(Js 5,9-12; Sl 33[34]; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32) *
1.
Este Evangelho que escutamos é uma janela sublime e sempre aberta com vista
direta para o coração de Deus, exposto, narrado, contado por Jesus. O narrador
prepara cuidadosamente o cenário, dizendo que os publicanos e pecadores se
aproximavam de Jesus para O escutar.
2.
É um claro contraponto com os escribas e fariseus que estavam lá não para O
escutar, mas para criticar o fato de Jesus acolher os pecadores e comer com
eles. Eles achavam que os pecadores eram merecedores de castigo severo e não da
misericórdia, pois eram amplamente devedores a Deus, e não credores como se
achavam os fariseus.
3.
Sabemos que neste capítulo 15 são contadas 3 parábolas, mas o narrador a
introduz como uma única parábola. Contada para nós, se nos contarmos entre os
escribas e fariseus. Mas se nos colocarmos ao lado dos pecadores, sendo a
ovelha, a moeda ou filho mais novo, a parábola não nos dirá muito.
4.
É o terceiro quadro dessa narrativa que está sendo exposto esse domingo.
Mostra-nos um Pai maravilhoso com dois filhos que parecem diferentes. Quando na
Bíblia dois retratos parecem diferentes, a chave de compreensão reside naquilo
que são iguais.
5.
É estranho que o Filho mais novo peça sua parte da herança, pois ao pedir a
herança ele mata o Pai e morre como filho! Em boa verdade, ele não quer mais
ter Pai e não quer mais ser filho. Segue-se sua aventura e desventura. O cair
em si e a decisão de voltar. Ele não quer voltar como filho, mas como
assalariado. Quer um patrão e não a graça do amor do seu Pai.
6.
A cena do retorno torna-se uma surpresa de encher os olhos. Quando regressamos
a Deus, nunca encontramos um Pai distraído ou ausente, ou que responde de forma
brusca e fria. O discurso do filho é dito duas vezes e não uma terceira, pois o
Pai o interrompe.
7.
Lhe é devolvida a roupa de antes, de filho. E como nas parábolas anteriores, é
preciso fazer festa. E tudo indica que era dia de semana, pois o filho mais
velho estava no campo e acabava de chegar. Esse Pai não escolhe dia para fazer
festa. E assim sai também ao encontro do mais velho, para que venha festejar.
8.
A reação do mais velho é parecida com a dos escribas e fariseus sobre a relação
de Jesus com os pecadores, revelando seu coração. Ele é um puro fariseu, que
sempre cumpriu as ordens do Pai, achando-se credor e não devedor face ao seu
Pai, face a Deus!
9.
O que assemelha estes dois filhos, que parecem diferentes, é que ambos se
sentem assalariados (e não filhos) e ambos olham para o Pai como um patrão. É
também interessante notar que os dois filhos deste quadro falam ao Pai, ao seu
Pai comum, como fazemos nós. Mas em nenhum momento da história se falam um ao
outro.
10.
Será que se parecem conosco? Sim, às vezes, nós também só sabemos falar por
trás, entre raivas acumuladas e insultos! Mas entramos sem problemas de
consciência na Igreja, e dizemos que rezamos!
11.
Todavia, o filho mais novo deixou-se mover pela compaixão do Pai. Estava morto
e voltou a viver, estava perdido e foi encontrado. Como a ovelha, como a moeda.
Sim, tanto podemos nos perder lá longe, no deserto, como podemos nos perder em
casa!
12.
Podemos, na verdade, andar perdidos em uma casa fria, sem Pai e sem irmãos, sem
mesa, sem aconchego, sem alegria, como o filho mais velho da parábola.
13.
Esta parábola foi contada por Jesus aos escribas e fariseus, ao filho mais
velho, a nós. E ficamos sem saber o final. O narrador não o diz, porque essa
decisão de entrar ou não, somos nós que a temos que tomar.
14.
Na estratégia narrativa, somos colocados ao lado dos escribas e fariseus e do
filho mais velho. A única posição correta que nos permite ser interpelados.
Então a decisão é nossa, é minha e tua: entramos ou recusarmos entrar na casa
do Pai, na misericórdia, na festa, na dança e na alegria.
* Com base em reflexão de D.
Antônio Couto (“Quando Ele nos abre as Escrituras”).
Pe.
João Bosco Vieira Leite