(Is 1,10.16-20; Sl 49[50]; Mt 23,1-12) 2ª Semana da Quaresma.
“Não deixeis que vos chamem de
guias, pois um só é o vosso Guia, Cristo” Mt
23,10.
“No Evangelho da missa de hoje,
o Senhor descreve na sua crua realidade como os escribas e os fariseus ‘se
sentaram na cátedra de Moisés’ e, preocupados somente consigo próprio,
abandonaram os que lhes haviam sido confiados, as pessoas simples que andavam
‘maltratadas e abatidas como ovelhas sem pastor’ (Mt 9,36). Só lhes
interessavam os primeiros lugares nos banquetes, os seus filactérios e as suas
franjas, os cumprimentos nas praças e que os chamassem de mestres (cf. Mt
23,1-12). Haviam sido constituídos como ‘sal e luz’ do povo de Israel, e tinham
deixado o povo sem sal e sem luz. Eles próprios estavam às escuras. Tinham
trocado a glória de Deus pela sua própria glória: ‘Fazem todas as suas obras
para serem vistos pelos homens’. A soberba pessoal e a busca da vanglória
tinham feito com que perdessem a humildade e o espírito de serviço que
caracteriza os que desejam seguir o Senhor. Cristo previne os discípulos: ‘Vós,
porém, não vos façais chamar mestres... O maior dentre vós seja vosso servo’
(cf. Mt 23,8-11). E Ele mesmo mostrou constantemente o caminho: ‘Pois quem é o
maior: aquele que está sentado à mesa ou aquele que serve? Não é aquele que
está sentado à mesa? No entanto, eu estou no meio de vós como aquele que serve’
(Lc 22,27). Sem humildade e espírito de serviço, não é possível viver a
caridade. Sem humildade, não há santidade, pois Jesus não quer ao seu serviço
amigo de peito inchado: ‘Os instrumentos de Deus são sempre humildes’ (São João
Crisóstomo). Na ação apostólica e nos pequenos serviços que prestamos aos
outros, não há lugar nem motivo algum para a autocomplacência ou para a
altanaria, pois quem verdadeiramente faz as coisas é o Senhor. Sem a graça, de
nada serviriam os maiores esforços: ‘Ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’
senão sob a ação do Espírito Santo’ (1Cor 12,13). Somente a graça pode
potenciar os nossos talentos e levar-nos a realizar obras que estão claramente
acima das nossas possibilidades. E Deus ‘resiste aos soberbos e dá sua graça
aos humildes’ (Tg 4,6). Devemos estar vigilantes, porque a pior ambição é a de
procurarmos a nossa excelência, como fizeram os escribas e os fariseus; a de
nos procuramos a nós mesmos nas coisas que fazemos ou projetamos. ‘Arremete (a
soberba) por todos os flancos, e o seu vencedor encontra-a em tudo que o
circunda’ (Cassiano). Se não formos humildes, podemos desgraçar a vida dos que
nos rodeiam, porque a soberba infecciona tudo. Onde há um soberbo, tudo acaba
por ser vítima da sua autossuficiência: a família, os amigos, o lugar de
trabalho... O soberbo exigirá que o tratem com atenções especiais, porque se
julga diferente, e será necessário tomar muito cuidado para evitar ferir a sua
suscetibilidade... a sua atitude dogmática nas conversas, as suas intervenções
irônicas – não interessa que os outros fiquem mal, desde que ele fique bem –, a
sua tendência para cortar conversas que surgiram naturalmente etc., são
manifestações de algo mais profundo: um grande egoísmo que se apodera das
pessoas quando situam o horizonte da vida em si mesmas. Estes momentos de
oração podem servir-nos para examinar na presença do Senhor como é nosso
relacionamento com os outros e se está repleto de um humilde espírito de
serviço” (Francisco Fernandez-Carvajal – Falar
com Deus – Vol. 6 – Quadrante).