Terça, 09 de janeiro de 2024

 

(1Sm 1,9-20; Sl 1Sm 2; Mc 1,21-28) 1ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus o intimou: ‘Cala-te e sai dele!’” Mc 1,25.

“Jesus repreende severamente o espírito impuro: ‘Cala-te e sai deste homem!’ Ele distingue entre a pessoa e o demônio que o domina. Não há como ter complacência com o demônio. É necessário expulsá-lo com o seu poder. Assim ele manda calarem-se as vozes interiores que dilaceram o ser humano. Não há como enfrenta-las com argumentos. Elas repetem suas palavras como uma maritaca, de modo que nenhum argumento consegue derrubá-los. Nesse caso faz-se necessária a clareza de Jesus e seu poder, para livrar o ser humano de suas vozes que o escravizam. O espírito impuro sente o poder de Jesus, mas ele não se retira sem luta. Ele lança o homem de um lado para o outro, até finalmente abandoná-lo com um grande grito. Assim revela seu verdadeiro caráter. Ele gostaria de dilacerar o homem, ele é barulhento. Ele impede o ser humano de encontrar-se consigo mesmo no silêncio. Ao mesmo tempo, a reação do demônio indica o poder pleno de Jesus. Ele não consegue esquivar-se de sua palavra. O homem está entre o poder do demônio e a plenipotência de Jesus. Ele vacila entre o pressentimento de que aquilo que Jesus fala de Deus está correto e o apego às antigas imagens de Deus, à construção que ele fez de sua vida. Jesus fala de Deus de uma maneira que exige uma decisão do ser humano. Já não é possível esquivar-se de Deus. Por isso, o homem se solta de seu demônio com um grande grito. Nessa passagem já ressoa de longe o grito com que Jesus há de morrer na cruz, o grito que anunciará a vitória definitiva sobre os demônios. Os ouvintes recebem os ensinamentos de Jesus como uma novidade. Ele fala de Deus de uma maneira nova, vigorosa, que reanima e cura. Ele fala com plenipotência. Jesus não interpreta a lei à maneira dos fariseus, em suas palavras sente-se a presença do poder de Deus. Ele não fala sobre Deus, em suas palavras reluz o poder do próprio Deus. Suas palavras provocam uma reação no ser humano. Elas o libertam para ele poder ser ele próprio. Como aquilo que Jesus diz do ser humano e de Deus é correto, já não sobra lugar para as imagens débeis de Deus e de si mesmo. Elas têm de ceder. Mesmo que seja sob protestos. Assim revelam seu verdadeiro ser, sua intenção destruidora e hostil ao ser humano. Elas sacodem o homem. Elas o arrancam de seu centro e o dominam. Por isso precisa vir alguém que tem um poder como o de Jesus, para expulsá-las da lama humana. Só assim o ser humano pode erguer-se e encontra a si próprio” (Anselm Grün – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite