Todos os Santos e Santas – 2023

(Ap 7,2-4.9-14; Sl 23[24]; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12)

1. A Igreja busca reunir em uma única celebração todos os santos e santas que estão para além do nosso calendário litúrgico. Somos convidados a contemplar, nos diz a 1ª leitura, ‘uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar”.

2. Mas a intenção da Igreja não se resume num simples celebrar ou pedir a intercessão deles. Mas recordarmos o chamado universal de todos os cristãos à santidade. Nos lembra Pedro em sua 1ª Carta: “assim como é santo aquele que vos chamou, também vós tornai-vos santos em toda vossa conduta. Porque está escrito: Sede santos, porque eu sou santo...” (1,15-16).

3. Esse apelo ressoa ao longo das Escrituras, está nos documentos da Igreja, na atual palavra do Papa Francisco em seu documento “Alegrai-vos e exultai”. O papa nos ajuda a perceber essa dinâmica da santidade a partir do nosso cotidiano. Nós diz ele:

4. “Pertencendo à família divina e entendendo-nos como frutos do amor ilimitado da Trindade, nascidos do amor de Deus e predestinados ao amor, recebemos a missão de comunicar esse amor aos demais homens e mulheres pelo testemunho, através do próprio modo de viver, através do amor e da caridade. A santidade não é nada mais do que a ‘caridade plenamente vivida’ (n. 21)”.

5. E essa característica pode ser percebida na relação com a família, no posicionamento frente aos desafios que nos cercam, na compaixão com o próximo, nas iniciativas que semeiam a paz, entre outras possibilidades.

6. Então afastemos esse temor que essa vocação pode nos causar. A santidade de alguns pode ter sido acompanhada de fenômenos extraordinários, mas a santidade não se identifica com isso. Se todos somos chamados à santidade, entendamos corretamente: ela é acessível a todos e faz parte da normalidade da vida cristã.

7. “Santo, santo, santo”, cantamos repetindo o profeta Isaias. Deus é santo, porque é totalmente outro de tudo que possamos pensar a seu respeito. No Antigo Testamento predomina a ideia ritualística, onde a santidade de Deus são objetos, lugares, ritos, prescrições.

8. Mesmo no tempo de Jesus ainda prevalecia a ideia de que a santidade e a justiça consistiam numa pureza ritual e observância da Lei. Será Paulo, em seus escritos que nos fará ver que a santidade não é mais um fato ritual ou legal, mas moral; não reside nas mãos, mas no coração, não se decide fora, mas dentro do ser humano e se resume na caridade.

9. No Evangelho de João, Jesus é denominado como “o santo de Deus” (6,69). Entramos em contato com essa santidade de Cristo primeiramente pela fé e pela vivência sacramental, como um dom, uma graça que opera em nós.

10. Mas para além desse meio fundamental, a santidade encontra lugar na imitação de Cristo, isto é, no esforço pessoal e no bem que praticamos como consequência da nossa fé, traduzida em atos. Quando Paulo nos diz que esse é o desejo de Deus: a vossa santificação, é claro que entende esta santidade como fruto de um empenho pessoal.

11. Este é o ideal de santidade no Novo Testamento. Mas algo permanece imutável tanto no Antigo como no Novo: ‘Sede santos, porque Deus é santo’. Não como uma imposição, ou um peso a carregar, mas como um privilégio, um dom, uma honra por sermos filhos de Deus.

12. O ser humano não é só aquilo que é determinado pela sua natureza, mas também do que é chamado a ser no exercício da liberdade, na obediência a Deus. Sim. Somos chamados a ser santos por vocação, algo que deve realizar-se em nossa existência.

13. Madre Teresa de Calcutá foi perguntada sobre que sensação provava ao ser aclamada como santa, ela responde: “A santidade não é um luxo, é uma necessidade”. Pois bem, contemplando os santos e santas como modelos, peçamos, como nos indica a liturgia de hoje, que nos alcance a plenitude da misericórdia divina, e a trilharmos essa vocação. Amém.  

Pe. João Bosco Vieira Leite