(Ex 3,1-8.13-15; Sl 102[103]; 1Cor 10,1-6.10.12; Lc 13,1-9) *
1.
Em nossa aclamação ao Evangelho deste domingo está o convite/lembrete à
conversão, pois o Reino de Deus está perto. O tema fundamental deste “tempo
forte” do ano litúrgico é justamente o convite à conversão. Conversão da nossa
vida e a conceber obras dignas de penitência.
2.
Jesus, como ouvimos, recorda dois episódios acontecidos por aqueles tempos: uma
repressão brutal da polícia romana dentro do Templo e a tragédia dos dezoitos
mortos devida ao desabamento da torre de Siloé.
3.
O povo interpreta estes acontecimentos como uma punição divina pelos pecados
daquelas vítimas e, considerando-se justo, pensa que não está sujeito a estes
desastres, acreditando que nada tem para converter na própria vida.
4.
Mas Jesus denuncia esta atitude como uma ilusão. E convida a refletir sobre
aqueles fatos, para um maior compromisso no caminho de conversão, porque é
precisamente o fechamento ao Senhor, o não percorrer o caminho da conversão de
si mesmos, que leva à morte, à morte da alma.
5.
Na Quaresma, cada um de nós é convidado por Deus a fazer uma mudança na própria
existência pensando e vivendo segundo o Evangelho, corrigindo algo no próprio
modo de rezar, de agir, de trabalhar e nas relações com os outros.
6.
Jesus dirige-nos este apelo não com uma severidade finalizada em si mesma, mas
precisamente porque se preocupa com o nosso bem, com a nossa felicidade e
salvação. Por nosso lado, devemos responder-lhe com um sincero esforço
interior, pedindo-lhe que nos faça compreender sobretudo em que pontos nos
devemos converter.
7.
A conclusão do trecho evangélico retoma a perspectiva da misericórdia,
mostrando a necessidade e a urgência de voltar para Deus, de renovar a vida
segundo Deus.
8.
Referindo-se a um costume do seu tempo, Jesus apresenta a parábola de uma
figueira plantada numa vinha; esta figueira, contudo, é estéril, não dá frutos.
O diálogo que se desenvolve entre o dono e o vinhateiro, manifesta, por um lado
a misericórdia de Deus, que é paciente e deixa, a todos nós, um tempo para a
conversão;
9.
E, por outro, a necessidade de iniciar imediatamente a mudança interior e
exterior da vida para não perder as ocasiões que a misericórdia de Deus nos
oferece para superar a nossa preguiça espiritual e corresponder ao amor de Deus
com o nosso amor filial.
10.
Também São Paulo, no trecho que ouvimos, nos exorta a não nos iludirmos: não é
suficiente ter sido batizado e ser alimentado na mesa eucarística, se não
vivermos como cristãos e não estivermos atentos aos sinais do Senhor. É Cristo
que passa...
11.
O tempo da Quaresma nos convida a reconhecer o Mistério de Deus, que se torna
presente na nossa vida, como ouvimos na 1ª leitura, nessa experiência de
Moisés, onde Deus o envia de volta para o Egito afim de libertar e conduzir seu
povo à Terra Prometida.
12.
Deus manifesta seu nome a Moisés, criando assim a possibilidade da invocação,
da chamada, da relação. Isto significa que ele se entrega, de qualquer modo, ao
nosso mundo humano, tornando-se acessível, quase um de nós. Enfrenta o risco da
relação, de estar conosco.
13.
E estará conosco sempre e em seu Filho, com a força de sua palavra que arde em
nós, sem se consumir e sem nos consumir, num apelo contínuo à conversão e
libertação nessa travessia contínua, deserto à fora, até descansarmos em seu
amor. Só não demoremos demais...
* Com base em texto de
Bento XVI.
Pe.
João Bosco Vieira Leite