Ele é fiel à palavra dada, exige a correspondência humana, mas não Se deixa certamente condicionar por ela. Acaz e toda a nação de Israel devem acreditar no Seu auxílio eficaz: ‘Se não acreditardes, não tereis estabilidade’ (cf. Is 7,9). O rei , para confirmação, pode pedir um sinal grandioso, mas Acaz recusa, porque não tem fé (cf. vv. 11-12). A este ponto é o próprio Deus que lhe oferece um ‘sinal’ (v. 14), não já apologético, mas espiritual, e que deve ser acolhido na fé nos seus dois aspectos. O aspecto positivo, isto é, a dinastia davídica não será substituída porque dela nascerá o Emanuel, o Filho da Virgem Maria, Aquele que no presente pode tornar estável a dinastia (v. 14b).O aspecto negativo, ou seja, a invasão de Judá da parte dos dois reis, acontecerá, com todo o seu grave peso econômico, social e religioso. Judá torna-se vassalo da Assíria (cf. Is 7,16-17)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 24 de março de 2025

(2Rs 5,1-15; Sl 41[42]; Lc 4,24-30) 3ª Semana da Quaresma.

“Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos” Lc 4,28.

“A reação dos habitantes de Nazaré, diante da pregação de Jesus, foi de aberta rejeição. Foi tal o desprezo pelas palavras do Mestre, que eles decidiram eliminá-lo lançando-o de um precipício. É possível imaginar a decepção de Jesus, diante da rejeição de seus conterrâneos. Ele tentou compreender a situação, rememorando as experiências de profetas do passado que, rejeitados por seu povo, foram bem escolhidos pelos estrangeiros. Assim aconteceu com Elias: num tempo de seca e fome, beneficiou uma mulher estrangeira, da terra dos sidônios. O mesmo sucedeu com Eliseu: curou da lepra um general sírio, ao passo que, em Israel, essa doença vitimava pessoas. A conclusão de Jesus foi clara: já que o povo de sua cidade insistia em não lhe dar atenção, ele sentiu-se obrigado a ir em busca de quem estivesse disposto a acolhê-lo. Aos duros de coração, no entanto, só restava o castigo. Longe de nós seguirmos o exemplo do povo de Nazaré. Jesus quer encontrar, em nós, abertura para acolhê-lo e disponibilidade para converter-nos. Ninguém a aceitar este convite. Entretanto, fechar-se para Jesus significa recusar a proposta de salvação que ele, em nome do Pai, veio nos trazer. – Espírito de docilidade, abre meu coração para aceitar o convite à conversão, que Jesus me dirige, em nome do Pai (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo da Quaresma – Ano C

(Ex 3,1-8.13-15; Sl 102[103]; 1Cor 10,1-6.10.12; Lc 13,1-9) *

1. Em nossa aclamação ao Evangelho deste domingo está o convite/lembrete à conversão, pois o Reino de Deus está perto. O tema fundamental deste “tempo forte” do ano litúrgico é justamente o convite à conversão. Conversão da nossa vida e a conceber obras dignas de penitência.

2. Jesus, como ouvimos, recorda dois episódios acontecidos por aqueles tempos: uma repressão brutal da polícia romana dentro do Templo e a tragédia dos dezoitos mortos devida ao desabamento da torre de Siloé.

3. O povo interpreta estes acontecimentos como uma punição divina pelos pecados daquelas vítimas e, considerando-se justo, pensa que não está sujeito a estes desastres, acreditando que nada tem para converter na própria vida.

4. Mas Jesus denuncia esta atitude como uma ilusão. E convida a refletir sobre aqueles fatos, para um maior compromisso no caminho de conversão, porque é precisamente o fechamento ao Senhor, o não percorrer o caminho da conversão de si mesmos, que leva à morte, à morte da alma.

5. Na Quaresma, cada um de nós é convidado por Deus a fazer uma mudança na própria existência pensando e vivendo segundo o Evangelho, corrigindo algo no próprio modo de rezar, de agir, de trabalhar e nas relações com os outros.

6. Jesus dirige-nos este apelo não com uma severidade finalizada em si mesma, mas precisamente porque se preocupa com o nosso bem, com a nossa felicidade e salvação. Por nosso lado, devemos responder-lhe com um sincero esforço interior, pedindo-lhe que nos faça compreender sobretudo em que pontos nos devemos converter.

7. A conclusão do trecho evangélico retoma a perspectiva da misericórdia, mostrando a necessidade e a urgência de voltar para Deus, de renovar a vida segundo Deus.

8. Referindo-se a um costume do seu tempo, Jesus apresenta a parábola de uma figueira plantada numa vinha; esta figueira, contudo, é estéril, não dá frutos. O diálogo que se desenvolve entre o dono e o vinhateiro, manifesta, por um lado a misericórdia de Deus, que é paciente e deixa, a todos nós, um tempo para a conversão;

9. E, por outro, a necessidade de iniciar imediatamente a mudança interior e exterior da vida para não perder as ocasiões que a misericórdia de Deus nos oferece para superar a nossa preguiça espiritual e corresponder ao amor de Deus com o nosso amor filial.

10. Também São Paulo, no trecho que ouvimos, nos exorta a não nos iludirmos: não é suficiente ter sido batizado e ser alimentado na mesa eucarística, se não vivermos como cristãos e não estivermos atentos aos sinais do Senhor. É Cristo que passa...

11. O tempo da Quaresma nos convida a reconhecer o Mistério de Deus, que se torna presente na nossa vida, como ouvimos na 1ª leitura, nessa experiência de Moisés, onde Deus o envia de volta para o Egito afim de libertar e conduzir seu povo à Terra Prometida.

12. Deus manifesta seu nome a Moisés, criando assim a possibilidade da invocação, da chamada, da relação. Isto significa que ele se entrega, de qualquer modo, ao nosso mundo humano, tornando-se acessível, quase um de nós. Enfrenta o risco da relação, de estar conosco.

13. E estará conosco sempre e em seu Filho, com a força de sua palavra que arde em nós, sem se consumir e sem nos consumir, num apelo contínuo à conversão e libertação nessa travessia contínua, deserto à fora, até descansarmos em seu amor. Só não demoremos demais...

Com base em texto de Bento XVI.   

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 22 de março de 2025

(Mq 7,14-15.18-20; Sl 102[103]; Lc 15,1-3.11-32) 2ª Semana da Quaresma.

“Qual Deus existe, como tu, que apagas a iniquidade e esqueces o pecado daqueles que são restos de tua propriedade? Ele não guarda rancor para sempre, o que ama é a misericórdia” Mq 7,18.

“O trecho de Miquéias foi extraído de uma autêntica liturgia da esperança, tecida num diálogo entre Israel e Deus, a que a mesma celebração dá voz. A que aqui está presente é a súplica que o profeta ergue a Deus (vv. 14-15), seguida pelo convite a repetir os prodígios maravilhosos realizados no Egito (v. 15; cf. vv. 16-17) e concluída por um hino ao Senhor fiel, misericordioso e que renuncia à ira: a esperança do Seu perdão inunda o povo inteiro (vv. 18-20). [Compreender a Palavra:] No início o profeta invoca a Deus para que intervenha junto do seu povo e que repita os prodígios do êxodo. A parte mais relevante deste diálogo litúrgico entre Deus e o seu Povo é representada pelo hino à misericórdia divina (vv. 18-20). É importante voltar a ouvir a sucessão das expressões que repetindo o mesmo tema, embora com cambiantes diversas, marcam esse conceito. Miqueias exalta o Senhor e opõe-no às outras divindades: JHWH é o Deus que ‘perdoa o pecado’, ‘absolve a culpa’, ‘não guarda para sempre a sua ira’, e ‘prefere a misericórdia’ (v. 18). Segue-se uma breve meditação sobre o povo: ‘Ele voltará a ter piedade de nós’ (v. 19a), terminando com duas imagens deveras eficazes, contidas numa nova invocação: o Senhor ‘pisará aos pés as nossas faltas’ e ‘lançará para o fundo do mar todos os nossos pecados’ (vv. 19b; cf. Ex 15) Deus perdoará a Israel porque se comprometeu com ‘os nossos pais, desde os tempos antigos’, e por isso mostrará ainda a Sua ‘fidelidade’ e a Sua ‘misericórdia’ (v. 20). O Senhor é fiel ao seu Povo enquanto é fiel a Si mesmo e à Sua promessa de amor; por isso ama hoje Israel com o mesmo impulso, alegria e frescura do princípio” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).    

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 21 de março de 2025

 (Gn 37,3-4.12-13.17-28; Sl 104[105]; Mt 21,33-43.45-46) 2ª Semana da Quaresma.

“Então Jesus lhes disse: ‘Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e maravilhoso aos nossos olhos?’” Mt 21,42.

“A história de Israel, que se desenrolou como uma espécie de luta entre Deus e o povo eleito, é como a parábola de toda a história humana. Enquanto Deus se empenha em salvar a humanidade, esta insiste em caminhar para a condenação. Ele vai lhe apresentando os meios necessários para que se salve, mas o ser humano continua destruindo a obra divina. Deus confia na conversão do coração humano; este, no entanto, frustra, continuamente, a confiança divina. Apesar disso, o Pai mostra-se sobremaneira paciente. O primeiro gesto de rebeldia do ser humano seria suficiente para merecer a punição. Afinal, ele é quem tem uma dívida de gratidão para com Deus. Criado com todo o carinho, foram-lhe dadas as condições para viver em comunhão com o Criador e com os demais seres humanos. Dele se esperavam frutos de amor e de justiça. No entanto, seu coração perverteu-se, levando-o a se rebelar contra Deus. Até mesmo Jesus, que representa o gesto supremo da boa-vontade divina de salvar o ser humano, acabou sendo crucificado. Ao ressuscitar seu Filho, o Pai estabeleceu-o como sinal de seu amor pela humanidade. Sempre que o ser humano quiser voltar-se para Deus, pode contar com Jesus. Aquele que fora rejeitado pelo ser humano, o Pai constituiu-o como ‘pedra angular’ da salvação. – Espírito de sensatez, não permitas jamais que eu me rebele contra o amor do Pai, que quer a minha salvação e espera de mim docilidade a seus apelos de conversão (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 20 de março de 2025

(Jr 17,5-10; Sl 01; Lc 16,19-31) 2ª Semana da Quaresma.

“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplendidas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico” Lc 16,19-20.

“Jesus propõe uma parábola. A parábola não é uma história, mas um modo de expor um ensinamento à maneira de história, mas sem relação alguma com a história. Portanto, não se deve entender que realmente existissem aquele homem rico nem aquele homem pobre. O rico e o mendigo Lázaro personificam duas situações perante a vida que se mudam no juízo de Deus. No Antigo Testamento, a riqueza era considerada uma bênção de Deus; no Novo Testamento dá-se maior importância à pobreza como atitude essencial para o encontro com Deus; a postura do pobre, sua dor, é em si mesma uma súplica, que chega ao Coração de Deus. Como já se notou, Jesus Cristo quer ensinar três coisas principais com esta parábola:  1. Não se deve colocar a confiança nas riquezas que aliás, são causa de muitos desvios e conduzem facilmente à condenação eterna; 2. Os pobres são ‘os prediletos de Deus’ (João Paulo II); a Igreja ama-os com ‘amor preferencial’ (Documento de Puebla, 382). Medite você sobre isso e fortifique sua atitude diante da injustiça; 3. É de mais proveito ao homem a verdadeira justiça, fundamentada na fé e na penitência, que as riquezas e os prazeres. O temporal – as riquezas e a pobreza – passa muito rápido como acontece com o tempo; o eterno – a outra vida – permanecerá para sempre. Logicamente, o importante e prudente será assegurar o eterno com o uso correto de temporal” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 19 de março de 2025

(2Sm 7,4-5.12-14.16; Sl 88[89]; Rm 4,13.16-18.22; Mt 1,16.18-21.24) São José.

“Contra toda a humana esperança, ele firmou-se na esperança e na fé. Assim tornou-se pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: ‘Assim será tua posteridade’” Rm 4,18.

“Depois de ter demonstrado que a justificação, isto é, a passagem do indivíduo de filho de Adão para filho de Deus, acontece mediante a fé (cf. Rm 3,21-26), Paulo aponta o exemplo de Abraão. Baseando-se na citação: ‘Abraão acreditou e isso foi-lhe atribuído como justiça’ (Rm 4,3 que cita Gn 15,6), demonstra que Abraão foi justificado mediante a fé. A fé é o começo da salvação. [Compreender a Palavra] As muitas obras boas que alguém pode cumprir não habilita a pretender, em vista delas, ser declarado por Deus seu filho adotivo e irmão de Jesus Cristo. Esta passagem, esta ‘justiça’ vem ‘da fé’ (v. 13) que nos dispõe a receber esse dom da ‘graça’ (v.16), que é o começo da salvação. Uma vez recebido esse ‘dom’ no sacramento da fé que é o Batismo, o cristão é chamado a fazer boas obras; essas obras são boas, porque são feitas sob a ação da graça divina que nos une a Jesus e a Deus Pai. José, herdeiro da promessa feita a Abraão, descendente da dinastia real de Davi, foi justificado como nós mediante a fé, que se concretiza no amor e na obediência à vontade de Deus. A sua missão de chefe de família, a sua relação cotidiana com Maria e com Jesus acabam por ser tornar um ato contínuo de fé n’Aquele que o colocou nessa dignidade” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 18 de março de 2025

(Is 10,.16-20; Sl 49[50]; Mt 23,1-12) 2ª Semana da Quarema.

“Quanto a vós, nunca vos deixeis chamar de mestre, pois um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos”

Mt 23,8.

“Se todos temos o mesmo Pai, todos somos irmãos uns dos outros; assim o afirma o próprio Jesus, quando nos recorda: ‘vós sois todos irmãos’. Com esta afirmação de Jesus, devem desaparecer dentre nós os ciúmes, a inveja, o orgulho, a arrogância, o tratamento para com alguém como se fosse inferior a nós. É certo que alguns terão mais qualidades que outros, maior dignidade em seu cargo ou missão eclesial, porém todos são igualmente irmãos, porque somos todos igualmente filhos de Deus. E se você reconhece em si mesmo maiores talentos, mais aptidões para as diferentes coisas da vida, condições mais brilhantes em seu trato com as pessoas e no desenvolvimento das coisas intelectuais ou nas temporais, se você ocupa algum cargo que implique maior dignidade, não deve esquecer que é irmão precisamente dos menos dotados, dos mais pobres e simples, dos que não brilham no mundo pelas qualidades especiais, mas que talvez diante de Deus sejam mais merecedores do que você e, consequentemente, serão tratados por Deus talvez com mais apreço e dignidade que a sua. Jesus, nosso irmão maior, não se fixa em nossas exterioridades ou temporalidades, mas podemos assemelhar-nos a ele pela graça e santidade de vida” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 17 de março de 2025

(Dn 9,4-10; Sl 78[79]; Lc 6,36-38) 2ª Semana da Quaresma.

“... temos pecado, temos praticado a injustiça e a impiedade, temos sido rebeldes,

afastando-nos de teus mandamentos e de tua lei” Lc 6,5.

“A oração litúrgica aqui introduzida no livro de Daniel (o texto completo abrange a seção 9,4-19) pertence a uma tradição preexistente (cf. também Ne 9 e Esd 10), conservada também, por exemplo, no Livro de Baruc (cf. Br 1,15—3,8). O profeta intercede junto de Deus pelo seu Povo, que se reconhece em pecado e, portanto, pode esperar apenas o perdão de Deus. [Compreender a Palavra:] Nesta oração, a ênfase é colocada no reconhecimento da infidelidade de Israel. Mas a confissão dos pecados é tornada possível por dois elementos estreitamente ligados: o povo pode declarar a sua culpa porque conhece e confia na grandeza de Deus, na Sua misericórdia, benevolência e justiça. Daniel afirma que a situação de dispersão entre as nações (v. 7, no centro do texto) encontra a sua razão no fato de o povo se ter rebelado, ter saído do caminho traçado para ele pelo seu Senhor (vv. 5-9), transgredindo as instruções divinas indicadas pelos profetas (vv. 6-10). A confissão das culpas abre caminho ao pedido de perdão no Nome santo do Senhor, invocando sobre a cidade e sobre o povo (cf. Dn 9,19). O Senhor escutará a oração de Daniel e indicar-lhe-á um tempo completo, para ‘fazer cessar a transgressão, selar o pecado’ (Dn 9,24): as setenta semanas, findas as quais acontecerá o perdão do jubileu’” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus). 

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo da Quaresma – Ano C

(Gn15,5-12.17-18; Sl 26[27]; Fl 3,17—4,1; Lc 9,28-36)

1. A Quaresma é um tempo no qual somos convidados a nos dedicar mais intensamente à mística e à espiritualidade cristã. Para isso, a Igreja estabelece pilares onde fortalecer mística e a espiritualidade no decorrer deste tempo quaresmal.

2. Trata-se do jejum, da esmola, da oração e da meditação da Palavra. O jejum tem a finalidade de controlar nosso corpo e discipliná-lo, principalmente para que o estômago — como diz Paulo, na 2ª leitura — não se transforme em “deus”.

3. A esmola incentiva a dimensão fraterna; não se entende esmola como dar do que resta, mas partilhar a vida com quem perdeu o sentido de viver; é um modo de participar e partilhar o pão, as vestes, a presença — todas as virtudes cristãs — com quem apenas existe, mas não vive.

4. Por fim, a oração e a meditação da Palavra. Este é o tema que gostaria de meditar com vocês neste Domingo, a partir do mistério da Transfiguração de Jesus. É um tema cada vez mais importante para nossos dias, quando a correria nos faz perder oportunidades ricas de silenciar para rever a vida e rezar.

5. O início do Evangelho que ouvimos coloca a intenção de Jesus ao convidar os discípulos para ir com ele ao Tabor: convidou os discípulos para rezar; diz ainda que a transfiguração de Jesus aconteceu enquanto rezava.

6. Especialistas em espiritualidade dizem que a oração é um processo de transfiguração; assim como aconteceu com Jesus, pode acontecer com qualquer um de nós. Dito em outros termos: a oração tem uma força transfiguradora.

7. Quanto mais rezamos, mais nossa vida busca o rosto de Deus e, como cantava o salmista, mais o brilho da face divina brilhará em nós. Jesus convida seus discípulos para rezar no Monte Tabor porque a montanha é um espaço envolvido pelo silêncio, um convite para silenciar...

8. Entende-se este silenciar numa compreensão bem mais ampla que simplesmente deixar de falar. Para nos envolver em Deus, é preciso silenciar pensamentos, fantasias, preocupações, projetos... silenciar o próprio corpo... entrar num espaço de silêncio, porque é neste espaço que nós nos encontramos com Deus.

9. No Tabor, a voz do Pai mandou ouvir Jesus, porque Jesus é a Palavra do Pai. Também para a meditação da Palavra de Deus é preciso silenciar. No Domingo passado celebrávamos a Palavra como alimento, hoje, esta Palavra se apresenta como voz de Deus falando dentro de nós. Para ouvir a voz de Deus é preciso silenciar.

10. Algumas pessoas têm mais facilidade que outras para silenciar. Isto não significa que os quietos, aqueles que falam pouco, silenciam com mais facilidade. Alguns quietos não falam com a boca, mas tem a mente e o coração barulhentos. Tanto para faladores como para quietos não é simples silenciar.

11. Muitos, por exemplo, acordam ouvindo rádio, outros deixam o rádio, TV ou outros aparelhos ligados o dia inteiro. Muitos vivem envolvidos no barulho. Quantos jovens (e menos jovens) colocam sons em seus carros e desfilam seus barulhos interiores amplificados em altas potências para chamar atenção sobre si mesmos.

12. Tudo isso mostra uma cultura avessa ao silêncio. Por isso, a Quaresma é tempo de converter costumes, mudar atitudes e, uma delas, poderá ser a busca do silêncio para nossas vidas. É nesse processo silenciador que se encontra a porta para entrar na oração e na meditação da Palavra.

13. As leituras apontam três tipos de dificuldades que podem aparecer em nossos momentos de oração e meditação da Palavra. Uma dificuldade muito comum são as distrações. Como lemos na 1ª leitura, as distrações são como aves de rapina que nos tiram do silêncio e, por isso precisam ser enxotadas nos momentos de oração.

14. Outra dificuldade é o sono. Ouvimos no Evangelho que os discípulos foram convidados a subir o Tabor para rezar, mas dormiram. Também no Getsêmani, quando os discípulos subiram para rezar em vigília com Jesus, dormiram e Jesus os repreendeu.

15. Para que o sono não nos impeça de silenciar, rezar e meditar, é bom escolher um horário nos qual estejamos bem despertos. Uma terceira dificuldade são as preocupações terrenas, como alerta Paulo, na 2ª leitura. Quantos vivem preocupados com tantas coisas que cada vez que silenciam, as preocupações os invadem, tomam conta de seus pensamentos, fazem o maior barulho dentro deles e os impedem de rezar e meditar a Palavra.

16. É bom colocar nossas preocupações diante de Deus, melhor é silenciar; entrar na paz e se deixar iluminar para que as preocupações não sejam peso, mas desafios a superar.

17. Vou concluir respondendo uma pergunta: por que o silêncio é tão importante para nós?  Do ponto de vista psicológico, os entendidos dizem que o silêncio é necessário para o equilíbrio interior. Do ponto de vista da espiritualidade, o silêncio é o espaço onde nos encontramos com Deus e conosco mesmos.

18. Deus habita no silêncio e quando silenciamos, entramos no espaço divino. A Quaresma é este tempo favorável de oração e de meditação da Palavra que nos incentiva aceitar o convite de Jesus para que nos transfiguremos através da oração e da meditação.

19. Não é fácil; é preciso o esforço de quem sobe uma montanha, e isso torna-se possível pelo exercício diário. Quanto mais silenciamos diariamente, mais aprendemos a silenciar e melhor rezamos.

20. Agora, na Quaresma, temos o convite da Igreja para que nos dediquemos mais intensamente à oração e à escuta da Palavra deixando-nos envolver pelo silêncio. Está aí uma oportunidade para mudar nosso jeito de ser através do silenciar, da oração e da meditação da Palavra de Deus. Amém!

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 15 de março de 2025

(Dt 26,16-19; Sl 118[119]; Mt 5,43-48) 1ª Semana da Quaresma.

“Eu, porém, vos digo, amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem” Mt 5,44.

“Quem ama o inimigo participa da perfeição de Deus. A palavra grega ‘teleios’ não significa apenas perfeito, ela quer dizer também indiviso, não quebrado, inteiro, completo. Deus é perfeito porque se dirige ao homem com o amor indiviso. Quando o homem aceita a ‘lei perfeita da liberdade’ (como Tiago chama a lei de Jesus, Tg 1,25), passa a participar de Deus que é em si inteiro e perfeito. Novamente é necessário reparar na tensão que existe entre o fato da experiência do Deus perfeito possibilitar um novo comportamento e o fato de o comportamento ao qual Jesus nos chama poder levar a uma nova experiência de Deus. Quem observar os preceitos de Jesus estará se envolvendo com o Deus verdadeiro. As imagens que ele mesmo fez de Deus cairão por terra. Ele experimentará Deus como sendo o Pai do céu que o apoia e que lhe dá coragem, para que possa lançar num mundo desunido a marca da conciliação. O comportamento que Jesus exige de nós não é o comportamento acomodado daquele que não quer chamar a atenção, antes é o comportamento maduro de um filho ou uma filha que se sabe amado e ajudado pelo Pai. Como o Pai lhes dá suporte, podem trilhar novos caminhos do amor e da paz. A capacidade de amar o inimigo nasce da oração que Jesus ensinou aos seus discípulos. E o amor aos inimigos é a resposta à oração que os cristãos rezam todos os dias e na qual se abrem para Deus, para que o Espírito de Deus tome cada vez mais posse deles, de modo que a vontade de Deus se faça cada vez mais neles e por meio deles, curando e transformando dessa maneira o mundo” (Anselm Grün – Jesus, mestre da salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 14 de março de 2025

(Ez 18,21-28; Sl 129[130]; Mt 5,20-26) 1ª Semana da Quaresma.

“Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus,

vós não entrareis no Reino dos Céus” Mt 5,20.

“Os escribas e fariseus formavam uma classe de pessoas, cuja glória consistia em mostrar-se escrupulosos no cumprimento da Lei de Deus. Entretanto, esta fidelidade não ia além da letra da Lei. Para eles, bastava agir conforme o que estava escrito. Os discípulos de Jesus foram contrapostos a este grupo. O Mestre exigia deles uma prática da justiça, superior à dos escribas e fariseus. Em que consistia essa superioridade? Certamente, não dizia respeito à quantidade de mandamentos a serem observados, nem à intensidade no modo de viver a letra da Lei, de forma a assumir um comportamento ainda mais exagerado e afetado. Nem, muito menos, à maneira de ver, preconceituosa e segregacionista, característica de certas correntes farisaicas. A superioridade da justiça do discípulo, na vivência da Lei de Deus, deveria decorrer de sua predisposição a buscar sempre mais, o espírito da Lei, ou seja, a vontade de Deus, e pautar sua vida por ela. Esta superioridade qualitativa é tremendamente exigente. O discípulo jamais poderá acomodar-se a este ou àquele gesto concreto, julgando ter satisfeito a vontade divina. Ele reconhece ser possível dar um passo além, pois seu modelo de ação é o Pai. Reconhece, também, não ter motivos para se vangloriar: por mais que faça, resta sempre um imenso caminho a percorrer. – Espírito de santidade, conduze-me a uma justiça sempre maior, na consciência de que não devo pautar minha ação por modelos humanos, e sim, pela vontade do Pai” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 13 de março de 2025

(Est 4,17; Sl 137[138]; Mt 7,7-12) 1ª Semana da Quaresma.

“Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta!” Mt 7,7.

“Este parágrafo é uma consequência da afirmação que não muito antes Jesus tinha feito, de que Deus é nosso Pai e que como tal a ele nos devemos dirigir. Se é nosso Pai, a confiança que nos deve infundir é ilimitada; se os pais da terra cuidam de socorrer as necessidades dos seus filhos, muito mais nosso Pai acorrerá em nossa ajuda porque nos ama infinitamente mais que nossos pais! O que acontece é que, segundo Santo Agostinho, às vezes pedimos e não recebemos: porque pedimos mal, isto é, sem as devidas disposições; porque pedimos coisas más, ou que pelo menos não estão dentro do plano de Deus para nossa vida; porque, quando pedimos, não somos suficientemente bons, para merecer as graças que pedimos. Não atribuamos, pois, nunca a culpa a Deus; os responsáveis seremos nós. Não nos esqueçamos de orar, quando estivermos com alguma necessidade; mas também para pedir a eficácia de nosso apostolado, pois ‘eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem faz crescer’ (1Corítios 3,6)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 12 de março de 2025

(Jn 3,1-10; Sl 50[51]; Lc 11,29-32) 1ª Semana da Quaresma.

“Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho,

compadeceu-se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez” Jn 3,10.

“Jonas, depois de ter lutado durante muito tempo com Deus, por fim decide-se e vai anunciar à grande cidade assíria de Nínive a palavra comprometedora de Deus que pede a conversão. Paradoxalmente, porém, quanto mais essa palavra é acolhida pelos habitantes da cidade, tanto mais o profeta fica agastado, a ponto de arriscar-se a não compreender a ação misericordiosa de Deus para com todos os que desejam acolher a Sua mensagem. [Compreender a Palavra] Uma cidade tão grande mesmo aos olhos de Deus (v. 3) merece o envio de um homem indiferente, tão avesso à missão que decide fugir para longe (cf. Jn 1,3). Um homem obrigado pela intervenção do Senhor a manter a fidelidade à tarefa que lhe foi confiada e a pregar a destruição iminente de Nínive (‘Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída’: v. 4), de maneira que, por um lado, consegue converter os ninivitas e, por outro, fica agastado pela fraqueza da misericórdia divina (cf. Jn 3,10—4,1). No meio está a firme determinação divina em conceder o perdão que abrange a cidade inteira, desde o mais poderoso ao mais humilde, do mais pequenino ao mais idoso. Paradoxalmente, quem perde, até Deus o chamar à razão, é o próprio Jonas, o qual tem de aceitar que o ‘Deus viu o que eles fizeram e se converteram da sua má conduta; então desistiu do mal com que os tinha ameaçado, e não o executou’ (Cf. Jn 3,10, 4,2)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 11 de março de 2025

(Is 55,10-11; Sl 33[34]; Mt 6,7-15) 1ª Semana da Quaresma.

“Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus” Mt 6,10.

“’Venha o teu Reino’. Essa súplica refere-se às palavras do Sermão da Montanha em que os cristãos são chamados de sal da terra e luz do mundo (5,13-16). Na medida em que os cristãos tornam-se o sal da terra, faz-se visível na terra o Reino de Deus. O sal tem muitos significados: ‘Ele protege contra a deterioração, tempera comidas insípidas, purifica tanto a oferenda quanto a criança recém-nascida e, finalmente, tem uma função importante na aliança entre Deus e os homens, como também entre diversos grupos humanos’ (Grudmann, 137). Quando os cristãos se deixam guiar pelo espírito de Jesus, exercem um papel fundamental para o mundo todo. Eles preservam os seres humanos da podridão interna e da corrupção. O desafio da mensagem de Jesus conserva o homem vivo, evitando a sua deterioração. Os cristãos são como o sal na sopa. Eles não se satisfazem com a adaptação às circunstâncias externas, e quem está imbuído do espírito de Deus exerce um efeito purificador sobre o seu ambiente. As coisas se aclaram à sua volta. Ele não se deixa turvar pelas emoções dos outros. Afinal, cabe aos cristãos a missão de estabelecer vínculos entre os diversos grupos humanos. Por meio desses quatro efeitos produzidos no mundo pela ação dos cristãos, chega aos homens o Reino de Deus” (Anselm Grün – Jesus, mestre da salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 10 de março de 2025

(Lv 19,1-2.11-18; Sl 18[19]; Mt 25,31-46) 1ª Semana da Quaresma.

“Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo que, todas vezes que fizestes isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizeste!’” Mt 25,40

“O livro sobre os ‘ajudantes sem ajuda’ abriu-me finalmente os olhos, fazendo-me compreender quantos outros motivos podem estar por trás da vontade de ajudar: ganhar poder sobre o outro, sentir-se melhor, compensar pela ajuda as minhas próprias deficiências etc. Ajudou-me a imagem do juiz que se apresenta como rei. Segundo o raciocínio de Jesus, não ajudo o pobre apaziguando a minha consciência pesada, mas vendo-o e tratando-o como um ser humano de estirpe real. Aquele que ajuda não deve aviltar o outro, fazendo-o depender de sua ajuda, mas deve erguê-lo para que descubra a sua dignidade de rei ou rainha. Nesse sentido, o discurso de Jesus sobre o juízo constitui um desafio constante de prestar atenção nas pessoas em torno de mim, reparando se estão com, se estão sem casa e sem pátria, se estão nus e abandonados, presos em si mesmos, perturbados por obsessões. É certo que não posso ajudar a todos. Preciso reconhecer as minhas próprias limitações. No entanto, as palavras de Jesus me deixam num estado de inquietação. Elas impedem que eu continue girando como um Narciso em torno do meu próprio eu, como acontece hoje em algumas escolas espirituais. É na realidade nua e crua da solidariedade humana que se percebe se sou um discípulo de Jesus ou não. Ajudar a todos ultrapassaria as minhas forças. Mas posso sempre ver o meu irmão e a minha irmã como rei e rainha. Isso faz com que o ser humano se sinta valorizado. É o primeiro passo no sentido de vestir o despedido com a dignidade real e de alimentar o faminto com a minha atenção e dedicação” (Anselm Grün – Jesus, mestre da salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

1º Domingo da Quaresma – Ano C

 

(Dt 26,4-10; Sl 90[91]; Rm 10,8-13; Lc 4,1-13)*

1. Todos os dias nos indignamos em sentir o mal em nosso mundo. Raramente prestamos atenção ao mal que está em nós, nos pensamentos, nos hábitos, nas relações pessoais, e também que esse mal é o único que depende de nós eliminar do mundo.

2. As tentações de Jesus no deserto, que sempre aparecem ao início da Quaresma, nos ajudam, veremos, a realizar esse deslocamento da atenção ao que está fora para o que está dentro de nós.

3. Há quem se escandalize pelo fato de Jesus ter sido tentado. Não era Ele o Filho de Deus? Certo que era, mas era também homem e como humano quis “ser provado em tudo, como nós, menos no pecado” (Hb 4,15). E esta é uma grande consolação para nós.

4. Nas três tentações sofridas por Jesus, se dá uma única tentação em três formas diversas: a “tentação messiânica”. Essa consiste em impor-se aos homens com força e milagres. Jesus rejeita este caminho a favor de um outro que em seu coração sente que é a vontade do Pai. Por isso, esse momento é de suma importância na vida de Jesus.

5. Rejeitar a cruz significaria salvar a glória da divindade, mais aceitável ao ser humano; aceitar a fragilidade, a humildade e, por fim, a ignominia da Cruz, significa introduzir no mundo uma novidade absoluta sobre Deus e seu Messias, mas frustrará todas as expectativas, escandalizará e colocará Jesus em conflito com o ambiente religioso.

6. Esse episódio não é importante só por aquilo que nos diz de Jesus, mas também por aquilo que diz sobre nós. Um texto sempre atual. Em outras palavras, as tentações de Jesus são prenúncios de todas as nossas tentações. Lancemos um breve olhar sobre elas.

7. Transformar pedra em pão é a tentação de alterar o curso natural das coisas, de mudar a via normal da busca de alimentos, de produzi-los. Essa tentação se repete hoje em vários setores e até na tentativa de clonar o ser humano.

8. Muitas novas tentativas são iniciativas de uns poucos sem uma adequada discussão entre as instâncias da sociedade: ciência, ética, filosofia, política, religião... Querem decidir o futuro da humanidade, arrogando-se prerrogativas divinas. No deslumbramento das promessas se ignora a contrapartida.  

9. Cristo sabe que o poder que lhe vem do Pai não é para este fim e nos recorda que o simples fato de se ‘poder’ fazer certas coisas não quer dizer que seja lícito fazê-la. Uma tentação tremenda não só para a ciência, mas para qualquer um que sofra o delírio da onipotência.

10. A tentação de adquirir poderes extraordinários e sucesso, ainda que haja um custo, de como se diz: ‘vender a alma ao diabo’, não é aquilo que sucede no terreno da magia, ocultismo, espiritismo, ritos satânicos e coisas do gênero que infestam o nosso mundo e seduzem tanta gente?

11. A 3ª tentação nos coloca no terreno do espetáculo, do atrair a atenção a qualquer custo. É o que atrai tanta gente, particularmente adolescentes, a fazerem coisas estranhas, inúteis e por vezes aberrantes, para terem likes e curtidas. Aparecer está cada vez mais importante que ser.

12. As tentações não estão limitadas a esses breves acenos que fizemos. Em formas diversas, em nosso cotidiano, as experimentamos. É a atração exercida sobre nós daquilo que percebemos como mal, ou a instigação a fazê-lo que vem do demônio, da nossa concupiscência e do mundo que nos circunda.

13. Para que essa se torne um pecado, é preciso ter conhecimento, ainda de que modo vago, que certa coisa ou situação é errada e que seu final será negativo e, todavia, se permitirá pela satisfação imediata que promete e que tolhe nossa capacidade de escolha e decisão, fazendo-nos ‘escravos’. Como é o caso das drogas, ou das ‘bet’ do nosso tempo, outro tipo de vício.   

14. Não se deve flertar com a tentação. Fazê-lo significa cair na mesma. Isto diz respeito a todos nós. Nós que vivemos na civilização dominada pela imagem, deveríamos praticar o jejum das mesmas, obviamente, não todas, mas daquelas que sabemos onde vai dar. E não só as imagens de nudez ou sexo, mas também das vitrines cintilantes, dos objetos de luxo, dos pratos suculentos, das bebidas destiladas; há quem seja inclinado ao exagero...

15. Jesus nos deixa o exemplo de como vencer, de nos deixar-nos conduzir por seu Espírito, de servir-nos da Palavra de Deus, daquelas frases que transformamos num ‘mantra’ para seguir adiante. Em cada tentação superada se dá um salto de qualidade, se produz uma íntima alegria e por sua vez, se torna nosso melhor aliado no esforço para subtrair-se ao fascínio do mal. Como se diz: “Com Cristo somos mais que vencedores!”. Amém.

* Com base em texto de Raniero Cantalamessa. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 08 de março de 2025

(Is 58,9-14; Sl 85[86]; Lc 5,27-32) Sábado após as Cinzas.

“Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão” Lc 5,32.

“O caminho para Jesus é a própria consciência de pecado. Os que se julgam justos não deixam em si mesmo lugar para Deus. É muito comum, no mundo dos grandes grupos, fazer a distinção: os bons e os maus. E é também muito comum que nós nos situemos entre os bons. Você pode perguntar-se, mas com inteireza e absoluta sinceridade, as razões que o levam a situar-se entre os bons. Por que não comete grandes pecados? Mas você pratica grandes atos de justiça e caridade? Porque para ser mau não é preciso fazer coisas más, é suficiente não fazer coisas boas, como diz conhecido trocadilho: ‘Não sabe quanto bem faz aquele que não faz o mal; porém, tampouco sabe quanto mal faz aquele que não pratica o bem’. Examine sua vida e, nesse exame, não se esqueça de considerar seus pecados de omissão. Não olhe só o que você é, mas também o que não é quando deveria ser” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 07 de março de 2025

(Is 58,1-9; Sl 50[51]; Mt 9,14-15) Sexta depois das Cinzas.

“Os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: ‘Por que razão nós e os fariseus

praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?’” Mt 9,14.

“A atitude de Jesus em relação aos seus discípulos deixava confundidas certas pessoas. O Mestre orientava-os de forma inusitada; seus ensinamentos não coincidiam com as estritas normas religiosas da época. Ele era suficientemente sensato para não se deixar escravizar por determinadas tradições, nem sempre observadas de maneira conveniente.  O fato de Jesus não exigir dos discípulos a prática do jejum gerava suspeita dos seus opositores. Estes não podiam entender como um rabi passasse por cima de uma tradição tão venerável, e não exigisse dos seus a prática frequente do jejum. A visão de Jesus projetava o jejum para além da pura ascese pessoal. Ele o relacionava com a presença do Messias na história humana. Durante o tempo da vida terrestre do Messias-esposo, não convinha jejuar, para que se patenteasse a alegria de sua presença. Ao se concluir sua missão terrena e Jesus voltar para o Pai, então será tempo de jejuar auspiciando sua nova vinda. A prática cristã do jejum é uma forma de manter-se sempre atento, à espera do Messias que vem. A intemperança no comer e no beber pode levar o cristão a olvidar-se do caminho traçado pelo Senhor, e a buscar uma alegria efêmera. Só vale a pena festejar, quando se tem certeza da presença de Jesus. – Espírito de sabedoria, ensina-me a compreender que a prática do jejum é um meio de preparar-me para a chegada do Messias que vem (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 06 de março de 2025

(Dt 30,15-20; Sl 01; Lc 9,22-25) Quinta após as Cinzas.

“Com efeito, de que adianta a um homem ganhar o mundo inteiro se se perde e se destrói a si mesmo?”

Lc 9,25.

“Tudo quanto o rodeia no mundo atual instiga você a que consiga mais e mais coisas, mais bens, mais dinheiro, mais posses, mais comodidades. A propaganda comercial, as exigências da sociedade atual de consumo, a inclinação natural ao ócio torturam o coração do homem, inclinando-o à ambição, ao desejo descontrolado de ter mais e mais. Porém, Jesus apresenta-nos a seguinte séria reflexão: ‘Pois que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína?’ Quando você partir deste mundo, nada levará consigo mesmo a não ser suas boas ou más obras: as boas para sua tranquilidade, as más para seu tormento. Pense, portanto, se é justo ou acertado que você empregue tanto empenho e tantos esforços e canseiras para os bens que aqui ficam e, por sua vez, seja tão econômico e limitado no que faz bem à sua alma. As coisas não têm importância, o importante é você. As coisas não ultrapassam as barreiras do tempo: você é destinado à eternidade” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 05 de março de 2025

(Jl 2,12-18; Sl 50[51]; 2Cor 5,20—6,2; Mt 6,1-6.18-18) Cinzas.

“... E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa” Mt 6,18b.

É de considerável consolo para o crente saber que o Pai celestial está presente em todos os momentos de sua vida, e que há de ser ele quem definitivamente recompensa a retidão da vida. Profundo consolo sente-se no mais íntimo da consciência, ao saber que nada se faz sem que se tenha sua recompensa; essa recompensa não nos virá da parte dos homens, ou da sociedade que só podem conhecer o que se vê; para a justiça humana é vedada a interioridade do coração. Porém, quantos atos de virtude, quantos sacrifícios, quantas derrotas, quantas humilhações desconhecidas para todos, mas que Deus tem muito presente e ele se encarregará de dar-lhes a devida recompensa” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 04 de março de 2025

(Eclo 35,1-15; Sl 49[50]; Mc 10,28-31) 8ª Semana do Tempo Comum.

“Começou Pedro a dizer a Jesus: ‘Eis que nós deixamos tudo e te seguimos’” Mc 10,28.

“A preocupação de Pedro e dos outros discípulos com a recompensa que haveriam de receber, por serem seguidores de Jesus, tem sua razão de ser. Eles haviam deixado para trás família, profissão, projetos pessoais, para seguir o chamado do Mestre. Quem haveria de garantir-lhes o sustento? Qual seria o futuro deles, já que não estava em jogo o recebimento de benefícios financeiros? A pobreza de Jesus não lhes permitia nutrir ilusões. Ele não podia dar o que não tinha. Segui-lo significava tornar-se pobre como ele. A resposta de Jesus é compreensível à luz da experiência das primeiras comunidades cristãs. Estas conseguiram libertar-se do que possuíam, e se dispuseram a colocar tudo em comum, realizando uma efetiva comunhão de bens e de relações interpessoais. Por isso, quem aderia ao Senhor, mesmo desfazendo-se de seus bens, não corria o risco de ver-se na indigência. A própria comunidade viria em socorro de suas necessidades. Em decorrência disto, quem se tornava discípulo, mesmo tendo deixado tudo, receberia, já neste mundo, o cêntuplo como recompensa, participaria dos bens comuns, e teria sempre alguém para acudi-lo, quando necessário. O seguimento gratuito acaba sendo recompensado. Não segundo os esquemas mundanos de acumulação de bens, mas conforme o esquema de partilha, característico do Reino. – Espírito de gratuidade, que eu saiba reconhecer, nos bens partilhados comigo pelos irmãos e irmãs de fé, a recompensa que o Senhor preparou para mim (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 03 de março de 2025

(Eclo 17,20-28; Sl 32/31; Mc 10,17-27) 8ª Semana do Tempo Comum.

“Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele disse de novo:

‘Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus!’” Mc 10,24.

“Apesar dos discípulos não serem ricos, ficam assustados com a afirmação de que os que têm riquezas dificilmente entrarão no Reino de Deus. Jesus reage à perplexidade deles com uma provocação ainda maior: ‘É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus’ (10,25). Com essa afirmação chocante, Jesus não pretende condenar a riqueza em si, porque esta não é um mal em si. Ela também vem de Deus. Deus é rico e nos deixa participar de sua riqueza divina. Mas a riqueza traz em si o risco de nos identificarmos com ela e nos escondermos atrás dela. Nesse caso, os bens só servem para reforçar nossa máscara. Ela nos impede de chegar a nosso verdadeiro eu. Podemos compensar nossa falta de autoestima acumulando o maior número possível de bens. Nesse caso, o desenvolvimento de nosso eu fica estagnado. Em vez de progredirmos em nosso caminho, ficamos interiormente paralisados. As posses podem nos deixar possessos, aí passamos a ser dominados pela ganância: queremos possuir cada vez mais. Nunca estamos satisfeitos. Quem se deixa dominar a tal ponto pela riqueza é incapaz de chegar ao Reino de Deus, porque se nega a aceitar o domínio de Deus. Prefere servir a um outro senhor. Como os discípulos se mostrassem espantados com a posição radical de Jesus em relação à riqueza, este lhes indica um caminho alternativo: ‘Para os homens, é impossível, mas para Deus, não, pois a Deus tudo é possível’ (10,27). Deus pode tocar até o coração dos ricos, para que eles se abram ao Reino de Deus. Mesmo aquele que está agarrado a seus bens pode vir a libertar-se de repente desse empecilho por força de alguma experiência aflitiva. Num átimo, ele se dá conta de que existem outros valores, de que o objetivo de sua vida não está na riqueza e sim na entrada no Reino de Deus, em ser rico diante de Deus, em ser regido e plasmado por Deus” (Anselm Grün – Jesus, mestre da salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

8º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Eclo 27,5-8; Sl 91[92]; 1Cor 15,54-58; Lc 6,39-45) *

1. O Evangelho de hoje nos dá instruções sobre o reto uso de duas das mais nobres faculdades: o olhar e o falar. Da 1ª nos diz: “Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão?”; e da 2ª se diz: “A boca fala do que o coração está cheio”.

2. O Olho é verdadeiramente a lâmpada, ou a luz, o ‘espelho’ da alma. As emoções mais intensas, as paixões mais violentas, as alegrias e as perturbações mais profundas, aquilo que não pode ser traduzido em palavras vem comunicado com os olhos.

3. Muitas coisas mudaram ao longo dos séculos, mas não mudou o alfabeto dos olhos: sorriso, lágrima, medo, espanto, confiança. Mas quantos são verdadeiramente os olhos que funcionam... como olhos? Somente as pessoas psicologicamente maduras sabem usar bem os seus olhos.

4. Jesus é nisso também um modelo insuperável. Sobre todas as coisas lança um olhar amorável e atento. Nos Evangelhos, através dos seus olhos podemos ver, como num filme, o mundo que o circunda. Seu olhar faz viver ou reviver ou chorar. Seus olhos também conheceram as lágrimas.

5. E assim, dentro desse breve quadro podemos entender melhor o que diz o nosso evangelho acerca de algumas disfunções do nosso olhar. A ciência olha o fundo do olho para identificar doenças. Jesus olha os olhos do coração para identificar umas tantas coisas.

6. Ele nos pede o cuidado de não nos deixar guiar por ‘guias cegos’, ou seja, dos que não se deixam guiar pela luz palavra de Deus, mas só pela prudência, ou pior, pela astúcia humana. Lucas se dirige aqui aos que estão à frente da comunidade e aos falsos profetas da comunidade de seu tempo.

7. Mas Jesus faz também uma advertência a todos. Espiritualmente falando, o defeito da vista mais frequente não é a miopia, mas a presbiopia. Miopia é ver bem de perto e mau ao que está distante; a presbiopia, ao contrário, vê bem o que está distante, mas mau o que está perto.

8. Aquele que vê o cisco no olho do irmão, não vê a trave que está no seu. É um que vê distante, mas não vê próximo. Jesus denuncia aqui uma tendência inata ao ser humano que os moralistas antigos ilustravam com a fábula dos dois alforjes de La Fontaine: “Assim são os homens em seu caminhar, é como se eles tivessem colocados dois alforjes: no peito, o alforje com os males alheios; e nas costas, o alforje com os próprios males, de tal modo que eles são cegos com relação aos próprios defeitos, mas enxergam com nitidez os defeitos dos outros”.

9. Temos olhos de lince, nota o autor, nos damos conta dos defeitos do próximo e somos cegos com relação aos nossos. Deveríamos inverter os alforjes. Mas nos lábios de Cristo esse ensinamento assume uma motivação mais profunda.

10. Se tivéssemos em nós um pouco mais de amor e de compaixão, não nos ocuparíamos tanto de olhar o pecado do outro e de condená-lo. Um pouco do que dissemos no domingo anterior quanto ao julgar as ações do outro. Quem tem um pé doente, chagado, certamente não o despreza, nem pede para amputá-lo, mas fará de tudo para salvá-lo, mesmo que esteja próximo da gangrena.

11. “Somos um só corpo e membros uns dos outros” nos lembra Paulo. E isso não exclui a correção a ser feita, só se diz que, antes devemos retirar a trave do nosso olhar. A trave do desprezo, da superioridade. Que não nos mova a ira ou o ressentimento, mas o desejo do bem ao irmão e à própria comunidade ou sociedade.

12. Por fim, lembremos que de cada ação nossa se pode dizer que o fruto é bom ou ruim. Mas no terreno das palavras, daquilo que sai da nossa boca, Jesus ensina a julgar o homem pelas palavras que diz, mas também o julgar as palavras daquele que as diz; ensina a julgar a árvore pelos frutos, mas também os frutos pela árvore.

13. Quando fala de frutos, Jesus não entende só as palavras, mas mais globalmente, todo o modo de comportar-se e de viver. As palavras podem enganar quem não conhece a pessoa, mas não quem convive com ela.

14. Mas Jesus adverte sobre aquilo que está em nosso coração, quando alguém observa o nosso falar, por onde caminha o nosso discurso, aquilo que está em nosso coração naquele momento, que nos perturba ou nos alegra.

15. Tudo isso não são meras observações psicológicas, mas devem servir de critério para julgar a nós mesmos. Aquilo que percebemos quando falamos de alguém, nossa crítica ou sutil ambiguidade, que nos leva a questionar se há amor em nosso coração por aquela pessoa ou tão somente desprezo, ressentimento, inveja.

16. Paulo nos adverte das palavras ‘más’, que saem de nossa boca e nos convida a termos palavras ‘boas’, como essas que Deus dirige a nós. Que edifiquem, que encorajem. Como reza a aclamação ao nosso Evangelho de hoje sobre o nosso testemunho cristão. 

* Com base em texto de Raniero Cantalamessa. 

Pe. João Bosco Vieira Leite