Quinta, 11 de janeiro de 2024

(1Sm 4,1-11; Sl 43[44; Mc 1,40-45) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: ‘Eu quero: fica curado!’” Mc 1,41.

“Jesus dá atenção ao doente, mas não se deixa simplesmente usar por ele. Ele o confronta com sua própria pessoa e com sua parte da doença. O primeiro passo da terapia de Jesus é compaixão. A palavra grega ‘splanchnistheis’ significa originalmente: ele ficou comovido em suas entranhas. Para os gregos, as entranhas eram a sede dos sentimentos vulneráveis. Jesus deixa o doente entrar em seu íntimo.  Ele sente com ele, com sua amargura, com seu desespero, com seu ódio contra si mesmo. Num segundo passo da cura, Jesus lhe estende as mãos: oferece um relacionamento ao leproso, quer entrar em contato com ele, quer um intercâmbio com ele. E então ele toca no doente. Se a pessoa não consegue aceitar-se nem a si mesma, temos muita dificuldade de aceitá-la, pois muitas vezes estamos com medo de tocar no caos interior do outro, de sujar as mãos, porque tememos que toda essa imundície da amargura e ódio contra si próprio seja despejada sobre nós. Jesus não conhece esse medo do contato. Ele sabe que sua pessoa não pode ficar impura, que seu íntimo é cristalino e puro. O contato físico significa: eu te aceito como és. Quem toca se mistura. Os sentimentos de Jesus se misturam com os do doente. Jesus faz fluir a sua clareza interior para dentro do doente. Então diz a ele: ‘Eu quero, sê purificado’ (1,41). Para mim, isto quer dizer: ‘Estou a teu lado. Eu te aceito. Mas também deves dizer sim a ti mesmo, deves aceitar-te. É necessário que tu também cumpras tua parte na cura. Deves dizer sim a ti mesmo e à vida’. No mesmo instante, a lepra desaparece. O doente pode aceitar-se. Ele se sente puro, em harmonia consigo mesmo. Mas uma coisa ainda está faltando ao curado. Ainda não está inteiramente autônomo. Não para de contar aos outros a história de sua cura. Com isso ele coloca a si mesmo no centro. Ele não consegue aceitar-se como ele realmente é, só como alguém especial que se coloca acima dos outros. Ele confunde a aceitação com dependência. Falando a todos a respeito de Jesus. Ele não se desprende dele” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite