(2Rs 5,9-14; Sl 31[32]; 1Cor 10,31—11,1; Mc 1,40-45)
1. Na 1ª
leitura e no evangelho temos uma palavra que suscitou, por milênios, angústia e
medo: lepra! Ela foi responsável por isolamentos desumanos por ser considerada
contagiosa e como uma punição pelo pecado, juntando sofrimento físico e moral
gerando juízo e desprezo da sociedade.
2. Raul
Follereau, morto em 1973, esteve à frente dessa mudança de cenário ao instituir
a jornada mundial dos leprosos, promovendo congressos científicos e conseguiu
revogar a legislação de segregação dos leprosos.
3. A
situação do leproso descrita no Antigo Testamento era bastante complicada,
sendo banido da convivência social e obrigado, ele mesmo, a advertir a sua
aproximação dos outros. Em meio a esse cenário, Jesus se apresenta sem temor do
contágio, aproximando-se e tocando o leproso. Sua compaixão é mais forte que o
medo.
4. Frases
breves, mas sublimes e divinas, nos revelam a fé do leproso na força de Cristo.
E Jesus demonstra poder fazer, fazendo. Implicitamente revela sua
transcendência divina.
5. Nesse
confronto entre a Lei de Moisés e o Evangelho sobre a lepra somos levados a
refletir sobre o nosso posicionamento diante das novas doenças incuráveis que a
nossa sociedade enfrenta e se defende, como se fazia com a lepra, ou mesmo o
triste espetáculo da dependência química que assistimos.
6. Há pouco
tempo houve uma reação da nossa comunidade local quando a prefeitura resolveu
construir o CREAS, julgando que seria algum centro de recuperação. E se fosse,
será que alguns entre nós não precisaria desse apoio?
7. Nós,
certamente, não podemos curar como fez Jesus, mas sempre podemos ‘estender a
mão’, ‘tocar’ esses irmãos em sua desventura. São infinitas as maneiras pelas
quais tocamos a dor do outro. E nos faz sentir-nos humanos, como os outros.
8. O gesto
primeiro a ser feito é vencer a nós mesmos em nosso egoísmo. Talvez já tenhamos
ouvido falar do célebre passo em que Francisco de Assis, em seu temor pela
lepra e iniciando a sua nova vida se vê diante de um leproso e se recordando da
atitude de Cristo, ele desce do cavalo e vai abraçá-lo. Superado seu medo passa
a visita-los.
9. Tudo
isso serve simbolicamente a situar-nos em nosso confronto com a doença física e
suas consequências. Mas o episódio nos serve também de leitura sobre a dimensão
do pecado, simbolizado pela lepra. A Lei de Moisés não curava do pecado, não
conferia a vida. Se limitava a trazer à luz as transgressões. Quem era justo ou
pecador.
10. A graça
de Cristo liberta do pecado, dá vida. Essa cura do leproso se torna a ocasião
para tomar consciência da cura maior que Cristo realiza. Não uma única vez, mas
cada vez que nos ajoelhamos diante dele.
11. Para
fazer essa experiência é preciso superar não só a própria resistência, mas
também o respeito humano diante de uma cultura e sociedade que nega o pecado ou
ao menos se acostumou demasiadamente com essa realidade. O leproso do Evangelho
obtém a graça porque deixa de se esconder e se coloca diante de Jesus com todo
o seu mal. Naamã obteve a cura porque foi em busca de ajuda.
12. Estamos
nos aproximando do tempo quaresmal como preparação para a Páscoa. Ressoa de
novo o convite a revermos o nosso caminhar ou quão distante fomos parar. Ou
simplesmente como diz o canto: “Dizei aos cativos: saí! Aos que estão nas
trevas: vinde à luz! Caminhemos para as fontes, é o Senhor que nos
conduz”.
Pe. João
Bosco Vieira Leite