2º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(1Sm 3,3b-10.19; Sl 39[40]; 1Cor 6,13c-15a.17-20; Jo 1,35-42)

1. Esse breve evangelho que acabamos de ouvir parece destituído de certa importância para nós, pois trata do chamado dos primeiros seguidores de Jesus.  No entanto, está aqui algo que nos diz respeito. Começa a se delinear aquilo que passamos a chamar: discípulos de Cristo. Diferentemente do chamado de Samuel.

2. Trata-se de uma descoberta ou de um conhecimento que se vai fazendo ao longo do caminho: ‘Cordeiro de Deus’, ‘Mestre’, ‘Messias’. Mas há algo que o texto deixa evidente aqui e em sua continuidade: comunicar o que descobrimos com essa convivência ao longo do caminho.

3. Os discípulos multiplicam aos discípulos. Partilham sua descoberta com os outros. Tomam atitudes que chegam a ser radicais, deixando tudo para segui-Lo.  Assim, vemos ao longo dos evangelhos que eles serão identificados com o título de ‘discípulos de Jesus de Nazaré’. Como uma nova filiação, profissão cada vez mais perigosa e comprometedora.

4. Depois da morte e ressurreição de Jesus, a Igreja nascente identificou o discipulado mais perfeito naqueles que davam a vida pelo evangelho e que se identificavam particularmente com o Mestre. Passada a era das perseguições, o discipulado encontrou a sua expressão forte nos vários modos de viver a vida cristã dentro e fora da Igreja.

5. Em síntese, ser discípulo é primeiramente ‘imitar a Cristo’, que implica uma leitura atenta dos evangelhos associada ao desejo de também fazer a vontade de Deus.

6. O segundo passo é expressar em nosso viver a fé que carregamos em nosso falar e em nosso agir. E são aos de casa que primeiro se comunica plenamente o nosso discipulado. Somos testemunhas enquanto imitadores.

7. Paulo, pensando em Cristo, recomenda aos discípulos suscitados em Corinto, que o seu testemunho seja um domínio de si e do respeito do reto uso da vida sexual.

8. Paulo associa ao espírito daquele que se torna discípulo, o corpo, não só como templo de Deus, mas expressão concreta da fé que não o faz um mero instrumento de prazer em si mesmo.

9. Ao retomarmos nossa caminhada no seguimento de Jesus, a liturgia nos propõe reacender essa consciência de uma pertença: somos discípulos de Jesus.

10. Assim, cada vez que ouvirmos proclamar: ‘disse Jesus aos seus discípulos’, despertemos os ouvidos e o coração, pois estamos sendo chamados pelo nome, fala-se de mim e a mim.

11. Como no passado, os novos tempos podem fazer dos cristãos pessoas a serem boicotadas, marcadas a dedo ou olhados como pessoas de psicologia doentia.

12. Aquele mesmo processo enfrentado por Jesus diante do sinédrio perdura em todos os tempos. E se formos interrogados a respeito de quem somos discípulos, pode acontecer de O negarmos.

13. Como no passado, também não estamos sozinhos. O próprio Jesus é nossa companhia até o fim dos tempos, e também os irmãos que descobrimos ao longo do caminho.

14. Mais do que palavras, nossas atitudes e nosso modo de viver definem quem somos. E como dizia Santo Inácio: ‘É melhor ser cristãos sem dizê-lo do que dizer sem sê-lo’. Que espécie de discípulo sou eu?

Pe. João Bosco Vieira Leite