(Ap 7,2-4.9-14; Sl 23[24]; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12)
1. A Igreja busca reunir em uma
única celebração todos os santos e santas que estão para além do nosso
calendário litúrgico. Somos convidados a contemplar, nos diz a 1ª leitura, ‘uma
multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, que
ninguém podia contar”.
2. Mas a intenção da Igreja não
se resume num simples celebrar ou pedir a intercessão deles. Mas recordarmos o
chamado universal de todos os cristãos à santidade. Nos lembra Pedro em sua 1ª
Carta: “assim como é santo aquele que vos chamou, também vós tornai-vos santos
em toda vossa conduta. Porque está escrito: Sede santos, porque eu sou
santo...” (1,15-16).
3. Esse apelo ressoa ao longo
das Escrituras, está nos documentos da Igreja, na atual palavra do Papa
Francisco em seu documento “Alegrai-vos e exultai”. O papa nos ajuda a perceber
essa dinâmica da santidade a partir do nosso cotidiano. Nós diz ele:
4. “Pertencendo à família divina e entendendo-nos
como frutos do amor ilimitado da Trindade, nascidos do amor de Deus e
predestinados ao amor, recebemos a missão de comunicar esse amor aos demais
homens e mulheres pelo testemunho, através do próprio modo de viver, através do
amor e da caridade. A santidade não é nada mais do que a ‘caridade plenamente
vivida’ (n. 21)”.
5. E essa
característica pode ser percebida na relação com a família, no posicionamento
frente aos desafios que nos cercam, na compaixão com o próximo, nas iniciativas
que semeiam a paz, entre outras possibilidades.
6. Então afastemos esse temor
que essa vocação pode nos causar. A santidade de alguns pode ter sido
acompanhada de fenômenos extraordinários, mas a santidade não se identifica com
isso. Se todos somos chamados à santidade, entendamos corretamente: ela é acessível
a todos e faz parte da normalidade da vida cristã.
7. “Santo, santo, santo”,
cantamos repetindo o profeta Isaias. Deus é santo, porque é totalmente outro de
tudo que possamos pensar a seu respeito. No Antigo Testamento predomina a ideia
ritualística, onde a santidade de Deus são objetos, lugares, ritos, prescrições.
8. Mesmo no tempo de Jesus ainda
prevalecia a ideia de que a santidade e a justiça consistiam numa pureza ritual
e observância da Lei. Será Paulo, em seus escritos que nos fará ver que a
santidade não é mais um fato ritual ou legal, mas moral; não reside nas mãos,
mas no coração, não se decide fora, mas dentro do ser humano e se resume na
caridade.
9. No Evangelho de João, Jesus é
denominado como “o santo de Deus” (6,69). Entramos em contato com essa
santidade de Cristo primeiramente pela fé e pela vivência sacramental, como um
dom, uma graça que opera em nós.
10. Mas para além desse meio
fundamental, a santidade encontra lugar na imitação de Cristo, isto é, no
esforço pessoal e no bem que praticamos como consequência da nossa fé,
traduzida em atos. Quando Paulo nos diz que esse é o desejo de Deus: a vossa
santificação, é claro que entende esta santidade como fruto de um empenho
pessoal.
11. Este é o ideal de santidade
no Novo Testamento. Mas algo permanece imutável tanto no Antigo como no Novo:
‘Sede santos, porque Deus é santo’. Não como uma imposição, ou um peso a
carregar, mas como um privilégio, um dom, uma honra por sermos filhos de Deus.
12. O ser humano não é só aquilo
que é determinado pela sua natureza, mas também do que é chamado a ser no
exercício da liberdade, na obediência a Deus. Sim. Somos chamados a ser santos
por vocação, algo que deve realizar-se em nossa existência.
13. Madre Teresa de Calcutá foi
perguntada sobre que sensação provava ao ser aclamada como santa, ela responde:
“A santidade não é um luxo, é uma necessidade”. Pois bem, contemplando os
santos e santas como modelos, peçamos, como nos indica a liturgia de hoje, que
nos alcance a plenitude da misericórdia divina, e a trilharmos essa vocação.
Amém.
Pe. João Bosco Vieira Leite