(1Sm 1,9-20; Sl 1Sm 2; Mc 1,21-28) 1ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus o
intimou: ‘Cala-te e sai dele!’” Mc 1,25.
“Jesus repreende severamente o
espírito impuro: ‘Cala-te e sai deste homem!’ Ele distingue entre a pessoa e o
demônio que o domina. Não há como ter complacência com o demônio. É necessário
expulsá-lo com o seu poder. Assim ele manda calarem-se as vozes interiores que
dilaceram o ser humano. Não há como enfrenta-las com argumentos. Elas repetem
suas palavras como uma maritaca, de modo que nenhum argumento consegue
derrubá-los. Nesse caso faz-se necessária a clareza de Jesus e seu poder, para
livrar o ser humano de suas vozes que o escravizam. O espírito impuro sente o
poder de Jesus, mas ele não se retira sem luta. Ele lança o homem de um lado
para o outro, até finalmente abandoná-lo com um grande grito. Assim revela seu
verdadeiro caráter. Ele gostaria de dilacerar o homem, ele é barulhento. Ele
impede o ser humano de encontrar-se consigo mesmo no silêncio. Ao mesmo tempo,
a reação do demônio indica o poder pleno de Jesus. Ele não consegue esquivar-se
de sua palavra. O homem está entre o poder do demônio e a plenipotência de
Jesus. Ele vacila entre o pressentimento de que aquilo que Jesus fala de Deus
está correto e o apego às antigas imagens de Deus, à construção que ele fez de
sua vida. Jesus fala de Deus de uma maneira que exige uma decisão do ser
humano. Já não é possível esquivar-se de Deus. Por isso, o homem se solta de
seu demônio com um grande grito. Nessa passagem já ressoa de longe o grito com
que Jesus há de morrer na cruz, o grito que anunciará a vitória definitiva
sobre os demônios. Os ouvintes recebem os ensinamentos de Jesus como uma
novidade. Ele fala de Deus de uma maneira nova, vigorosa, que reanima e cura.
Ele fala com plenipotência. Jesus não interpreta a lei à maneira dos fariseus,
em suas palavras sente-se a presença do poder de Deus. Ele não fala sobre Deus,
em suas palavras reluz o poder do próprio Deus. Suas palavras provocam uma
reação no ser humano. Elas o libertam para ele poder ser ele próprio. Como
aquilo que Jesus diz do ser humano e de Deus é correto, já não sobra lugar para
as imagens débeis de Deus e de si mesmo. Elas têm de ceder. Mesmo que seja sob
protestos. Assim revelam seu verdadeiro ser, sua intenção destruidora e hostil
ao ser humano. Elas sacodem o homem. Elas o arrancam de seu centro e o dominam.
Por isso precisa vir alguém que tem um poder como o de Jesus, para expulsá-las
da lama humana. Só assim o ser humano pode erguer-se e encontra a si próprio” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a
Liberdade – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite