(Is 42,1-4.6-7; Sl 28[29]; Mc 1,7-11) Batismo de Jesus.
“Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João
no rio Jordão” Mc 1,7-11.
“O início da atuação pública de
Jesus é seu batismo por João. Marcos menciona apenas que Jesus vem de Nazaré da
Galileia para que João o batize. Fica difícil descobrir o fundo histórico desse
episódio. É provável que Jesus tenha tido algum contato com as comunidades
essênciais das quais João se originou. Fazia parte do círculo mais íntimo dos
discípulos de João. Esse fato causou algum constrangimento na Igreja primitiva,
porque dava a impressão de que João estava acima de Jesus por tê-lo batizado.
Mas para Marcos esse batismo se transforma, pela intervenção de Deus, em
demonstração do verdadeiro ser de Jesus. Por ocasião do batismo, Jesus se dá
conta da sua vocação pessoal. ‘No momento em que ele subia da água, viu os céus
rasgarem-se e o Espírito como uma pomba descer sobre si. E dos céus veio uma
voz: ‘Tu és o meu Filho bem-amado, aprouve-me escolher-te’ (1,10s). A vocação
especial de Jesus fica visível e audível. O céu se abre, para que o Espírito
Santo possa descer. É uma das aspirações mais genuínas de Israel: que Deus rasgue,
finalmente, os céus, para mandar à terra seu Espírito que haverá de salvar os
homens. O Espírito desce pairando como uma pomba. Isso não significa que ele
assumiu a forma de uma pomba, como se vê em muitas pinturas. Na verdade, Marcos
quer aludir ao Espírito que parava sobre as águas na criação do mundo. Em
Jesus, Deus cria um mundo novo. É um novo início. O ser humano ganha a figura
que Deus imaginara originalmente. Ele é criado à imagem de Deus. Essa imagem se
torna visível a todos nós no batismo de Jesus. Jesus é o homem como Deus o
tinha criado no início, o bem-amado de Deus. Ele não desperdiçou a benevolência
de Deus como o fizera Adão, que se afastou de Deus pelo pecado. No episódio de
Noé, a pomba é uma pomba da paz que anuncia a conciliação entre Deus e os
homens. Entre os gregos, a pomba é consagrada à deusa Afrodite. Ela simboliza o
amor de Deus que desce ao ser humano. Jesus é o Filho bem-amado de Deus. Sua
relação com Deus, seu Pai, é carinhosa. E Deus se apraz dele. Trata-se de um
aprazimento mútuo. Descrevendo o batismo de Jesus, Marcos nos ensina qual é a
imagem que devemos ter desse Rabi de Nazaré: ele possui o dom do Espírito
Santo, está cheio da força divina. É na força desse Espírito e com o
beneplácito de Deus que ele realiza sua obra. Ele libertará o ser humano de
todas as forças que o impedem de ser verdadeiramente humano ou que atrapalham
seu caminho. Ele trará de volta a verdadeira figura humana que Deus, no início
da criação, lhe destinara. Com Jesus, Deus inicia a renovação da sua obra e a
reconstituição do verdadeiro ser do homem, para que esse seja capaz de
experimentar o amor que é a grande aspiração de seu coração. O que se aplica a
Jesus vale também para o cristão no batismo. O céu se abre sobre nós e podemos
ouvir a voz de Deus: ‘Tu és meu filho amado, tu és minha filha amada. Gosto de
ti, tu me agradas. É bom estares aqui’” (Anselm Grüm – Jesus, caminho para a liberdade –
Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite