3º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Jn 3,1-5.10; Sl 24[25]; 1Cor 7,29-31; Mc 1,14-20)

1. No domingo anterior, nossa ênfase esteve no discipulado; hoje a dinâmica do chamado persiste seja para Jonas, o profeta, seja para André e Pedro, Tiago e João. Mas quero me voltar para esse convite de Jesus que abre o seu ministério no Evangelho de Marcos: “Convertei-vos”.

2. Um convite para todos, mesmo para quem já é discípulo. Todos precisamos de conversão. E no sentido genuinamente evangélico, conversão não é um sinônimo de renúncia, esforço e tristeza, mas de liberdade e de alegria; não é um estado regressivo, mas progressivo.

3. Antes dessa dinâmica dada por Jesus, converter-se era um ‘voltar atrás’, ou seja, inverter a rota, retornar sobre os próprios passos. É como alguém que a certa altura da vida, se dá conta de estar ‘fora do caminho’ e então resolve parar, repensar, mudando de atitude em suas relações, particularmente com Deus. Pode ter um sentido moral ou mesmo religioso.

4. Para Jesus, trata-se de dar um passo adiante e entrar no Reino agarrando essa salvação que Deus oferece em sua livre e soberana inciativa. Não se trata de converter-se para ser salvo, converter-se porque a salvação já se faz presente. É essa alegre notícia que traz Jesus.  

5. Aqui a iniciativa é de Deus, como diz São Paulo: antes de sermos bons, Deus já nos amava. Nesse sentido o cristianismo se distingue das outras religiões: não começa pregando o dever, mas o dom, não começa com a lei, mas com a graça.

6. ‘Converter-se e crê’, na fala de Jesus, não significa duas coisas diversas e sucessivas, mas a mesma ação fundamental: converter-se é crê, converter-se crendo. A 1ª e fundamental conversão é a fé. É por essa porta que se entra no Reino e na salvação.

7. A ninguém é impossível crer porque Deus nos criou livres e inteligentes para tornar possível a ato de fé n’Ele. É no ato de fé que a razão humana realiza plenamente a si mesma; antes, se eleva acima de si mesma. Para muitos a fé pode significar um limite para a racionalidade.

8. Mas poderíamos perguntar-nos se a rejeição em crê não representa, sob outra perspectiva, um limite à própria razão. Pascal dizia que “o ato supremo que a razão pode cumprir é aquele de reconhecer que há infinitas coisas que a ultrapassam”. Mesma a ciência o admite em nossos dias.

9. A fé que aqui tratamos tem um caráter de ‘apropriação’, de tomar para si. Apossar-se desse Reino, antes mesmo de merecê-lo, como um ato de livre arbítrio. É ao mesmo tempo um ato de confiança e de entrega de quem sabe que Deus fará a seu tempo e do jeito que lhe apraz.

10. ‘Converter-se’ não é uma ameaça, algo que nos faz tristes e nos constringe a andar de cabeça baixa e por isso retardamos o máximo possível nossa decisão. Ao contrário, é uma oferta inacreditável, um convite à liberdade e à alegria. É boa notícia de Jesus aos homens e mulheres de todos os tempos.

Pe. João Bosco Vieira Leite