(Jó 7,1-4.6-7; Sl 146[147]; 1Cor 9,16-19.22-23; Mc 1,29-39)*
1. Nesse evangelho que
escutamos, Marcos nos traz um resumo de um dia típico na vida de Jesus. Se
estamos lembrados, o nosso autor recolhe das recordações de Pedro o que nos
transmite, da sua própria casa. Assim, deduzimos que a jornada de Jesus
consistia num entrelaçado de cura dos enfermos, oração e pregação do Reino.
2. Nossa reflexão vai na linha
dessa atenção amorosa de Jesus para com os enfermos. Tem início nessa semana a
jornada mundial dos enfermos que culminará com a festa de N. Sra. de Lurdes no
próximo 11 de fevereiro. Cerca de 1/3 do Evangelho nos fala de Jesus curando.
Algo tão presente quando o anúncio do Reino.
3. Jesus se mostra verdadeiro
‘médico de alma e corpo’. A Igreja deu continuidade à Sua missão seja rezando
pelos enfermos e ungindo-os com o óleo dos enfermos; e de um modo material e
prático procurou criar hospitais, leprosários e várias instituições em favor
dos enfermos.
4. As transformações sociais do
nosso tempo mudaram profundamente as condições dos enfermos. A medicina evoluiu
e tornou-se capaz de curar um grande número de doenças que tempo atrás levavam
rapidamente à morte. Quando não é capaz de curar completamente, consegue
alongar a vida do enfermo.
5. Mas a doença, tanto quanto a
morte, não foi ainda e nem será jamais de toda debelada. Faz parte da condição
humana. Sobre essa realidade, a fé cristã busca dar um sentido e um valor em
duas linhas: para aquele que se encontra doente e para quem, em casa ou num
hospital, deve dar assistência a um enfermo.
6. Antes de Cristo, a
enfermidade era considerada estritamente conexa com o pecado. Seja num sentido
geral, ligado ao pecado da origem, seja num sentido imediato e pessoal. Com
Jesus, e a partir do mistério da cruz, dá-se um sentido novo à dor humana, incluindo
a enfermidade: não mais de punição, mas de redenção.
7. A enfermidade nos une a Ele,
santifica, refina a alma, prepara para o dia em que Deus enxugará toda lágrima,
e não haverá mais doença, pranto e dor. Depois de uma longa recuperação que se
seguiu ao atentado na Praça de São Pedro, o papa João Paulo II dizia: ‘Sofrer
significa tornar-se particularmente suscetível, particularmente sensível à obra
das forças salvíficas que Deus oferece à humanidade em Cristo’.
8. A enfermidade fez também
muitos santos. Santo Inácio se converte em seu leito de recuperação. A doença
nos obriga a parar, avaliar a própria existência, reencontrar a si mesmo e
aprender a distinguir as coisas que verdadeiramente contam.
9. É lícito, em caso de doença,
rezar pela própria cura. E Deus poderá dar a cura em resposta à oração, se for
para o nosso bem eterno. Noutras teremos que nos conformar com a vontade
divina, como o próprio Jesus no Getsêmani. O sofrimento faz do enfermo cristão
o membro mais ativo da Igreja, o mais precioso, pois suportando com paciência o
sofrimento, ele oferece algo que pode valer mais que toda atividade no mundo.
10. Penso que todos nós, de modo
direto ou indireto já tivemos que cuidar de alguém enfermo, sem falar daqueles
que estão a serviço dos enfermos como profissão ou como vocação. Muitos deles
geraram em nós profunda admiração pela sua dedicação sincera pela humanidade.
Nem sempre é assim, mas não devemos generalizar.
11. Todo doente tem necessidade
de cura, de competência científica, mas também precisa de esperança, quando é
possível fazer sem enganar o paciente. Ela é o oxigênio para o enfermo,
juntamente com o amor ou caridade que possamos transmitir.
12. Não deixar o enfermo na
solidão. Uma das obras de misericórdia é a visitar os doentes. E ainda mais
importante: rezar por ele. Muitos dos que foram curados no Evangelho foram
apresentados por outro a Jesus. Podemos rezar de modo simples, como Marta e
Maria: “Senhor, aquele que tu amas está doente!”.
13. Ofereçamos essa Eucaristia
por todos os doentes, pela cura, para que possam retomar as suas atividades,
que tenham o afeto dos seus familiares e amigos, e que assim encontrem um
motivo a mais para reconhecer a ação de Deus em sua vida e apreciá-la ainda
mais.
* Reflexão com base em texto de
Raniero Cantalamessa.
Pe. João Bosco Vieira Leite